1.O primeiro apelo, na boca do profeta Joel,é o da conversão: “Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus”. Ninguém se julgue fora deste convite! Ele dirige-se, com certeza, aos criminosos e aos corruptos, mas estende-se a todo o Povo de Deus, aos anciãos, aos jovens, às crianças, aos casais, e deve começar exemplarmente pelo pranto dos ministros do Senhor. Porque todos pecámos. Todos falhámos o alvo da santidade! Por isso, precisamos todos, e muito, de aprender a chorar os nossos pecados, de pedir a Deus o dom das lágrimas, a graça de nos sentirmos pecadores, para alcançarmos o Seu perdão. Só teremos dor do nosso pecado, que é causa da nossa miséria, se tivermos confiança neste Amor de Deus “clemente e compassivo, paciente e misericordioso” (Joel 2,13). Converter-se é deixarmo-nos abraçar, tocar e envolver pela Sua misericórdia, para sermos e nos tornarmos “misericordiosos, como o Pai” (Lc.6,36), tratando a todos misericordiosamente.
2.O segundo apelo vem do apóstolo São Paulo, e concretiza o primeiro: «Reconciliai-vos com Deus». “Ponhamos novamente o sacramento da Reconciliação no centro, porque este permite-nos tocar sensivelmente a misericórdia do Pai” (MV 17). É preciso regressar, de modo renovado, e sem preconceito, ao confessionário. Não basta arrepender-se e pedir perdão, quando se está a sós, diante de Deus. Diz-te o Papa: “Se não fores capaz de falar dos teus erros com o teu irmão (sacerdote), fica a saber que não serás capaz de falar com Deus, e assim acabas por te confessar ao espelho sozinho (…) Confessarmo-nos perante um sacerdote é uma forma de deixar a vida nas mãos e no coração de outra pessoa, que naquele momento age em nome e por conta de Jesus. É um modo de sermos concretos e autênticos, de estarmos perante a realidade, e não nos vermos apenas refletidos no espelho” (O nome de Deus, 38), que nos engana. Procuremos, sem medo, o confessionário, que não é câmara de tortura, mas porta da misericórdia; que não é lavandaria, para branquear os pecados, mas é lugar de cura e remédio, para as nossas feridas. «A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus» (MV, 17).
3.O terceiro apelo é inspirado no evangelho: «Tende cuidado em não praticar as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles». Este é, pois, o tempo das obras de misericórdia, que é preciso praticar, sem dar nas vistas, sem pôr o ar sombrio de quem faz muito sacrifício, mas de cabeça perfumada e cara lavada. «Quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria» (Rm. 12,8). Somos chamados a praticar uma obra de misericórdia, por semana: as corporais na quaresma, e as espirituais no tempo pascal. E somos desafiados a intensificar diariamente, em cada semana, uma certa fórmula de oração. Não por acaso, no evangelho, a oração é colocada entre a esmola e o jejum, práticas destinadas a promover as obras de misericórdia com quem passa fome, sede, frio, desabrigo, doença, prisão, luto ou solidão. “Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia” (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2016).
Com as obras de misericórdia, construiremos, semana a semana, a nossa cruz, a mais alta expressão da misericórdia de Deus! Se nos deixarmos converter por ela, seremos mais capazes de misericórdia com os outros. Nesta Quaresma, “pratica a misericórdia com alegria” (Rm.12,8)porque são “felizes os misericordiosos” (Mt.5,7)!