Homilia no XXI Domingo Comum A 2017
«Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus» (Mt 16,19).
Disse-o Jesus a Pedro, di-lo o Senhor à Igreja e a cada um dos seus batizados. Jesus confia a todos e a cada um as chaves do Reino dos Céus! Para quê? Digamo-lo em três pontos muito simples: para podermos entrar na relação com Cristo, para edificarmos a Sua Igreja, para sairmos em missão.
1.Na fé humilde, pobre e sincera, temos a chave da porta de entrada no mistério da pessoa de Jesus, a chave de acesso ao nosso encontro pessoal com Ele. Na verdade, “no princípio do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo” (DCE 1). E esta fé, enquanto experiência da alegria do encontro com Jesus, é sempre e verdadeiramente fonte de felicidade: «Feliz és tu, porque acreditaste» (Lc 1,45), proclama Isabel a respeito da fé de Maria. «Feliz és tu» (Mt 16, 17), exclama Jesus, a propósito da fé de Simão e do seu acolhimento humilde e generoso à revelação de Deus. «Grande é a tua fé», proclamava Jesus, a respeito da mulher pagã, que se dobrava e desdobrava diante d’Ele, animada por uma confiança ilimitada. Um dos sinais mais claros de uma fé autêntica é a alegria, é a felicidade, porque “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria” (EG 1). Quando não há alegria na vida cristã, é sinal de que a nossa fé está doente e precisa de ser curada pela redescoberta pessoal de Cristo.
2.Esta mesma alegria da fé, que brota do encontro pessoal com Cristo, é também a chave da nossa construção da Igreja. A nossa relação com Jesus constrói a Igreja. Para dar início à Sua Igreja, Jesus tem necessidade de encontrar nos Seus discípulos uma fé sólida, uma fé «confiável», assente sobre a rocha sólida da fé de Pedro e dos Apóstolos, para nos tornamos pedras vivas na construção desta Igreja, que tem Cristo como pedra angular (cf. At 4,11; 1 Pe 2,7; 1 Cor 3,10-11). Assim, cada batizado é chamado a oferecer a Jesus a própria fé, pobre, mas sincera, para que Ele possa continuar a construir a Sua Igreja hoje. De algum modo, a todos nós são confiadas as chaves da Igreja, para a podermos abrir aos outros, e para nela entrarmos e nela servirmos, cada um com os seus dons e carismas. E, também aqui, é preciso saber usar humildemente as chaves que nos são entregues, como sinal de confiança num serviço que nos é pedido, e não como um cargo ou encargo que se assume orgulhosamente, a título individual. Somos chamados a ocupar o nosso lugar, na vida da Igreja, tornando-nos um lugar para os outros, não como quem lidera um posto de comando, mas como quem presta um serviço de amor. Se usurparmos as chaves que nos são confiadas, transformando o serviço em poder, cumprir-se-á a ameaça do Senhor: “Vou expulsar-te do teu cargo, vou remover-te do teu posto” (Is 22,19).
3.Mas as mesmas chaves que dão acesso ao encontro com Cristo e nos permitem edificar a Igreja, são também as chaves que abrem a porta de saída da Igreja, em missão pelo mundo. Por isso, da amizade com Jesus e do compromisso na edificação da Igreja, nascerá também o impulso que nos leva a dar testemunho da fé, nos mais diversos ambientes, incluindo nos lugares onde prevalece a rejeição ou a indiferença. E são tantos, queridos irmãos e irmãs.
Agosto está a terminar. Estamos de regresso a nossa casa e a esta Casa que é nossa. Não deixemos no bolso da preguiça as chaves. Usemo-las bem, para entrar na relação com Cristo, para edificar a Sua Igreja e sair em missão.