HOMILIA NO XXXIII DOMINGO COMUM C 2025 | 9.º DIA MUNDIAL DOS POBRES
1.Somos todos pedras preciosas do Templo do Senhor! Assim concluíamos a reflexão do passado domingo. Curiosamente, hoje, escutamos os comentários de alguns ao ver que ‘o Templo estava ornado com belas pedras e piedosas ofertas’. Aquele Templo parecia estar ali de «pedra e cal». Mas Jesus reage, anunciando a sua destruição. Toda a construção terrena tem o seu prazo de validade, tem o seu tempo mais ou menos breve. Mas então o que é que permanece? A única coisa que permanece eternamente é a pessoa humana, criada por Deus, para a eternidade. A pessoa humana é que é verdadeiramente o Templo Santo de Deus, porque é habitada pelo Espírito Santo! Por isso, não podemos pôr todo o nosso enlevo no adorno no Templo, se não cuidamos bem de cada uma das suas pedras preciosas, das suas pedras vivas!
2. Neste 9.º Dia Mundial dos Pobres, o Papa Leão XIV vem recordar-nos que os pobres são dos nossos. Não são um passatempo da Igreja. São os preferidos de Deus, as tais pedras preciosas do Templo do Senhor. São Lourenço, diácono em Roma, ao ser obrigado pelas autoridades romanas a entregar os tesouros da Igreja, «trouxe consigo, no dia seguinte, os pobres. Quando lhe perguntaram onde estavam os tesouros que prometera, mostrou os pobres, dizendo: “Estes são os tesouros da Igreja”». E «que melhores tesouros teria Cristo do que aqueles nos quais Ele mesmo disse que estava?» (DT 38). Não se pode querer um “templo de pedras preciosas” para Deus e descuidar os pobres! São João Crisóstomo exortava os fiéis a reconhecer Cristo nos necessitados: «Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez. [...] No templo, o Corpo de Cristo não precisa de mantos, mas de almas puras; na pessoa dos pobres, Ele precisa de todo o nosso cuidado. (…) Assim deves também tu prestar-Lhe aquela honra que Ele mesmo ordenou, distribuindo pelos pobres as tuas riquezas. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas de ouro». Se não encontramos Cristo nos pobres, tampouco seremos capazes de Lhe prestar culto no altar: «De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem tem fome, e depois ornamenta a sua mesa com o que sobra», dizia São João Crisóstomo (sec. IV-V).
3. Alguns dirão asperamente como São Paulo, «quem não quer trabalhar também não coma». Sim. “Entre os pobres há também aqueles que não querem trabalhar, talvez porque os seus antepassados, que trabalharam toda a vida, morreram pobres. Mas há muitos homens e mulheres que trabalham de manhã à noite, embora saibam que este esforço servirá apenas para sobreviver e nunca para melhorar verdadeiramente as suas vidas” (DT 14). Em Portugal, 9,2% dos trabalhadores são pobres! Muitos são obrigados a mais do que um emprego para suprir despesas básicas da habitação, alimentação ou saúde. Reafirmamos aqui que “o auxílio mais importante para uma pessoa pobre é ajudá-la a ter um bom trabalho, para que possa ter uma vida mais condizente com a sua dignidade, desenvolvendo as suas capacidades e oferecendo o seu esforço pessoal” (DT 115). Por outro lado, se alguém não tem trabalho, não podemos deixar tal pessoa abandonada à própria sorte, sem o indispensável para viver dignamente. Assim, a esmola – as tais piedosas ofertas – continuam a ser um momento necessário de contacto, de encontro e de identificação com a condição do outro (DT 115).
São três coisas: o templo, o tesouro e o trabalho. O templo e o trabalho só cumprem a sua missão se cuidarem do tesouro maior: os pobres. Quem dera fôssemos uma Igreja pobre e para os pobres, dos pobres e com os pobres. Somos já uma Igreja pobre: pobre de meios, mas rica de pessoas, rica de amor! Esse é o nosso maior capital de riqueza, que nada e ninguém poderá destruir ou arrebatar!