Homilia no XVI Domingo Comum A 2017
1.E lá se foi uma semana de “tolerância zero”, no discurso dos que toleram tudo, exceto os que se atrevem a pensar fora da caixa e do politicamente correto. Os novos inquisidores do regime colocam, quase sempre, de um lado, todos os virtuosos e bem-pensantes, e do outro lado, a praga dos retrógrados e malfeitores, como se toda a verdade se acantonasse a um só dos lados… e para o outro se devessem então atirar todas as pedras. A parábola do trigo e do joio não nos deixa acender a fogueira da intolerância, da divisão artificial dos espaços, das separações rígidas, das catalogações à medida, porque um só é o campo do mundo e por isso, na mesma pessoa, no mesmo partido, no mesmo grupo, na mesma comunidade, na mesma família, crescem inseparáveis, e quase se confundem, o trigo e o joio, a bondade e a maldade. Não é possível isolar os justos de um lado e os pecadores do outro, para exterminar os últimos: «Ao arrancardes o joio, correis o risco de arrancar também o trigo» (Mt 13,29).
2.Às vezes, temos um olhar muito seletivo para o mal que vai no mundo e uma grande pressa de julgar, de classificar, de pôr de um lado os bons, e do lado oposto os maus! Ao contrário, Deus sabe olhar para a melhor parte de nós e espera que a outra parte se venha a converter, antes ainda da ceifa, do juízo final. Ele olha para o campo do mundo e para a vida de cada pessoa, com paciência e misericórdia! Ele vê muito melhor do que nós a sujidade e o mal, mas vê, em primeiro lugar, todos os gérmenes de bondade e de retidão, e espera com confiança, que eles amadureçam em nós. Deus é paciente e sabe esperar! Perante o joio, semeado de noite, pelo Maligno, somos chamados a imitar esta paciência de Deus, a alimentar a esperança, com o alento de uma confiança inabalável na vitória final do bem, na vitória de Deus.
3.Por isso, deixo uma recomendação prática, para as conversas destas férias. Façam como o Papa Francisco: ele colocou na porta do seu gabinete uma espécie de sinal de trânsito, uma placa, onde se diz: “É proibido lamentar-se”. O sinal informa que esta proibição “é a regra número 1, para a saúde e o bem-estar” e avisa que “os transgressores sujeitam-se a síndrome de vitimização, com consequente diminuição do humor e capacidade para resolver problemas”. As visitas ao Papa são ainda avisadas, logo à entrada do apartamento, que “a medida da sanção duplica quando o desrespeito por esta regra é cometido na presença de crianças”. E seguem-se outros conselhos sábios: “Para se tornar no melhor de si deve concentrar-se nas suas potencialidades e não nos seus limites”. Em seguida, indica o caminho concreto: “Pare de se lamentar e comece a agir, faça alguma coisinha para mudar e tornar melhor a sua vida”.
Talvez devamos todos colocar este “sinal” à porta da Igreja ou do cartório, à porta de casa ou da empresa, e, se for preciso, à porta do próprio quarto! Para não ficarmos paralisados, junto ao muro das lamentações! E ides ver que uma atitude positiva na vida fará o trigo crescer a olhos vistos no campo do mundo!