Liturgia e Homilias XVIII Domingo C (e de todo o mês de agosto 2025)
Destaque

No primeiro domingo de agosto, vêm a contragosto as advertências do sábio Coelet, do apóstolo Paulo e do único Mestre, que é Jesus Cristo. Um alerta vermelho contra o risco da avareza, irmã gémea da cobiça e da soberba. Talvez estivéssemos à espera, em tempo de férias, de uma Palavra mais suave, mais deslizante, menos exigente e menos acutilante. Mas não. A Liturgia da Palavra não nos vende ilusões de verão e enche de sabedoria o nosso coração, para nos tornar ricos aos olhos de Deus e nos fazer aspirar às coisas do alto. Em sintonia com o Jubileu dos Jovens, que se concluo este domingo, em Roma, comecemos esta celebração por reconhecer o que há no nosso coração de vacuidade, de avareza, de mentira, de idolatria. 

HOMILIA NO XXII DOMINGO COMUM C 2025

INSPIRADA EM PAPA FRANCISCO, ANGELUS, 31 DE JULHO DE 2022 E AUDIÊNCIA 24.01.2024

«Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo» (Lc 12, 13). Onde é que eu já ouvi isto, na malfadada história de partilhas entre irmãos?!

1.Respondendo àquele homem, Jesus não entra em detalhes, mas vai à raiz das divisões causadas pela posse dos bens, dizendo claramente: «Guardai-vos de toda a avareza». O que é a avareza? É a ganância desenfreada pelos bens, sempre com a vontade de enriquecer. É o apego ao dinheiro, que impede a generosidade. É uma doença da alma e não da carteira. Ela destrói as pessoas, porque a fome de posse cria dependência, ansiedade e insegurança, medo de perder. Especialmente quem tem muito nunca está satisfeito: quer sempre mais, e apenas para si próprio. Mas assim já não é livre: está apegado, é escravo ao que, pelo contrário devia servir-lhe para viver livre e sereno. Em vez de se servir dodinheiro, torna-se servo do dinheiro. Mas a avareza é uma doença perigosa e contagiosa, até para a sociedade: por causa dela, hoje chegamos a formas de injustiça sem igual, onde poucos têm muito e muitos têm pouco ou nada. Pensemos nas guerras e nos conflitos: na raiz há quase sempre a ânsia pelos recursos e riquezas. Quantos interesses há por detrás de uma guerra!

2.Hoje Jesus ensina-nos que, no centro de tudo isto, não há apenas algumas pessoas poderosas ou certos sistemas económicos: no centro está a avareza que se instala como um vírus no coração de cada um. Então procuremos perguntar-nos: Como vai o meu desprendimento dos bens, das riquezas? Queixo-me do que me falta ou estou satisfeito com o que tenho? Sinto-me tentado, em nome do dinheiro e das oportunidades, a sacrificar relações e tempo pelos outros? Além disso, estou tentado a sacrificar a legalidade e a honestidade no altar da avareza? Eu disse “altar”, altar da avareza, mas por que disse eu «altar»? Porque os bens materiais, o dinheiro, as riquezas podem tornar-se um culto. Sim, a avareza é uma verdadeira idolatria, disse São Paulo (Cl 3,5). Por conseguinte, Jesus diz que não se pode servir a dois senhores, e – atenção! - não diz servir a Deus e ao Diabo, nem diz “servir o bem e o mal”, mas diz «servir a Deus e as riquezas». Servir-se das riquezas, sim; servir a riqueza não.

3.E então – podemos pensar – não se pode desejar ser rico? É claro que se pode, aliás, é correto desejá-lo, é bom ser rico, mas rico aos olhos de Deus! Deus é o mais rico de todos: é rico em compaixão, em misericórdia. A sua riqueza não empobrece ninguém, não cria disputas nem divisões. É uma riqueza que gosta de dar, distribuir, partilhar. Então, perguntemo-nos: Como quero enriquecer? Quero enriquecer, aos olhos de Deus, ou segundo a minha avareza? Que herança quero deixar? Dinheiro no banco, coisas materiais, ou pessoas felizes à minha volta, boas obras que não serão esquecidas, pessoas que ajudei a crescer e amadurecer? Irmãos, irmãs, acumular bens materiais não é suficiente para viver bem, pois “a vida não depende da abundância dos bens” (cf. Lc 12, 15). Ao contrário, depende das boas relações: com Deus, com os outros, e também com quem possui menos.

4.Para curar esta doença, os monges do deserto propunham um método drástico, mas eficaz: a meditação sobre a morte, porque a avareza é uma tentativa de exorcizar o medo da morte: procura seguranças que na realidade se desfazem no exato momento em que nos agarramos a elas. Por mais que uma pessoa acumule bens neste mundo, eles não caberão no caixão. Não podemos levar os bens connosco! O vínculo de posse que construímos com as coisas é aparente, pois não somos donos do mundo: na verdade, esta terra que amamos não é nossa; movemo-nos nela como forasteiros.

Peregrinos de esperança,respira e aspira às coisas do alto!

 

 

 

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