Homilia na Vigília PascalC 2025 *
1. No meio da noite, acendemos o círio pascal, como quem acende a chama viva da nossa esperança, “uma tocha que nunca se apaga” (SNC, n.º 2): “Cristo Ressuscitado de entre os mortos, Aquele astro da Manhã que não tem ocaso, ilumina o género humano com a sua luz e a sua Paz” (cf. Precónio Pascal). Escutámos longamente a Palavra de Deus, que nos levou, de etapa em etapa, de promessa em promessa, de passo em passo, ao passo decisivo e surpreendente da Páscoa de Cristo. Nenhuma Promessa e nenhuma esperança, antes da Páscoa de Cristo, podia augurar a Ressurreição, podia imaginar a pedra removida do sepulcro ou esperar encontrar o sepulcro vazio. Este é, sem dúvida, o grande acontecimento, o maior da história da salvação. Ao ressuscitar Jesus, Deus excede tudo o que se poderia esperar ou imaginar. A Ressurreição de Cristo é, para as mulheres e para os apóstolos, para todos os discípulos, muito mais do que o cumprimento final de uma promessa feita aos nossos pais, muito mais do que a realização prometida de uma esperança humana. A Ressurreição de Cristo abre-nos a vida e a morte à grande esperança da nossa própria Ressurreição!
2. São Jerónimo falava de uma tradição apostólica, segundo a qual Cristo voltaria glorioso durante a noite de Páscoa. No seu tempo, não era permitido, na vigília pascal, despedir o povo antes da meia-noite, porque até àquele momento, segundo a palavra de Jesus (cf. Mt 25,6; Mc 13,35), seria sempre possível que acontecesse a vinda gloriosa de Cristo. Esta tradição liga a Páscoa à Parusia, isto é, liga a Páscoa, não tanto à memória de um acontecimento passado, mas à esperança de um futuro glorioso, projetado para o encontro definitivo com Cristo, na sua última vinda gloriosa. A Vigília Pascal torna-se então uma liturgia de esperança, representada nesta chama viva acesa do lume novo, no círio pascal, “em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, Se levanta vitorioso do túmulo (…) em que a noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz” (Precónio Pascal).
3. A esperança é, sem dúvida, a alma e o coração da vigília pascal. “Nesta vigília - escreve Santo Agostinho – “nós não esperamos o Senhor, como se devesse ainda ressuscitar dos mortos, mas renovamos, com solenidade anual, a memória viva da sua ressurreição”, que penetra o mundo e a história para sempre. “Quanta alegria na lembrança da Paixão e da Ressurreição de Cristo; quanta alegria na esperança da vida futura. Se tanta alegria traz a esperança, o que será a posse plena desta vida nova da Ressurreição”?
4. Esta vida nova da Ressurreição já está ativa em nós, pelo Batismo, mas é ainda, como a semente na terra, uma «vida escondida com Cristo em Deus» (Cl 3,3), uma vida que só se manifestará plenamente na futura ressurreição. Por isso, a esperança busca sempre o que há de vir, o que ainda não se vê. A esperança do que se vê não é esperança! Esperemos o que ainda não vemos (Rm 8,24-25)e se há de manifestar. Sim. A Ressurreição é uma Promessa cumprida em Jesus para nós, mas é também uma Promessa ainda por se cumprir plenamente em nós. Na verdade, Cristo ressuscita não apenas antes de nós, mas também por nós. E nós ressuscitaremos não apenas depois d’Ele, mas por meio d’Ele, graças a Ele. Cristo Ressuscitado é o rosto e o fundamento, a fonte e a razão da nossa esperança!
5. Irmãos e irmãs: Levai a todos este anúncio: «Ressuscitou Cristo, nossa Esperança. Tende confiança. A Páscoa é a âncora da nossa esperança. Tende confiança. A Esperança não nos engana. Tende confiança. Que nesta Páscoa do Ano Jubilar, o Senhor vos encha a todos de alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pelo poder do Espírito Santo. Ámen. Aleluia. Aleluia» (cf. Diálogo da Visita Pascal 2025).
* Nota:
Sugere-se esta Homilia na Vigília Pascal, mas pode fazer-se, sem prejuízo, a Homilia prevista para o Domingo de Páscoa.
Esta última desenvolve-se a partir do diálogo inscrito na Sequência Pascal (texto a seguir à 2.ª leitura de domingo) e conclui com o diálogo proposto para a Visita Pascal.