Homilia na Solenidade do Corpo e Sangue de cristo C 2025
Esquema 1: Eucaristia, fermento e alimento da esperança
Em Ano Jubilar da Esperança, encontramos na Eucaristia o fermento e o alimento da esperança, o pão e o vinho do peregrino, para o seu caminho em direção ao céu! Verdadeiramente, a Eucaristia alimenta a nossa esperança, até que o Senhor venha e nos alcance, na Sua vinda gloriosa. De muitos modos e, pelo menos, em três sentidos, a Eucaristia fermenta e alimenta a nossa esperança:
Em primeiro lugar, a Eucaristia fermenta e alimenta a esperança de um mundo melhor, porque nos transforma n’Aquele (Cristo) que comungamos! Não é só o Pão e o Vinho que se transformam no Corpo dado e no Sangue derramado de Jesus. Também nós somos transformados n’Aquele que comungamos! E, assim transformados, recebemos no Pão e no Vinho eucarísticos, o alimento e a força, para transformarmos o mundo à nossa volta, tornando-nos, nós próprios, pão partido e repartido, sangue dado e vida sacrificada pelos outros. A Eucaristia que nos transforma a nós, torna-nos fermento de transformação e de mudança. Sem transformação pessoal, não há mudança à nossa volta e sem esta mudança não há qualquer esperança de um mundo novo. É a mudança que abre verdadeiramente caminhos à esperança! A Eucaristia é, em si mesma e em nós, um fermento de transformação, um alimento de esperança.
Em segundo lugar, a Eucaristia faz-nos sentar à mesma mesa da Palavra e do Pão da Vida, faz-nos companheiros, pessoas que comem e partilham um mesmo Pão. A Eucaristia converte-nos assim em irmãos, até porque faz correr nas nossas veias o mesmo Sangue de Cristo e assim é terapia para a nossa fraternidade ferida. Vede: nas orações e nos gestos da Eucaristia, ressoa sempre o «nós» e não o «eu». Esta transformação do «eu» em «nós», desta saída de nós mesmos, atuante na Eucaristia, é uma força de esperança, na construção de um mundo de irmãos, de um mundo mais unido! Este Pão da Unidade é um fermento de transformação num mundo tão dividido entre «nós e os outros». E por isso a Eucaristia fermenta e alimenta a esperança de um mundo mais fraterno, de um mundo mais unido, de um mundo em paz.
Em terceiro lugar, a Eucaristia fermenta e alimenta a nossa esperança nos novos céus e na nova terra. Ela dá-nos um Pão vivo descido do Céu (Jo 6,51). É o Pão do futuro, que já agora nos faz saborear um futuro infinitamente maior do que as nossas mais risonhas expetativas. É o Pão que sacia os nossos maiores anseios e alimenta os nossos mais belos sonhos. Sempre que comemos deste pão e bebemos deste Sangue, anunciamos a Morte e a Ressurreição do Senhor «até que Ele venha» (1 Cor 11,26). Vede: a Eucaristia dilata a nossa esperança, até ao dia em que Jesus comerá connosco a Páscoa definitiva (cf. Lc 22,16)e beberá connosco o vinho novo no Reino de Seu Pai (cf. Mt 26,29;Mc 14,25). A Eucaristia é anúncio da Páscoa do Senhor, até que Ele venha. Ora, anunciar a morte do Senhor até que Ele venha é anunciar, por meio de gestos concretos, a dádiva completa da nossa vida por amor. Se assim for, a Eucaristia tornar-se-á, para nós sustento e encorajamento, fermento e alimento de esperança, no dom dos novos céus e da nova terra!
Que a celebração de cada Eucaristia – seja sempre vivida como a primeira, a única e a última – e faça de nós peregrinos de Esperança, cristãos empenhados em «apressar» essa nova Terra, que desce do Céu. Sim. “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar de esperança o nosso caminho” (cf. São João Paulo II, Ecc. Euc. n.º 19).
Eis porque te queria desafiar, querido irmão, querida irmã: Toma este Pão e este Vinho, como força e viático para o Teu caminho de peregrino de esperança até que o Senhor venha e te sente à mesa do Seu banquete celeste! Ámen.
HOMILIA NA SOLENIDADE DO CORPO E SANGUE DE CRISTO C 2025
Esquema 2: bendizer e dar: duas formas de viver a Eucaristia
A Palavra de Deus ensina-nos hoje a conjugar dois verbos simples, mas essenciais para vivermos a Eucaristia, nos gestos mais simples de cada dia: bendizer e dar.
Bendizer: Ouvíamos, na 1.ª leitura, as palavras de Melquisedec: «Bendito seja o Deus Altíssimo» (Gn 14, 19-20). O dizer de Melquisedec é um bendizer. As palavras de bem geram uma história de bem, são uma bênção que se propaga! O mesmo acontece no Evangelho: «Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes e levantando os olhos ao Céu, pronunciou sobre eles a bênção, partiu-os e dava-os aos discípulos para que os distribuíssem pela multidão» (Lc 9, 16). De cinco pães, a bênção faz-se alimento para uma multidão: uma simples oração de bênção faz brotar uma cascata de bem! Pressente-se já aqui o sabor eucarístico desta palavra de bênção, porque nos remete para o gesto de Jesus na Última Ceia, que escutamos numa das Orações Eucarística (III): “Na noite em que Ele ia ser entregue [Jesus] tomou o pão, dando graças Vos bendisse … De igual modo, no fim da Ceia, tomou o cálice, dando graças Vos bendisse”. De facto, para Jesus não se tratava de abençoar ou de benzer o pão ou o vinho, mas, sobretudo de bendizer a Deus Pai. Ao pronunciar aquela bênção, Jesus dirige ao Pai uma bela oração de louvor.Hoje, em cada Eucaristia, o sacerdote toma o pão e o vinho, em suas mãos e, como Jesus, «bendiz» os frutos da criação, o pão e o vinho, que se transformam em bens de salvação. A Eucaristia é toda ela uma oração de bênção, de louvor, de ação de graças. A Eucaristia ensina-nos a louvar, a bendizer, a agradecer. Não sejamos pessoas maldizentes, nem mal-agradecidos. Sejamos pessoas que sabem bendizer, dizer bem, agradecer.
Dar. Bendizer transforma a palavra em dádiva. Se o coração bendiz por algo que recebeu de Deus, tal gratidão traduz-se necessariamente em partilha com os irmãos. Quem se sabe agraciado por um dom tão sublime torna-se fonte de bênçãos para os outros. Daí que o verbo dar seja inseparável do verbo dizer, dizer bem, bendizer. Melquisedec bendisse Abrão e deu a sua oferta. Jesus bendisse pelos pães e pelos peixes e logo os dava. Os verbos usados, depois da oração de bênção, são muito claros; «partir, dar, distribuir» (cf. Lc 9, 16). O verbo de Jesus não é ter, mas é dar. Na economia do Evangelho, as contas de multiplicar fazem-se realmente a dividir.
3. Tiremos destes dois verbos três atitudes eucarísticas para a nossa vida, que se concretizam numa sugestão muito prática:
3.1. Em primeiro lugar, sejamos pessoas capazes de dizer bem, de bendizer, mais prontas para louvar a Deus e elogiar os outros, para agradecer, do que para se lamentar ou dizer mal da sua vida ou dos outros. Que a Eucaristia seja uma escola, em que se aprende a língua do louvor que liberta e cura, a língua do elogio e da gratidão.
3.2. Em segundo lugar, sejamos pessoas que gostam de dar e de se dar. Aquilo que temos só produz fruto se o dermos aos outros. E não importa se é pouco ou muito o que temos. Não lamentemos o pouco: o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada. O Senhor diz-te também a ti: «Dá-lhes tu de comer». Deus não realiza prodígios com ações espetaculares. O amor de Deus é todo-poderoso porque faz grandes e belas coisas com coisas muito pequenas e através dos mais pequeninos.
3.3. Uma forma de mantermos vivo este sentido eucarístico é fazermos a bênção da mesa, pelos menos e cada domingo. Tal oração de bênção “recorda-nos que a nossa vida depende de Deus, fortalece o nosso sentido de gratidão pelos dons da criação, dá graças por aqueles que com o seu trabalho fornecem estes bens e reforça a solidariedade com os mais necessitados” (Papa Francisco, Laudato Sí, 227).
Irmãos e irmãs: somos abençoados, abençoemos; somos benditos, bendigamos. Somos saciados, alimentemos. Sejamos em tudo Eucaristia para os outros, isto é, bênção e doação. Sejamos, à imagem de Jesus, Pão repartido pela Vida do mundo.