Homilia no IV Domingo do Advento A 2016
José, o homem dos sonhos!
1. “Com Maria e José, sonhar a alegria do Natal”. Com o «Sim» de Maria, abriu-se a porta ao sonho de Deus! Mas agora chegou a vez de José, que tinha tudo para um casamento de «sonho» e, de repente, se sente acometido por um verdadeiro ‘pesadelo’. Desconcertado pela gravidez de Maria, sua noiva, quando ainda não mantinham vida em comum, José, que era um homem justo, não queria expor Maria à difamação, nem usurpar a posse ilegal de um filho menor. E por isso, resolveu repudiar Maria em segredo. Neste contexto, «José — diz-lhe o Anjo em sonhos — não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo» (Mt 1,20). José não diz palavra, mas quando despertou do sono fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara!
2. Raramente as Escrituras nos falam de José e, quando o fazem, encontramo-lo a sonhar. Porquê a sonhar?Quando Deus atua em nós, fá-lo precisamente a partir do nosso “eu” mais profundo, cujos desejos se manifestam nos nossos sonhos. Dormindo, nenhum de nós é dono de si e, por isso, não oferece resistência. O tempo do sono e do sonho é, por isso, na Sagrada Escritura, o tempo propício à manifestação e ao agir de Deus.José, a sonhar, define-se aqui como um homem sensível ao seu desejo mais secreto, um homem atento às mensagens que lhe chegavam do fundo do coração e das alturas do sonho de Deus!
3. A partir desta figura de José, “o homem dos sonhos” (Gn 37,19), gostaria de vos propor três atitudes, para que a família se torne uma bênção para todos: primeiro, repousar; segundo, levantar-se; terceiro, guardar o tesouro!
1.º:Repousar! O repouso é necessário à saúde da mente e do corpo, mas é essencial também para ouvir e aceitar o chamamento do Senhor. É preciso encontrar em cada dia, por muito que nos custe, o tempo para repousar no Senhor, para rezar unidos em família!Quando as famílias acolhem os filhos, os ensinam a rezar e assim os fazem crescer como filhos de Deus, tornam-se uma igreja doméstica e uma bênção para todos!
2.º: Levantar-se! É preciso despertar do sono e do sonho, levantarmo-nos todos os dias e caminhar. Não há famílias feitas e perfeitas! Não nos deixemos acomodar e instalar. Levantemo-nos e procuremos ir um pouco mais longe. “Continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida” (AL 325)! É pelo sonho que vamos!
3.º: Guardar o tesouro da família! Deus chama-nos, como a José, a reconhecer os perigos que ameaçam as nossas famílias e a protegê-las do mal. Não deixeis de lutar por defender a vossa família, porque é daí que tudo nasce, é aí que tudo começa. A família é o hospital mais próximo, onde se cuidam os frágeis; a família é a primeira escola das crianças, onde se aprende a conjugar o verbo amar com os verbos dar e perdoar, ajudar e servir, respeitar e cumprir; a família é o ponto de referência imprescindível para os jovens, que gostam de sair de casa, mas acabam sempre por aí voltar. A família é o primeiro lar, para os idosos, que nenhuma instituição social pode substituir e que a sociedade inteira e o Estado devem apoiar. Por isso, guardai bem as vossas famílias. Protegei as vossas famílias!
Irmãos e irmãs: não se pode sonhar a alegria do Natal, nem tampouco um mundo novo, sem sonhar a família, sem sonhar em família! Esta semana, perguntemo-nos: «Que sonho, que desejo, que anseio mais profundo, quero colocar na árvore dos sonhos, para guardar e proteger o tesouro da minha família»? Continuemos juntos, a caminhar e “com Maria e José, a sonhar a alegria do Natal”.