Homilia na Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria 2016
1. No meio de agosto, no fogo cruzado dos jogos olímpicos, dos incêndios, das férias e das viagens, eis-nos, a celebrar, com alegria, a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, a Páscoa de Maria.
O tempo de calor severo parece quase adormecer o nosso desejo de Deus, a nossa aspiração à eternidade e até a nossa vocação às alturas da santidade. Apetece-nos mais, porventura, meter a cabeça na areia, o corpo na água, o repouso do sofá. Mas o desafio da Assunção de Maria é acordar-nos do estado de dormição e pôr-nos a olhar para o alto. O céu é a meta do nosso atribulado caminho e as suas alturas o único record à medida do nosso desejo. Maria, que corre à pressa pelas montanhas da Judeia, desafia-nos, pois, a galgar a medida alta da vida cristã, como alpinistas da santidade! Quando um alpinista sobe uma parede rochosa, não pode mais olhar para o chão, sob pena de cair na vertigem do abismo, mas tem de obedecer a este apelo íntimo e vital: «olha para o alto».
Este é um desafio importante, pois se olharmos somente à nossa v0lta ou unicamente para baixo de nós, veremos tantas coisas que não estão bem, que nos angustiam e nos metem medo e então a nossa tentação será a de desistir ou a de cair em desânimo. A Assunção sobe ao mais alto possível a fasquia do nosso desejo. Maria, elevada ao céu, recebe, lá nas alturas, o triunfo da glória, não como um trofeu exclusivo, que guarda para Si, mas, com ele, dá-nos também a nós a medida alta da nossa esperança: a nossa ressurreição em Cristo. Maria é, pois, a nossa campeã do “salto em altura”. E o desafio olímpico que nos deixa hoje é precisamente este: olhar para o alto!
2. Olhar para o alto. Que poderá significar isto? Dir-te-ia três coisas simples:
2.1.Olha para o alto, olha para a finalização de todo o desígnio de Deus! O fim não é a destruição, mas a plenitude da vida. O fim não é o fracasso da humanidade, mas a sua consumação. E crê: a tua vida, apesar de todas as penas, está projetada para o alto, para o Céu, para a eternidade, para o Senhor, para a glória de Cristo e de Maria; o esplendor desta glória invadirá o universo inteiro e fará de ti uma só coisa com Deus e com os outros, quando Deus for tudo em todos. Esta é a tua esperança maior, a âncora que te impedira de te afogares na banalidade do mal.
2.2.Olha para o alto, olha para a meta da tua vida, para o céu, onde te espera o paraíso, a proximidade de Jesus e de Maria, a comunhão dos santos e de todos aqueles que amastes e te amaram! E diz a ti mesmo, sem te lamentares: «é tão grande o bem que espero, que em cada pena me deleito». Esta visão da glória impedir-te-á de morreres antes do tempo.
2.3.Olha para o alto, para o céu, sem deixares de assentar os pés na terra! E não te deixes entorpecer, nem desanimar, por aquilo que não está bem, quando olhas apenas para o chão. Olha para o alto, olha para tudo aquilo, de belo e grandioso, que Deus já realiza em ti, com a Sua bondade e que afinal já te dá tanta alegria e contentamento. Este olhar lançará o teu coração, para lá das coisas do mundo. Se tens o coração fixo nas alturas, se a flecha do teu desejo aponta para aquele alvo, que é Deus, a tua vida ganhará em profundidade, grandeza, luz e beleza.
3.Olhemos, irmãos e irmãs, para Maria, elevada às alturas do céu! Com Ela, aprenderemos a lutar, a caminhar e a viver, sem nos lamentarmos, nem desesperamos, mas dando graças a Deus, sempre e em tudo, porque Ele é bom. “Ele derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes”, para nos fazer chegar às alturas da Sua glória, onde Sua Mãe já nos precede e a todos nos alcançará! Assim seja.