HOMILIA NO XXII DOMINGO COMUM C 2025
1. Atravessamos a Porta estreita, entramos em casa e agora estamos à mesa e é preciso ter cuidado para não voltar a engordar, a inchar de orgulho e de interesse. Jesus olha e observa como os convidados correm, como se apressam para conseguir os primeiros lugares. Na realidade, esta corrida aos primeiros lugares, a corrida ao tacho – estamos em período eleitoral – prejudica o bem da comunidade, tanto civil como eclesial, porque arruína a fraternidade. Todos nós conhecemos este tipo de gente: trepadores, que sempre escalam para subir, subir... Danificam a fraternidade, passam por cima dos outros, para alcançar um lugar de honra. Diante desta cena, Jesus conta duas pequenas parábolas.
2. A primeira, sobre a humildade, é dirigida a quem é convidado para um banquete, e exorta-nos a não nos pormos em bicos de pés, a não procurarmos o primeiro lugar. Jesus mostra-nos sempre o caminho da humildade porque é o mais autêntico, e o único que nos permite também ter relações autênticas. Pede-se verdadeira humildade, não falsa humildade! A humildade é obviamente avessa ao protagonismo e ao exibicionismo de quem procura os primeiros lugares, mas também não se confunde com a artimanha de quem se coloca modestamente no último lugar, na esperança de ser convidado a trepar e a avançar. Diria que a Humildade não é escolher nem o primeiro nem o último lugar. Humildade é estar no lugar, para onde o Senhor nos chamar. Humildade é cada um tornar-se o lugar feliz onde o outro se possa realizar!
3. Na segunda parábola, Jesus dirige-se a quem convida e, referindo-se ao modo de selecionar os convidados, diz-lhe: «Quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; e serás abençoado porque eles não têm possibilidade de retribuir». Também aqui, Jesus vai completamente contra a maré, dos que pensam «não há almoços grátis». E Jesus acrescenta uma promessa: se deres sem esperar nada em troca, «receberás a tua recompensa com a ressurreição dos justos». Aqueles que se comportarem desta maneira terão a recompensa divina, muito mais superior do que a recompensa humana, tipo “faço-te este favor esperando que tu me faças outro, dou para que me dês”. A generosidade não é uma troca, é uma cadeia de favores. As relações pessoais, movidas pelo interesse egoísta, transformam-se em relações comerciais, sem verdade e sem gratuidade. Pelo contrário, Jesus convida-nos à generosidade abnegada, a abrir o caminho para uma alegria muito maior: alegria de fazer parte do próprio amor de Deus que nos espera, a todos nós, no banquete celestial. Lembrai-vos disto – dizia o saudoso Papa Francisco, na Vigília da JMJ 2023 (5.08.2023): “Na vida, nada é de graça; tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus”!
4. Irmãos e irmãs: Na perspetiva de um novo ano pastoral, a “abrir caminhos de esperança”, valeria a pena cada um perguntar-se: Qual é o lugar em que o Senhor me quer transformar, para eu servir a comunidade? E nem sequer a verdadeira humildade me dá o direito de dizer: «Eu não sirvo para nada», para, deste modo, esconder a minha soberba e justificar a minha preguiça. Na verdade, “a nossa imperfeição não deve servir de desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante, para não nos acomodarmos na mediocridade, mas continuarmos a crescer” (EG 121), na gratuidade, na humildade, no serviço. Num tempo em que tudo se paga, “trabalhar de graça”, fazer algo de modo gratuito é um verdadeiro e poderoso sinal da manifestação do Reino de Deus.
Mostremos então ao mundo, precisamente a partir da Eucaristia, que afinal “há almoços grátis”. Porque “só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus” (Papa Francisco)!