Liturgia e Homilias no XX Domingo Comum C 2025 (16 e 17 de agosto)

Em pleno mês de agosto, Jesus sobe a temperatura da vida cristã, ateando sobre as nossas vidas o Seu fogo. Bem sei que seria mais agradável mergulhar, em águas doces ou salgadas, do que deitar mais achas para a fogueira. Mas, neste agosto preguiçoso, o combate da fé não conhece tréguas, perante a hostilidade que Cristo e os cristãos têm de suportar. Por agora, fitemos os olhos em Jesus, o guia da nossa fé, e imploremos, para nós e para todos os irmãos, a graça do alimento que nos fortalece e anima, que nos dá a força da perseverança e da resistência na fé e na esperança. Invoquemos a misericórdia do Senhor.

HOMILIA NO XX DOMINGO COMUM C 2025

De fogo e de guerra, de incêndios e de conflitos, estamos todos muito cansados! E vem agora Jesus, em pleno mês de agosto, desassossegar-nos e sacudir-nos com palavras incendiárias», que rompem com a nossa fé morna e a paz cómoda.

1. Eu vim trazer o fogo. De que fogo nos fala Jesus?Na esteira dos profetas bíblicos – pensemos, por exemplo, em Elias e Jeremias – Jesus é inflamado pelo fogo do amor de Deus e, para o fazer arder no mundo, dá-Se em primeira pessoa, amando até ao fim, ou seja, até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8). Ele está cheio do Espírito Santo, que é comparado ao fogo, e com a sua luz e força revela o rosto misericordioso de Deus, derruba as barreiras das marginalizações, cura as feridas do corpo e da alma, renova uma religiosidade reduzida a práticas exteriores. Por isso é fogo: quer dizer, arde, cura, transforma, purifica. O Evangelho de Jesus é então como um fogo: quando irrompe na história, queima os velhos equilíbrios de vida, desafia a sair do individualismo, a vencer o egoísmo, a passar da escravidão do pecado e da morte para a nova vida do Ressuscitado. Quando o Evangelho é acolhido, não deixa ficar as coisas como estão. O Evangelho provoca a mudança e convida à conversão. Acende uma inquietação, que nos põe a caminho, que nos leva a abrir-nos a Deus e aos irmãos.

2. Nesta perspetiva, viver a fé não significa decorar a vida com um pouco de religião. Somos chamados a ser sal e não açúcar. A fé exige que se escolha Deus como critério-base da vida, e Deus não é vazio, Deus não é neutro. A fé em Deus até pode «tranquilizar-nos, mas não como gostaríamos: isto é, não serve para nos proporcionar uma ilusão paralisante, nem uma abençoada satisfação, mas para nos permitir agir» (De Lubac, Sulle vie di Dio, Milão 2008, 184). Em suma, a fé cristã não é uma canção de embalar para nos fazer adormecer. A verdadeira fé é um fogo, um fogo aceso para nos manter acordados e ativos, até durante a noite!

3. Eu vim trazer a divisão. De que divisão de trata?  Jesus não quer dividir as pessoas entre si, bem pelo contrário: Ele é a nossa Paz! Mas esta Paz não é a paz podre dos sepulcros, não é neutralidade. Esta paz não é um compromisso a qualquer preço, a todo o custo, como quer andar de bem com Deus e com o Diabo. Seguir Jesus comporta a renúncia ao mal, ao egoísmo, e a escolha do bem, da verdade e da justiça, mesmo quando isto exige sacrifício e renúncia aos próprios interesses. E isto sim, é que nos divide; como sabemos, divide até os vínculos mais estreitos, dentro da família, em que a opção por Jesus faz toda a diferença. Conhecer, amar e seguir Jesus não é a mesma coisa que não O conhecer, não O amar e não O seguir. A tal «divisão» que Jesus traz significa que o seguimento de Jesus nos distingue, no meio da massa. Mas atenção: não é Jesus que nos divide ou separa! Ele põe-nos, sim, diante de uma escolha: viver para si mesmo ou para Deus e para o próximo; ser servido ou servir; obedecer ao próprio eu, ou obedecer a Deus. Neste sentido, Jesus torna-se um «sinal de contradição» (Lc 2, 34)!

4. Bem sei que este não era bem o discurso que esperávamos! Não é nada apetecível deixar-se incendiar por este fogo, sobretudo quando o verão nos convida a mergulhar em águas refrescantes ou nos tenta a escorregar no lodo do vazio espiritual ou nos seduz a deslizar no lamaçal de uma certa desordem moral. O tempo de férias pode e deve constituir uma pausa no caminho, para o necessário e merecido descanso do guerreiro, neste combate da fé, que, todos os dias, enfrenta a hostilidade, dos que se riem de nós, dos que nos perseguem, com o seu desprezo e desdém. Segundo um dito de Jesus: “quem está próximo de Mim está próximo do fogo; quem está longe de Mim, está longe do Reino” (Orígenes). Quem aceita incendiar o mundo com este fogo do Espírito Santo também é capaz de respeitar e de se demarcar da linha vermelha que separa e divide, até no seio da própria família, os que foram batizados no fogo de Cristo e os que foram batizados em águas passadas!

A gosto do Senhor, deixa clara a linha de fogo que te distingue, no amor a todos e até ao fim. No calor do verão, assume-te cristão!

 

 

 

 

 

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