Homilia na Solenidade da Imaculada Conceição 2016
A Porta do Sonho
1.“Com Maria e José, sonhar a alegria do Natal”. Na verdade, é Deus que sonha, desde sempre, o melhor para os seus filhos. Ainda não existia sequer o mundo e Deus já amava, já sonhava em mim, em ti, em nós! Nós fazemos parte do sonho de Deus. E qual foi a coisa mais bela que Deus fez ao criar o mundo, e ao pensar em nós? Foi a família! Ele criou o ser humano, o homem e a mulher. E entregou-lhes o mundo inteiro. Todo o amor, com que Deus fez esta maravilhosa Criação, entregou-o a uma família. Por isso, uma família é tanto mais família quanto mais é capaz de abrir os braços e acolher todo esse grande amor de Deus!
2. Mas, de repente - dizia-nos a primeira leitura - o sonho de Deus, torna-se um pesadelo! Homem e mulher batem, com a porta, na cara de Deus; querem viver sem Ele, esconder-se d’Ele. Deixam-se seduzir pelo mal, representado naquela serpente. E começam a acusar-se um ao outro, a dividir-se, a passar as culpas. Quantas vezes se desfaz o sonho de uma família, porque fechamos as portas a Deus e deixamos de O ouvir. Quantas vezes começa assim a destruição de uma família, com a desavença no casal, o ciúme entre irmãos... E, assim, todo esse amor, que Deus nos deu, «quase» se perde! «Quase», porque, mesmo aí, quando se desfaz o sonho, Deus abre uma janela de esperança: da descendência da Mulher, diz-se então, havia de nascer um Salvador, para cumprir o sonho de Deus!
3. Em boa verdade, Deus nunca desiste de sonhar. Quando o homem e a mulher se afastaram e esconderam, Deus jamais os deixou sozinhos. Tanto era o Seu amor, por nós, que começou a caminhar com o Seu povo, ao longo de séculos. Até que, um dia, Deus quis dar a demonstração maior do Seu amor por nós: enviar ao mundo o Seu próprio Filho!
4.E, para isso, Deus bate à porta de quem? De Maria e de José. Esta porta aberta reabre a porta batida e fechada, pelos nossos primeiros pais, no Paraíso. Pensemos em Maria, tão jovenzinha. Não tinha como entender aquela gravidez: «Como pode isso acontecer?». E quando Lhe explicaram, Ela obedeceu! Pensemos em José, cheio de esperanças de formar um lar, e encontra-se agora com esta surpresa, que não entende. Aceita entrar no sonho de Deus e obedece sem dizer palavra. E, assim, na obediência do amor desta mulher, Maria, e deste homem, chamado José, forma-se uma família! Deus entra no nosso mundo, através de uma família. E pôde fazê-lo porque essa família tinha um coração aberto ao amor, tinha as portas abertas da sua casa, a Deus e aos outros.
5. Deus gosta especialmente de bater à porta das famílias. Mas “para ouvir e aceitar esta chamada de Deus, é preciso encontrar, em cada dia, um pouco de tempo para rezar; mas, se não rezarmos, nunca conheceremos a vontade de Deus a nosso respeito. É, antes de tudo, em família, que aprendemos a rezar” (Papa Francisco, Discurso em Manila, 16.01.2015).
6. [Por isso, hoje vimos aqui, com as dezenas e os terços na mão, porque não se pode sonhar a família, como Deus a sonha, sem a oração!“Família que reza unida, permanece unida” (AL 227)].
Durante este tempo do Advento e do Natal, encontremos tempo, para rezar, ao menos, um mistério do rosário, em família. Quando estamos a rezar, criamos um espaço onde Deus pode entrar, nos pode falar e transformar! Que a nossa Casa, lá em casa, e a nossa Casa, aqui na Igreja, tenham sempre abertas, de par em par, as portas ao sonho de Deus.
Assim, quando Deus bater à porta, poderemos dizer «Sim», como Maria e José, ao sonho de Deus. E então será possível, “com Maria e José, sonhar a alegria do Natal”!