Homilia na Festa em honra de Nossa Senhora da Hora 2025
«Esperança nossa, salve»!Com esta saudação, o Povo de Deus volta-se, para Maria, quer nas horas de tristeza, quer nas horas de alegria. Ao longo da história, mergulhados, quantas vezes, em vales de lágrimas, sem perspetivas de melhores dias, os fiéis ergueram os olhos para o Alto e fixaram o seu coração «na Estrela de mais brilho nesses céus»: Maria, Mãe e Estrela do Mar, a Estrela da Esperança. Convido-vos a desfiardes comigo os mistérios do Rosário, para celebrarmos a Virgem Maria, Mãe da santa esperança:
1.Contemplemos osmistérios gozosos da infância de Jesus. Fixemos os olhos em Maria, grávida, mulher de esperanças. Maria não sabia como poderia tornar-se mãe, mas confiou-Se totalmente ao mistério que estava para se cumprir, e tornou-Se Mulher da esperança (Papa Francisco, Discurso, 21.11.2013). Maria esperou com inefável amor e firme confiança o dom do Seu Filho, como só as mães sabem esperar. Só as mulheres, à espera de ser mães, sabem o que significa esperar. Esperar é o infinito do verbo amar” (Ermes Ronchi, A dança dos ventres, pág. 42). Maria esperou tanto o Filho, que O concebeu e alcançou. Maria dá corpo e dá à luz a Esperança, isto é, dá corpo e alma, sangue e vida, à Esperança, que tem rosto humano em Jesus, nascido do Seu seio virginal. Por isso, enquanto há esperança há vida. Quando falta a esperança, sobram os berços vazios. Olhando para Maria, aprendemos a esperar: quem espera a Deus ou espera de Deus sempre O alcança!
2.Nos trinta anos de silêncio de Jesus, Maria nada viu de especial, mas esperou, dia a dia, com humilde paciência, e na luz da fé, a Hora da revelação de Seu Filho, até que tudo se esclarecesse. “Como todas as mães, cada vez que olhava para o Filho pensava no seu futuro” (SNC 24).
Nos mistérios luminosos da vida pública de Jesus, Maria afirma-se menos como Sua Mãe, e mais como Sua discípula, discreta seguidora de Seu Filho. Nesta fase da vida de Jesus, Maria destaca-se, em pouco mais do que nas Bodas de Caná. Aí Maria é a Mãe da esperança, atenta e solícita em relação às coisas humanas. Em Caná, Maria não espera sentada ou calada. «Longe de se calar, fala; longe de ser passiva, age; longe de provocar uma situação desagradável, assume a responsabilidade na situação, organizando as coisas de maneira a beneficiar quem precisa. As suas palavras têm um toque de profecia; lamenta o facto, mas anuncia ao mesmo tempo uma esperança” (Elisabeth Johnson). Em Caná, quando parecia não haver uma saída, Maria confia tudo a Jesus. Confia n’Ele e confia-Se a Ele. Faz a sua parte e envolve a todos na parte que lhes toca. Maria não perde a esperança de um sinal da parte de Jesus. Graças à sua intercessão e ao envolvimento de todos, a esperança transbordará como vinho novo em todos os corações. Vede um tão belo sinal de esperança: em Caná, o vinho melhor é servido no fim e parece dizer-nos que a felicidade não faz parte do passado, o futuro não está atrás das costas; o melhor dos nossos dias está ainda por vir, florir e acontecer. Agarrados à âncora da esperança, sabemos que «o mais belo dos nossos filhos ainda não cresceu; os mais belos dos nossos dias ainda não os vivemos»” (Hikmet, cit. Papa Francisco, Esperança. A autobiografia, p. 337).
3. Nos mistérios dolorosos do Senhor Jesus, encontramos Maria, de pé, firme, junto à Cruz. Maria poderia dizer: «não se cumpriram as promessas, fui enganada». Mas não o diz. Maria não desesperou pela demora e pela surpresa da Hora de Jesus. Maria não conhecia o desfecho de Ressurreição. Pela sua fé, Maria aguardou, em esperança, o amanhã de Deus. Com tudo realmente perdido, Maria esperou contra toda a esperança(Rm 4,8). Está ali por fidelidade ao plano de Deus, mas também – obviamente – por causa do seu instinto de mãe: a mãe que sofre cada vez que um filho sofre. Maria, na Hora da Cruz, é a irmã de muitas mães que choram a morte de seus filhos, é a irmã dos pobres e oprimidos, dos atribulados, dos insignificantes e dos fora-de-lei, das mães e das crianças de Gaza, dos imigrantes e refugiados odiados e expulsos. Depois da morte de Jesus, a única lâmpada acesa no sepulcro de Jesus é a esperança da Mãe, que naquele momento é a esperança de toda a Humanidade (Papa Francisco, Discurso, 21.11.2013). Nos momentos de dificuldade, Maria ampara os nossos passos no escuro e diz-nos: «Levanta-te! Olha em frente». «Não estou aqui Eu que sou tua Mãe? (EG 286)».
4.Nos mistérios gloriosos, vivemos a Páscoa do Senhor com Maria, Mãe da Esperança. Maria esperou, unida em oração com os discípulos, o dom do Espírito Santo, que infunde a tal esperança que não engana (Rm 5,5). Tendo completado o percurso da sua vida terrena, Maria participa já da glória da Ressurreição. Em Maria, elevada aos céus e coroada de glória, vemos que a meta da nossa esperança é a vitória do amor sobre a morte: a Ressurreição. Hoje perdeu-se esta grande esperança e contentamo-nos com esperanças de curto alcance. Precisamos de uma esperança que nos dê alento, nos infunda paciência e dilate o nosso coração para as coisas grandes e profundas da nossa alma. Precisamos de Maria, como sinal e instrumento desta esperança!
5.Na glória do céu, Maria é ainda, na Terra, a esperança nossa. É a Stella Maris, a Estrela do Mar, a esperança segura de que, nas tempestuosas vicissitudes da vida, Ela vem em nosso auxílio, apoia-nos e convida-nos a ter fé e a continuar a esperar e a amar. Maria permanece assim como «sinal de segura esperança e de consolação para o Povo Peregrino» (LG 68), até que brilhe o dia glorioso do Senhor! Bem podemos, ontem, hoje e sempre, rezar-Lhe e cantar-Lhe: «Salve, Rainha… Esperança nossa, salve».