Homilia no IX Domingo Comum C 2016
“Senhor, não mereço que entres em minha casa (…)!
Mas diz uma palavra e meu servo será curado” (Lc 7,7)!
1.Ainda no rescaldo da Festa da Eucaristia, estas palavras do centurião inspiram e recordam-nos o nosso ato de humildade, diante do convite, que nos é feito, para participar no banquete de Cristo (cf. IGMR 84). Respondemos sempre: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.
2.Sobre esta nossa “indignidade” para comungar, refletimos, na passada quinta-feira, quando recordámos que não se pode celebrar a Eucaristia, num contexto de discórdia e de indiferença pelos pobres (cf. 1 Cor 11,17-34), pelos estrangeiros ou refugiados. Não pode haver fração do pão eucarístico, onde não há multiplicação dos pães. Não pode haver mesa da comunhão do Corpo do Senhor, onde não há comunhão de bens, entre os seus membros. “Quem se abeira do Corpo e do Sangue de Cristo não pode, ao mesmo tempo, ofender aquele mesmo Corpo, fazendo divisões e discriminações escandalosas entre os seus membros” (AL 186), porque o mesmo Jesus, presente nos dons consagrados do Pão e do Vinho, faz-Se presente no “Sacramento do irmão”: «quando deixastes de o fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer» (Mt 25,45). Esta indiferença para com os pobres é o que mais verdadeiramente nos torna indignos e réus da comunhão do Corpo do Senhor!
3. Mas vamos hoje um pouco mais longe. Em rigor, quem de nós se julgará, alguma vez, digno ou merecedor, diante do Senhor? Nós nunca seríamos dignos de ser admitidos à ceia eucarística, se não fôssemos purificados pela misericórdia do Senhor. Nunca deveríamos esquecer que a Última Ceia de Jesus teve lugar «na noite em que Ele foi entregue» (1 Cor 11,23). Naquele Pão e naquele Vinho, que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se a dádiva do Corpo e do Sangue de Cristo, para a remissão dos nossos pecados! Estamos na Missa como pecadores, humildemente, porque é o Senhor que nos reconcilia. É Ele que nos lava, por dentro, para nos poderemos sentar à mesa com Ele.
4. “Quem celebra a Eucaristia não o faz, portanto, porque se considera, ou quer parecer melhor do que os outros, mas precisamente porque se reconhece necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, que revela o Seu rosto de misericórdia em Jesus Cristo. Se não nos sentirmos pecadores, necessitados da misericórdia de Deus, melhor seria não virmos à Missa” (Papa Francisco, Audiência, 12.2.2014)! Nós vimos à Missa, porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus e no Seu perdão. Aquele «Confesso a Deus», ou «Senhor, tende piedade», que recitámos no início, não é um «pro forma», mas um verdadeiro ato de penitência! Sou pecador e confesso-o: assim começa a Missa!
5. Nesse sentido, se não desprezamos o sacramento da Confissão, como se fosse “uma câmara de tortura” (EG 44; cit. AL 305, nota 351), e se nos abeiramos, com alegria, da fonte da misericórdia do Senhor, podemos comungar, apesar dos nossos pecados, não por sermos os melhores do mundo, mas precisamente porque conhecemos a nossa fragilidade e nos confiamos ao amor do Senhor por nós.
Na verdade, como diz e repete constantemente o Papa Francisco: “a Eucaristia não é um prémio (de bom comportamento) para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos” (EG 47). Por isso, faz todo o sentido rezar, antes de comungar: «Senhor, não olheis aos nossos pecados, mas à fé da Vossa Igreja» e mais ainda: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo”.