Homilia no V Domingo de Páscoa C 2025
1. «Eis que eu renovo todas as coisas» (Ap 21, 5). Que palavra tão esperançosa, esta que ouvimos, a partir do livro do livro do Apocalipse. Este livro não é o anúncio ou o prenúncio de uma desgraça total, no final dos tempos. Escrito em tempos de perseguição dos cristãos, sob o domínio do imperador romano, é, pelo contrário, a revelação da grande esperança no amor mais forte que o ódio e a morte: o mal não prevalecerá, porque Cristo já venceu o pecado e a morte. Ele nos tornará vencedores com Ele. Por isso, o melhor ainda está por vir! E o fim, por que esperamos, será um fim glorioso de acabamento e não de destruição, de plenitude e não de vazio.
2. O vidente, São João, ensina-nos não a ler o futuro à luz do presente, marcado pelo sofrimento, pela dor, pelo pranto da morte; mas a ler o presente à luz do futuro, em que Deus enxugará todas as lágrimas. Ele faz-nos antever e entrever, como meta, um mundo sem morte, sem luto, sem gemidos, sem dor (Ap. 21, 3-5). Esta é a grandiosa visão da esperança cristã! O vidente do Apocalipse fala-nos desta esperança, com as imagens de um novo céu, de uma nova terra, em que o mar já não existia, esse mar que era visto como esconderijo de todas as forças do mal. Fala-nos da cidade santa, da nova Jerusalém, da nova aliança entre Deus e o seu Povo, comparável à do encontro nupcial do Esposo com a Esposa, de Deus com a Humanidade, de Cristo com a Igreja, em que se partilha a intimidade da mesma morada e da mesma mesa. Esta é a nossa esperança. O Apocalipse não é um apagão de medo e de escuridão; é um clarão de esperança, no caminho da nossa peregrinação!
3. É frequente, quando vivemos um cenário medonho e escuro, tremendo e terrível, dizermos que «está perto o fim do mundo», ou que «o mundo está a acabar». No Apocalipse, é realmente tudo ao contrário: se o mundo está mal, é ainda um mundo por acabar, é ainda um mundo a transformar, é ainda um mundo longe do seu fim. Mas se nós esperamos um mundo novo, novos céus e nova terra, não o esperamos sentados, paralisados. Não. Lutamos e trabalhamos todos os dias, para apressar a vinda desse mundo novo que desejamos. Pois – assim o acreditamos e o esperamos – os dias melhores, ainda estão para vir, conforme a promessa do Senhor:
4. «Eis que faço novas todas as coisas» (Ap 21, 5).Deus cria sempre novidades na vida do homem, no mundo, na Igreja. Esta Páscoa de 2025 que estamos a viver, em pleno ano jubilar, com a morte do Papa Francisco e a eleição do Papa Leão XIV, é um claro sinal pascal, um clarão de esperança, a mostrar-nos que o nosso Deus é sempre capaz de nos surpreender. É o Deus da novidade, o Deus das surpresas, o Deus que faz novas todas as coisas! O futuro não está atrás das costas. Não. Somos verdadeiros peregrinos de esperança, com saudades do futuro (F. Pessoa), do futuro que está à nossa frente. Os nossos dias mais bonitos ainda estão para vir!
5. Não resisto a partilhar convosco um excerto da Autobiografia do Papa Francisco, em que ele escreveu estas palavras de esperança: «Estai seguros: a realidade mais profunda, mais feliz, mais bela, para nós mesmos, para quem amamos, está para chegar. Mesmo que uma estatística vos dissesse o contrário, mesmo que o cansaço tivesse enfraquecido as forças, nunca percam esta esperança que não pode ser vencida. Rezai, dizendo estas palavras, e se não conseguis rezar, sussurrai-as no vosso coração, sussurrai-as também aos desesperados, àqueles com pouco amor: o melhor vinho está ainda por servir (…) Agarrados à âncora da esperança, poderemos dizer com os versos de Hikmet que “o mais belo dos mares é aquele que não navegamos; o mais belo dos nossos filhos ainda não cresceu; os mais belos dos nossos dias ainda não os vivemos; e ainda não te disse a coisa mais bela que gostaria de te dizer”» (Papa Francisco, Esperança - A autobiografia, pp. 336-337).
Irmãos e irmãs: Lutemos e trabalhemos por apressar e alcançar a cidade santa, os novos céus e a nova Terra, por que tanto esperamos e sonhamos. Sejamos pessoas de Primavera e não de outono, pois os dias melhores ainda estão para vir!