1. Neste IV Domingo de Páscoa temos o clássico Evangelho do «Bom Pastor»! Mas o Pastor toma também o lugar e a figura do «Cordeiro», que a todos trata misericordiosamente.
Na visão maravilhosa do Apocalipse, o Cordeiro, imolado e de pé, Cristo morto e ressuscitado, mostra-Se rico em misericórdia: Ele sacia para sempre a nossa fome e a nossa sede, Ele abriga-nos do calor e do vento, Ele enxuga-nos todas as lágrimas dos olhos: as lágrimas do luto, da ausência e da saudade; as lágrimas do sofrimento, do arrependimento, da oração e até do contentamento. O nosso Deus sofre com quem sofre, chora com quem chora e é, a partir do Seu sofrimento, que consola as pessoas e enxuga todas as lágrimas dos nossos olhos. É um Deus que consola o Seu povo, com a bondade de um pastor (Is 40,11; Sl 23,4), o ardor de um noivo (Is 54)e a ternura de uma mãe (Is 49,14).
2. Ele enxugará todas as lágrimas, na consolação definitiva que só o Céu nos dará. Mas continua a querer enxugar hoje as nossas lágrimas. E, quanto a nós, só haverá lágrimas para enxugar, se houver quem chore as lágrimas do irmão. Não posso enxugar as lágrimas do outro, se elas não me correrem, pelo rosto. Por isso, quando olhamos para o logotipo do Jubileu da Misericórdia reparamos que há duas figuras, a do Pastor e a da ovelha colocada aos Seus ombros. Mas há apenas três olhos, porque um dos olhos é comum: Cristo vê-nos com os nossos olhos humanos, chora as nossas lágrimas. E nós somos chamados a ver com o Seu olhar divino. E muitas vezes as lágrimas que choramos são as lentes pelas quais ainda podemos ver o Senhor.
3.Precisamos então e muito de reaprender a bem-aventurança “dos que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4),para realizar generosamente esta obra de misericórdia: consolar os tristes, consolar os aflitos, com a mesma consolação que nós próprios recebemos de Deus (cf. 1 Cor 1,3-5).
4. E, no nosso tempo, não é nada fácil encontrar consoladores. Há muitos “consoladores inoportunos” (Jb 16,2)que julgam consolar a máxima tristeza com palavras de vento, através de um discurso racional, quando a arte da consolação é sobretudo aproximar-se, escutar e aí permanecer juntos. O que nós precisamos é de pessoas que não tenham medo de se deixar contagiar pela aflição do outro, pessoas capazes de se doer e condoer pelos outros. Consolar significa literalmente “chamar quem está só, para junto de si”, para estar ao lado do outro e aí permanecer em silêncio, sem receitas nem soluções na manga, numa presença capaz de escuta. Precisamos, então, de reaprender esta capacidade de chorar com quem chora, de rir com quem ri (Rm 12,15). “Já não há quem console” (Sl 69,21), porque não há quem chore. “Habituamo-nos ao sofrimento do outro, este já não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa!Somos uma sociedade que esqueceu a experiência de chorar, de se compadecer, isto é, de sofrer com o irmão; a globalização da indiferença tirou-nos a capacidade de chorar” (Papa Francisco, Homilia em Lampedusa, 8 de julho de 2013).
5. Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, peçamos ao Senhor, que nos dê, nos Seus fiéis consagrados, “ministros da consolação”, para consolar o Povo de Deus (cf. Is 40,1), sacerdotes do Senhor chamados a “consolar os aflitos, a levar aos aflitos de Sião uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez do trajo de luto, cânticos de louvor em vez de um espírito abatido” (Is 61,2-3). Que esta obra de consolação comece em nossa casa, onde se aprende “a confortar com a palavra, o olhar, a ajuda, a carícia e o abraço” (Papa Francisco, Amoris Laetitiae, n.º 321)e assim “toda a vida da família se torne um pastoreio misericordioso” (Ibidem, n.º 322).
Irmãos e irmãs: «consolai-vos uns aos outros, com estas palavras» (I Ts 4,18)!