Homilia no XVIII Domingo Comum C 2016
Destaque

1.Não entra nada “a gosto” a Palavra de Deus, deste domingo, com exortações tão opostas aos apelos da publicidade, neste verão. Quando, por todo o lado, se diz “descansa, come, bebe, regala-te’, o Evangelho vem dizer-nos: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma’

Quando o mercado organizado das férias e dos tempos livres, nos promete, num qualquer lugar exótico da terra, um paraíso de sonho, São Paulo sobe a fasquia e desconcerta-nos: “aspirai às coisas do alto e não às da terra”. Grande exercício, de alpinismo espiritual, tanto mais complicado, quando o jogo da moda é vergar o pescoço e olhar para o chão, e, com o radar do telemóvel, ir em busca de pokemones, nem que seja na torre da Igreja. Decididamente, são contrários os ventos desta era do “vazio” aos do sopro do Espírito de Deus, que hoje nos fala.

 

2.E então, que fazer? Perder as férias? Renunciar aos prazeres do mundo? Abandonar todas as coisas, conquistadas com trabalho e esforço? Não. O que importa é alcançar aquela sabedoria do coração (Sl 90,12), que não se ilude com as coisas, como se a sua posse ou o seu consumo, nos preenchesse o vazio da alma; aquela sabedoria do coração, que não se apega aos bens, como se fossem um seguro de vida eterna; aquela sabedoria, que tampouco se ilude ou envaidece, com as aparências do momento, porque todas as criaturas têm os dias contados. O cristão sabe desfrutar da vida, da beleza e dos bens da criação, sem fazer deles os falsos deuses da sua consolação. O cristão sabe que a sua vida não depende do que possui, mas daquilo que cada um dá. A vida vive de ser dada. Neste sentido, aspirar às coisas do alto é descobrir em cada prazer das coisas da terra, um indício de uma felicidade, que está ainda por vir. Aspirar às coisas do alto é saborear cada coisa da mesa da criação, como promessa da abundância, que só o banquete do Céu nos dará. Aquilo que se come ou bebe, e que afinal é tão bom, apenas nos alimenta, por agora, mas só Deus nos pode saciar, para sempre.

3.À luz da Palavra deste domingo, podemos reprogramar as nossas férias. Deixo-vos algumas recomendações, do Padre Hamel, esta semana assassinado, em França. Escreveu ele na sua folha paroquial, de junho passado: “As férias são o momento para nos afastamos das nossas ocupações habituais. Mas não são um simples parêntesis: além de tempo de descontração, servem também de encontro, de partilha, de convivialidade.Enquanto alguns reservarão dias para um retiro ou uma peregrinação, outros relerão o Evangelho; haverá também aqueles que contemplarão o grande livro da criação, admirando as paisagens tão diferentes e tão magníficas que elevam e falam de Deus.Possamos nós, nestes momentos, ouvir o convite de Deus a tomar a nosso cuidado este mundo, a fazer dele, onde vivemos, um mundo mais caloroso, mais humano, mais fraterno. Um tempo de encontro, com os próximos, os amigos: um momento para reservar tempo, para viver algo em conjunto. Um momento para estarmos atentos aos outros, sejam eles quem forem.Um tempo de partilha: partilha da nossa amizade, da nossa alegria. Partilha do nosso apoio às crianças, mostrando que elas contam para nós. No Ano da Misericórdia, o nosso coração esteja atento às coisas belas, a cada um e àqueles e àquelas, que se arriscam a sentir-se um pouco mais sós nesta época”.

4.E aqui eu pensei: perante a atual vertigem do “Pokemon Go”, será assim tão difícil projetar uma aplicação que nos indique, se, próximo de nós, está alguém, em carne e osso, que tem fome e sede? Um idoso sozinho, talvez com muitas doenças? Um amigo entristecido e fragilizado, por qualquer provação, mas que não o quis fazer saber? Uma pessoa aborrecida que temos tendência a ignorar? Na verdade, essa aplicação já existe: chama-se “Proximon Vai”. É um sistema integrado olhos-ouvidos, que transmite um sinal preciso ao coração. O problema é que muitas vezes a ligação perde-se. Talvez sejamos nós que não a saibamos pôr a funcionar. Porque para isso, não é preciso dominar a alta tecnologia: basta um pouco daquela sabedoria do coração, que vem do alto e nos põe a todos, em rede de comunhão, à procura do outro, como um irmão!

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