Homilia no XXV Domingo Comum C 2016
Há quem diga que esta página do Evangelho não é nada edificante! Fala assim, quem não percebe que Jesus toma, na parábola, o administrador, como exemplo, não por ser desonesto, mas por ser capaz de decidir com prontidão, inteligência e criatividade. Estamos a iniciar o novo ano laboral, letivo e pastoral e eu deixaria, a partir deste provocante Evangelho, três palavras de reflexão prática:
1. A primeira palavra é “fidelidade”: «Quem é fiel nas coisas pequenas também é fiel nas grandes» (Lc 16,10).
Somos chamados à fidelidade! Mas esta fidelidade não é apenas o estrito cumprimento da obrigação, a docilidade à doutrina da Igreja, aos planos diocesanos… às orientações da paróquia, ou às diretrizes do Ministério, às metas da escola, aos objetivos da catequese ou de uma empresa qualquer. Esta fidelidade faz-se diariamente de pequenas coisas, de pequenos gestos, na assiduidade e na presença, na pontualidade e na prontidão, no cumprimento do dever e na alegria da missão. “A fidelidade é o nome do amor no tempo”, dizia Bento XVI, em Fátima (12.05.2010). Por isso, fidelidade é também não esmorecer, perante as dificuldades. É manter-se de pé, perante os desafios. É acreditar, como Maria, na possibilidade do impossível, para poder continuar a sonhar um mundo novo. E por isso fidelidade é também criatividade. O Evangelho fala-nos da “esperteza” do administrador desonesto! E, desafia-nos a usar a mesma “esperteza” dos filhos das trevas, posta ao serviço da boa causa do anúncio do Evangelho e da edificação do Reino, sem cairmos na tentação e no cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim». Aqui na paróquia, «convido todos a serem ousados e criativos» (EG 33). A criatividade é a forma de sermos fiéis às pessoas concretas, que temos pela frente, adaptando-nos às suas linguagens, respondendo aos seus anseios concretos.
Perguntemo-nos: Procuro viver em fidelidade criativa a minha missão educativa, laboral ou evangelizadora?
2. A segunda palavra é “servir”: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16,13).
O serviço não é apenas o trabalho que prestamos. Não é apenas o bem que fazemos ou o ministério que exercemos. A opção “servir a Deus ou ao dinheiro” põe-nos a questão da orientação fundamental do nosso coração: O que me move, na minha vida ou na missão evangelizadora? O meu sucesso ou o progresso daqueles que me são confiados? O que mexe comigo? A recompensa material ou a doce e reconfortante alegria de evangelizar? A que Deus servimos nós? Aos ídolos dos nossos interesses ou àqueles a quem Deus nos envia?
Perguntemo-nos: Onde é que está o meu tesouro? Porque onde estiver o meu tesouro, aí estará o meu coração (cf. Mt 6,21).
3. A terceira palavra é “o verdadeiro bem”: «Quem vos confiará o verdadeiro bem» (Lc 16,11)?
O nosso verdadeiro bem é Cristo e o Seu Reino. Mas o «verdadeiro bem» são também os nossos filhos, alunos, catequizandos, empregados, os pobres, nas suas necessidades e esperanças, inquietações e desafios. Somos chamados a ser “cuidadores” deste tesouro, “guardadores” dos seus sonhos e esperanças. Sejamos merecedores da imensa riqueza que Deus nos confia. E não deixemos nunca que o dinheiro comande a nossa vida.
Perguntemo-nos: Levamos o tesouro do Evangelho de Cristo aos outros e os outros à descoberta e ao encontro deste tesouro?
Penso que já chega de perguntas, na elaboração do nosso caderno de encargos, para o novo ano letivo, laboral ou pastoral. E há aqui motivo bastante para rezarmos, “com preces, orações e súplicas” (1 Tm 2,1), por aqueles a quem é confiado o cuidado deste mundo e o futuro das novas gerações, que se constrói com a dedicação fiel e criativa, do serviço humilde de todos e de cada um! “O Senhor não esquece nenhuma das nossas obras”(Am 8,7).