Homilia no II Domingo da Quaresma C 2016

Os três peregrinos, Pedro, Tiago e João, fizeram uma pausa no seu caminho, com Jesus, para Jerusalém! Estão felizes da vida, ao despertar do sono e de um sonho, que lhes enchia o coração de luz e esperança. E, num gesto de grande hospitalidade, estão prontos a armar três tendas, para dar abrigo à presença gloriosa de Jesus, de Moisés e de Elias.

“Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias»” (Lc 9,33).

1. Pedro revela assim um coração aberto à surpresa da visita, à graça do encontro; está disponível para desarrumar a sua vida e abrir espaço a quem chega. Pedro lembra aqui o patriarca Abraão (cf. Gn 18,2-8), também ele peregrino, que se faz hóspede, ao receber em sua casa o Senhor, que o visitara na passagem de três figuras misteriosas. Pede-lhes então que não vão adiante sem entrar na sua casa, lava-lhes os pés, põe-lhes a mesa, onde abunda pão e não falta o cordeiro! Oferece-lhes a sombra de uma árvore e, sem o saber, acolhe três anjos, isto é, recebe o próprio Senhor, que deixa as marcas do Seu rosto, no rasto daqueles peregrinos. Ele recompensa a nossa hospitalidade, com a fecundidade da própria vida!

2. Nesta segunda semana da Quaresma, somos desafiados a concretizar a quarta obra de misericórdia corporal, «dar pousada aos peregrinos», pondo em prática a hospitalidade, essa arte de acolher e de recolher, de hospedar e de receber, num tempo e neste nosso mundinho tão egoísta, em que o estranho ou o estrangeiro, o peregrino ou o forasteiro, o imigrante ou o refugiado, o sem-abrigo ou o sem teto, são tantas vezes tratados com hostilidade e desconfiança, vistos como ameaça e não como bênção. Esta é, pois, de todas, a obra de misericórdia que mais nos compromete e empenha, porque significa aceitar o risco da mudança, deixar que o outro entre em minha casa, desarrume a minha vida, altere os meus hábitos e eu me adapte às exigências do hóspede, reorganizando o que for preciso.

3. Não esqueçamos, queridos irmãos, que para vir a este mundo, também nós provocamos em casa a mesma desarrumação, a mesma exigência de ampliar um espaço, de mudar tudo, para receber esta nova vida! Todos nós somos alguém que veio de fora, entrou numa casa e encontrou abrigo! Por isso, devemos estar prontos a acolher quem chega, mesmo se isso torna mais vulnerável e imprevisível a nossa vida. É acolhendo assim os outros, que podemos receber o Outro, o próprio Jesus, que nos dirá, no juízo final: “era peregrino e recolhestes-Me” (Mt 25,35).

4. É este espírito que inspirou o Papa Francisco a desafiar cada paróquia a receber um refugiado: não para o converter, não para ganhar qualquer coisa à custa dele, mas porque “Deus ama o imigrante” (Dt 10,18), que deve ser recebido “como um concidadão” (Lv 19,34) e porque estas pessoas são, na verdade, a carne sofredora de Cristo, que passa à beira da nossa casa e nos bate à porta do coração!

5. Mas esta obra de misericórdia tem aplicação dentro da nossa casa e na própria Igreja. Precisamos muito de abrir as nossas portas, para acolher, para receber bem, para dar espaço aos outros, o que implica fazer do próprio coração a casa onde o outro se possa abrigar e recolher. Mas dar abrigo no nosso coração a quem? Perguntareis. Aceitemos dar abrigo a quem Deus põe no meu caminho, na minha rua, no meu prédio, a quem me bate à porta. São tantas as pessoas a precisar do “colo”, do abrigo do nosso afeto, “quantas feridas, quanto desespero se poderá curar numa casa onde alguém possa sentir-se acolhido” (Papa Francisco, Homilia, 12.6.2015). Mas tudo isto significa e implica sobretudo disponibilidade para escutar, para ouvir o outro. Aliás, é o desafio feito a quem queria armar três tendas: “Este é o Meu filho, o Eleito, escutai-O” (Lc 9, 35). Recebe-se bem, quando se começa por saber ouvir!

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