Homilia no II Domingo da Quaresma A 2017
“Este é o Meu Filho muito amado. Escutai-O” (Mt 17,15)!
1. Na cena da Transfiguração, faz-se ouvir a voz do Pai. O Pai que está nos Céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles (cf. Dei Verbum, 21). E deixa-nos este desafio, «escutai-O», como se nos dissesse: «acolhei-O», isto é, «recebei-O naquilo que Jesus é», «colocai-vos à escuta do seu mistério», «colocai-vos não só diante d’Ele, mas com Ele e n’Ele». Na verdade, é a escuta que nos dá o sabor da Sua presença. “Escutai-O”, portanto, pede-nos o Pai: «Escutai o meu Filho,que é o rosto humano da minha Palavra divina». Na verdade, Jesus Cristo é a Palavra definitiva do Pai.
2. Nesta segunda semana da Quaresma, este apelo paterno convida-nos à escuta da Palavra, a “tirarmos água” dessa ânfora inesgotável!Na verdade, “a Sagrada Escritura é fonte de alegria” (EG 5), quer para quem a escuta e pratica, quer para quem a anuncia e partilha!“O anúncio da Palavra cria comunhão e gera a alegria. Escutando e anunciando a Palavra de Deus, queremos comunicar também a fonte da verdadeira alegria, que brota da certeza de que só Jesus tem palavras de vida eterna” (Bento XVI, Verbum Domini, 123).
3.Esta semana bebamos, em abundância, desta fonte da alegria, que é a Palavra de Deus. Para isso, será preciso termos a coragem de nos desconectarmos de uma verdadeira avalanche de palavras, notícias, imagens e mensagens, que nos chegam, a cada instante, por tantos meios e por outras fontes, quantas vezes inquinadas. Tornemo-nos surdos a tantas vozes invasivas e dispersivas, para aprendermos a escutar precisamente o que não faz ruído.
4. Disse-nos o Papa há oito dias: “E se tratássemos a Bíblia como tratamos o telemóvel? Se a levássemos sempre connosco (ou pelo menos um Evangelho de bolso), o que aconteceria? Se voltássemos quando a esquecemos, se a abríssemos várias vezes por dia; se lêssemos as mensagens de Deus contidas na Bíblia como lemos as mensagens no telemóvel, o que aconteceria? Com efeito, se tivéssemos a Palavra de Deus sempre no coração, nenhuma tentação nos afastaria de Deus e nenhum obstáculo poderia desviar-nos do caminho do bem; e seríamos mais capazes de viver uma vida ressuscitada segundo o Espírito”. (Angelus, 05.03.2017).Nesse mesmo sentido, diz-nos o Papa: “A raiz de todos os males é não dar ouvidos à Palavra de Deus, pois quem fecha o coração ao dom de Deus que fala, acaba por fechar o coração ao dom do irmão” (MQ 2017).
5. Irmãos e irmãs: “A comparação entre o uso do Evangelho de bolso e a do telemóvel é paradoxal, mas faz-nos pensar” (Papa Francisco). E não é descabido lembrar aqui que é possível, através do telemóvel, aceder à liturgia da Palavra de cada dia ou rezar de forma orientada. Não faltam aplicações que podem fazer do telemóvel uma ferramenta de oração. Se descarregamos tantos “jogos”, para passar o tempo, por que não deixar Deus entrar por aí, no jogo da nossa vida, através da escuta assídua da sua Palavra?Somos assim desafiados a escutar, a abrir o ouvido do coração à Palavra de Deus, mais atenta e assiduamente, escutando e meditando, por exemplo, as leituras que a Igreja nos propõe, para cada dia. É muito importante, mesmo em família, “escutar a Palavra, para fazer crescer o amor” (AL 29).
6. Sigamos o exemplo da Virgem Maria. Ela soube ouvir a Palavra de Deus, de modo tão perfeito, que pôde dizer: “Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1,38).Em Fátima, deixou-nos um “Evangelho breve”, numa mensagem que não nos trouxe novidades, mas que pôs em evidência a urgência de escutar, com toda a atenção, a Palavra de Deus e o convite a fazer tudo o que o seu Filho nos disser. Continuemos, pela escuta da Palavra, “a caminho, com Maria, pelas fontes da alegria”.