Homilia no III Domingo da Páscoa A 2017
1. Entre Jerusalém e Emaús, vai apenas a distância de uma dúzia de quilómetros, muito menos do que aqueles que percorrem a maior parte dos peregrinos, que vão a Fátima a pé. E, todavia, o Evangelho faz-nos longa companhia, nesta mais bela viagem, que conheço. Nela, Jesus atravessa-Se e entra na vida de dois dos seus discípulos, para lhes mudar a rota e a derrota de uma missão, para lhes abrir os olhos e os reorientar, num caminho novo e com saída. A eles, como a nós!
2. Perante as interrogações que surgem do nosso coração e os desafios que se levantam da realidade, podemos, como eles, sentir-nos perdidos, com um défice de energia e de esperança. Há sempre o risco de que a missão cristã também a nós nos pareça algo de irrealizável, que supera as nossas forças. Mas, se contemplarmos, de olhos abertos, este Jesus Ressuscitado, que caminha ao lado dos discípulos, é possível reavivar a nossa confiança. Nesta cena evangélica, temos uma autêntica e real «liturgia da estrada», que precede a da Palavra e a da Fração do Pão e nos faz saber que, em cada passo nosso, Jesus está sempre junto de nós.
3. Que faz Jesus aos discípulos de Emaús? Não os julga! Caminha com eles. E, em vez de erguer um muro, abre uma nova brecha. Faz-lhes perguntas, para lhes corrigir as respostas. Pouco a pouco, transforma o seu desânimo, inflama o seu coração e abre os seus olhos, anunciando-lhes a Palavra e partindo com eles o Pão. Da mesma forma, o cristão sabe que não carrega sozinho o encargo da missão, mas experimenta – mesmo no meio das fadigas e incompreensões – que «Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele» (EG 266).
4. Jesus garante a todos que está sempre connosco, até ao fim dos tempos, e que não nos aguardará apenas no final da nossa longa viagem, para nos dar a recompensa, mas que nos acompanhará, em cada um dos nossos dias, por mais tristes e cinzentos que nos pareçam, por maior que seja o tempo da prova e da escuridão. Às vezes, parece que Jesus não está ao nosso lado, porque foi lá atrás, para nos levantar e fazer retomar o caminho. Às vezes, parece que Jesus não está ao nosso lado, porque Se colocou no meio de nós, para nos unir e reanimar; às vezes, parece que Jesus não está ao nosso lado, porque Se adiantou um pouco, e vai à nossa frente, para nos abrir horizontes e apontar a meta. Mas Jesus caminha sempre connosco. É Ele que conduz o nosso caminho! É Ele o «terceiro», o companheiro invisível, que se coloca ao nosso lado. E, por isso, no nosso caminho, quantas vezes, às cegas, sem rumo e sem esperança, nunca estamos sozinhos!
5. Irmãos e irmãs: estamos prestes a iniciar o mês de maio e, com ele, multiplicam-se as caminhadas a pé e as peregrinações a Fátima, “que devem ser devidamente preparadas, acompanhadas espiritualmente, e celebradas em clima de verdadeira alegria, que a experiência do caminho e a visão do santuário sempre desperta no peregrino” (PDP 2016/17, p. 39).
Não basta, por isso, fazer quilómetros, para peregrinar verdadeiramente, se esta peregrinação não nos fizer beber nas fontes da conversão, da palavra e do pão, da misericórdia, da vocação e do serviço, do testemunho, da esperança e da missão... Precisamos de dar alento e sustento a esta nossa alma migrante, uma vez que somos chamados a deixar a terra, a família e o mais que for preciso, a fim de partir com alegria para onde o Senhor nos chamar.
Irmãos e irmãs: o caminho exterior da peregrinação a Fátima desafia-nos a percorrer um caminho interior! Façamo-lo todos, quais “peregrinos, com Maria, pelas fontes da alegria”!