Homilia no IV Domingo de Páscoa C 2025
Ressuscitou o Bom Pastor, o Cordeiro imolado e de pé, Cristo morto e ressuscitado, que deu a vida por nós! A bucólica figura do Bom Pastor (Sal. 22/23), que Jesus aplica a Si mesmo, é uma das mais belas e sugestivas imagens da nossa esperança cristã.
1. Disso tiveram clara certeza os primeiros cristãos. Quase no final do século terceiro, e pela primeira vez, em Roma, num sarcófago (ou sepultura) de um menino, aparece-nos desenhada a figura de Cristo, filósofo e Pastor. Como filosofo, Jesus segura, numa mão, o evangelho! Ele é a Sabedoria de Deus. Mas na outra mão, Jesus segura o bastão de Pastor. Assim a mensagem da esperança é clara: Jesus não só nos indica o caminho da vida, como nos acompanha, guia e conduz, na morte e para lá da morte! A imagem do Pastor já não é tanto a expressão do sonho de uma vida serena e simples, de que as pessoas, na confusão da grande cidade, sentiam saudade. Doravante, o Bom Pastor torna-se a imagem da grande esperança na vida eterna, porque o Cordeiro, que Se tornou o nosso Pastor, conduz-nos às fontes de água viva, às fontes da vida eterna, daquela vida que jamais se despenha nos vales tenebrosos da morte, pois é uma vida arrebatada por Cristo, para ser entregue às mãos do Pai. Jesus, o Bom Pastor, dá-nos a vida eterna e, por isso, não morreremos para sempre. Ele, vencedor da morte, enxugará todas as lágrimas dos nossos olhos. Jesus Cristo é, pois, o verdadeiro Pastor, precisamente porque é Aquele que conhece o caminho que passa pelo vale da morte! O verdadeiro Pastor, Jesus Cristo, é Aquele que, mesmo na estrada da derradeira solidão, onde já ninguém me pode acompanhar, caminha comigo, servindo-me de guia ao atravessá-la (cf. Spe Salvi,6)! “A certeza de que existe Aquele Pastor que, mesmo na morte, me acompanha e com o seu «bastão e o seu cajado me conforta», de modo que «não devo temer nenhum mal», esta é a nova «esperança» na vida dos cristãos” (Bento XVI, Spe Salvi, 6)! A nossa grande esperança na vida eterna encontra na imagem do Bom Pastor uma das suas mais belas expressões!
2. Esta imagem do Bom Pastor é ainda um sinal de esperança, porque o Bom Pastor – que deu e dá a vida por nós – chama-nos a segui-L’O e a dar a nossa vida, por Ele, aos outros. Ele chama-nos a sairmos de nós mesmos, a sairmos das nossas zonas de conforto, das nossas tendas habituais, dos nossos adros paroquiais, para trilharmos um caminho de amor e serviço a todos. Precisamos, como Paulo e Barnabé, de alargar os horizontes da nossa missão, de ir e sair para lá do redil. Somos desafiados a levar a salvação aos pagãos, aos descrentes, e até aos confins da terra, isto é, até aos mais distantes, até aos mais ausentes, até aos não praticantes, mas que, tantas vezes, dão sinais de estar a morrer de fome e de sede de Deus ao pé das nossas fontes! Precisamos de os conduzir a estas fontes, com um acolhimento caloroso, uma palavra libertadora e uma esperança misericordiosa.
3. Neste Jubileu da Esperança, peçamos ao Senhor, que nos torne dignos da vida eterna, através do dom total da nossa própria vida aos outros. Cada vocação na Igreja “é sinal daquela esperança que Deus nutre por cada um dos seus filhos” (Papa Francisco, Mensagem para o 62.º Dia Mundial de Oração pelas vocações). Ao chamar-nos até Ele, para nos levar ao encontro dos outros, Deus espera de nós, confia em nós, tem esperança e confiança na nossa resposta de amor. Mas, ao mesmo tempo, cada vocação cristã, a começar pela do Matrimónio, só subsiste, se for animada pela esperança firme de que Aquele que nos chama é fiel e fiável. Só nesta esperança do Senhor em nós… e da nossa esperança no Senhor… é possível arriscar e dar a vida toda pelos outros. Por isso, cada vocação é testemunha da esperança de Deus em nós e da nossa esperança no Senhor. Se já não esperarmos nada de Deus, tampouco os outros poderão esperar alguma coisa de nós!
Irmãos e irmãs: Deus espera em nós, espera tudo de nós. Esperemos n’Ele. Esperemos tudo d’Ele. Tornemo-nos peregrinos e testemunhas de esperança, que anunciam, com uma vida dada, que seguir Cristo é uma fonte de profunda alegria! Dêmos um «sim» de amor, ao Bom Pastor, imagem da nova esperança (cfr.Spe Salvi, 6).