Liturgia e Homilia na Quinta-Feira Santa 2017
Destaque

Celebremos, em festa, o mistério pascal do Senhor, pelo qual se dá a grande transformação da traição em entrega, da morte em vida, do poder em serviço. Na Última Ceia, revela-Se em Jesus, um Deus, que, por nós, Se faz Servo, para fazer de nós servidores da caridade. Na Última Ceia revela-Se em Jesus, um Deus, que, por nós, Se faz Pão, e de nós faz pão repartido para a vida do mundo, tornando-nos testemunhas da compaixão de Deus. 

 

Homilia na Missa da Ceia do Senhor - 5.ª-Feira Santa 2017

A caminho, com Maria, pelas fontes da alegria!

 

1.Chegou a “hora” (Jo 13,1), outrora anunciada por Jesus a Maria, sua Mãe, nas bodas de Caná (cf. Jo 2,4)! A água abundante da purificação, até então guardada nas seis ânforas de pedra, ainda serve para lavar os pés aos seus discípulos! Mas, doravante, é a Palavra de Cristo e o Seu amor, mediante o dom pleno de Si mesmo, que os lava e torna limpos. Mas não só a Palavra. É o poder sagrado do Sangue derramado por Cristo, do Seu doar-Se até ao extremo, que purifica os discípulos e os torna capazes de aceder à mesa da comunhão convivial com Deus e entre os homens. A água das ânforas verte-se na bacia do lava-pés! E o vinho bom, vertido no cálice da bênção, está agora, sobre a mesa da Última Ceia, convertido em verdadeiro vinho novo do Reino, que está a chegar!

 

2.Chegada, pois, a Sua “hora”, “a hora de passar deste mundo para o Pai” (Jo 13,1), apressa-se e intensifica-se a obra divina da grande transformação, anunciada e sinalizada em Caná da Galileia! Naquela noite, Jesus transforma a traição de Judas numa entrega livre, e a Sua condenação à morte numa doação de amor até ao fim. Este é, pois, o único ato central de transformação, capaz de renovar verdadeiramente o mundo, porque transforma a morte em vida.

 

3.Queridos irmãos e irmãs: na verdade, esta primeira e fundamental transformação, da violência em amor, da morte em vida, arrasta consigo, e por consequência, muitas outras transformações, a primeira das quais é esta: o pão e o vinho tornam-se o Corpo dado e o Sangue derramado de Jesus por nós! Com espanto e comoção, vemos como Aquele Jesus que outrora pôde transformar água em vinho, e assim abrir-nos as fontes da alegria, pode também, por força ainda maior de um amor sem limites, transformar o pão no Seu Corpo dado e o vinho no Seu Sangue derramado por nós (cf. São João Paulo II, Ec. Euch., n.º 54)!

 

4.Mas chegados a este ponto, compreenderemos bem como esta transformação não pode, nem deve deter-se aqui, sobre a toalha e a mesa da Eucaristia. Pelo contrário, é a partir daqui, que essa transformação deve começar plenamente, fazendo de todos nós, à imagem dos serventes das bodas de Caná, e do próprio Jesus, humildes servidores deste mistério e nunca “donos ou senhores” de um qualquer ministério; convertamo-nos em humildes colaboradores da alegria da Eucaristia, e nunca nos tornemos manipuladores dos dons divinos. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados, precisamente para que nós próprios sejamos transformados n’Aquele que comungamos! A dinâmica transformadora da Eucaristia penetra-nos assim profundamente e, a partir de nós, deve propagar-se aos outros e difundir-se por toda a parte, para que o amor de Jesus se torne realmente a medida dominante do nosso mundo!

 

 

5.Queridos irmãos e irmãs: é verdade que os Evangelhos não referem, na Última Ceia, a presença de Maria, com aquela salutar intercessão materna nas bodas de Caná. Mas as suas palavras de então aos serventes “fazei tudo o que o meu Filho vos disser” (Jo 2,5)ressoam, nesta Ceia, quando é o próprio Filho, que nos ordena à mesa “fazei isto em memória de Mim” (1 Cor 11,24.25)e Se nos propõe como exemplo e mandato, depois do lava-pés: “vistes o que Eu vos fiz… fazei-o vós também” (cf. Jo 13,12.15). Assim a sintonia entre Jesus e Maria conduz-nos, pelo mesmo caminho, às verdadeiras fontes da alegria, que brotam, para nós, e em abundância desmedida, da mesa farta da nossa Eucaristia, “fonte e o cume de toda a vida cristã” (cf. LG 11; SC 10).Por isso, permitam-me fazer ressoar, da intimidade do Cenáculo, nesta Igreja Mãe, o desafio deste ano pastoral: “com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria”. 

 

 

ALTERNATIVA MAIS SIMPLES

 

Homilia na Missa da Ceia do Senhor - 5.ª-Feira Santa 2017

A caminho, com Maria, pelas fontes da alegria!

 

1. Entre Caná e a Última Ceia medeia um milagre de transformação! Corre ainda na bacia do lava-pés muita água, vertida das ânforas cheias, nas bodas de Caná. O que lava as mãos, lava os pés e a cabeça, como bem pensou o pobre Pedro, que não tinha ainda compreendido o sinal dado por Jesus. Mas lá, em Caná, como agora, na Ceia, esta água deixa de ter a força de purificar, como se estivesse nas nossas mãos humanas a capacidade de nos lavarmos a nós mesmos. Não. Aqui também se processa a transformação iniciada e indiciada em Caná: como da água para o vinho, é agora a Palavra que limpa e é o Sangue de Cristo, que purifica e renova a vida dos discípulos e os prepara para a mesa da comunhão.

 

2. Mas agora não há mais os serventes das bodas, para encher as ânforas. Há o Servo, de toalha à cintura, o Filho de Deus, que toma o lugar do escravo e lava os pés à criatura, aos seus discípulos, deixando-lhes o sinal do Seu aniquilamento e do despojamento, com que se inclinará e reclinará sobre a humanidade, até ao cúmulo da sua morte na Cruz. Para entrar nessa “hora” e nesse mistério, é preciso abaixar-se e rebaixar-se até à condição de escravo. Com tal e abissal gesto, Jesus transforma a lógica do poder, numa lógica de serviço, uma negação numa doação, uma traição numa entrega. Mas o lava-pés é também, para todos nós, exemplo e mandamento a seguir: “vistes o que fiz, fazei-o vós também”(cf. Jo 13,12.15), sem olhardes a quem.

 

3. E este «fazei-o» aparece, na última ceia, em dois sentidos: «Fazei-o» é a ordem expressa de Jesus, para «fazer memória» (1 Cor 11,24.25)daquele Seu gesto realizado precisamente na noite em que ia ser entregue: o gesto de tomar, bendizer e partir o pão e ainda o de oferecer e elevar o cálice da bênção, que se transformam no Corpo dado e no Sangue derramado. Neste sentido, a dita «ultima ceia» é a primeira de muitas, que se perpetua na celebração fiel de cada Eucaristia. Mas este «fazei-o» significa e implica assumir cada ministério, cada serviço, cada pequenina coisa, numa lógica de serviço e de amor ao próximo, sem apegos a um poder ilusório ou manipulador. Precisamos de aprender a trabalhar no escondimento e desprendimento, sem a psicose da vedeta e do aplauso.

 

4. Trata-se então de uma transformação, que não é apenas a do Pão no Seu Corpo e a do Vinho no Seu Sangue. À imagem dos serventes das bodas de Caná, e sobretudo do próprio Jesus, somos nós próprios chamados a transformarmo-nos em humildes servidores deste mistério da fé e nunca em “senhores” de lugares e ministérios. O Corpo e o Sangue de Cristo são-nos dados, precisamente para que nós próprios sejamos transformados n’Aquele que comungamos: Servo pobre e humilde do Pai.

 

5. «Fazei o que vos fiz» (cf. Jo 13,12.15), «fazei isto em memória de mim» (1 Cor 11,24.25). Como não pressentir neste apelo de ação, as belas palavras de Maria, que continuam a inspirar o nosso caminho pascal de transformação: «fazei tudo o que Ele vos disser»(Jo 2,5)!  E nós queremos fazê-lo. Porque outro não é o nosso propósito: fazer da Eucaristia «pão e vinho para o nosso caminho», “com Maria, pelas fontes da alegria”. 

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