Liturgia e Homilias no 2.º Domingo da Quaresma C 2025
Destaque

Peregrinos de esperança, rumo à Páscoa, encontramo-nos, de novo, junto do Senhor, que nos chama a subir com Ele ao monte santo da transfiguração, para nos abrir novos horizontes no caminho da esperança. No passado domingo, ancorávamos em Cristo a nossa vida, partindo com Ele, para o deserto. Foi o nosso ponto de partida, para sair da terra da escravidão. Neste 2.º domingo da Quaresma, fixamos agora os olhos noutra pátria, na meta última da nossa peregrinação: a nossa transfiguração, a nossa transformação em Cristo.

Homilia no 2.º Domingo da Quaresma C 2025

1. Abraão goza do conhecido título de nosso pai na fé. Mas, pela sua confiança firme na Promessa de Deus, também podia ser chamado nosso pai na esperança. Já de idade avançada, é levado para fora de casa e convidado a contar e a contemplar as estrelas. Deus chama-o a sair da sua terra, da sua zona de conforto, a deixar tudo, em nome de uma Pátria que desconhece, a troco de uma descendência que a idade não lhe prometia.  Chamado para Deus, para encetar uma nova história, quando pensava que a sua vida estava no fim, Abraão entende o apelo divino como um desafio.  Para vencer a dúvida e continuar a acreditar, Abraão teve de sair do seu pequeno horizonte (“levou-o para fora”), teve de mudar a direção do olhar para o alto («olha as estrelas») e não esquecer que o poder de Deus é grande. Abraão acreditou (Rm 4,3), isto é, confiou. Confiar-se a Deus é a única relação correta com Ele. A esperança de Abraão tornou-se decisiva e maior porque acreditou em Deus, mesmo quando toda a esperança humana se esvaía por completo. Todavia, a esperança abre-lhe novos horizontes, torna-o capaz de sonhar o imaginável. Na verdade, a esperança não se apoia em garantias ou sinais, mas só em Deus, como seu fundamento. A esperança fá-lo entrar na escuridão de um futuro incerto, para caminhar na luz de Deus. É bela a virtude da esperança: abre novos horizontes no caminho, é uma força para caminhar na vida. Abraão pôde dizer a cada passo do seu caminho em direção á Terra Prometida: No caminho, eu confio em Ti!

2. Com Abraão, começa a história bíblica da esperança. O futuro prometido e esperado é simples:  uma Terra e uma descendência numerosa (cf. Gn 12,1). Aqui a esperança não chega ainda ao Céu. É uma esperança para esta vida. Mas Abraão, que esperou contra toda a esperança, diz-nos que não é a terra nem a descendência que nos garantem o futuro. Para ter futuro é preciso ter Deus.  E, por isso, no caminho de Abraão, já se adivinha o desejo de uma Pátria melhor (cf. Hb 11,16)e a esperança da ressurreição. São Paulo diz-nos hoje: «a nossa Pátria está nos céus, donde esperamos como Salvador o Senhor Jesus Cristo». Ele é que «transformará o nosso corpo miserável para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso» (Fl 3,20-21)!

3. Por isso e para isso, é que Jesus nos convida a pôr os olhos nas alturas. Faz-nos ancorar a nossa vida no monte santo da Transfiguração. Quando a subida do caminho da Cruz começava a cansar e a assustar os discípulos, Jesus encorajou-os e ofereceu-lhes a visão antecipada do futuro, mostrou-lhes a meta do caminho: a sua Páscoa gloriosa. Na verdade, ao tomar consigo Pedro, João e Tiago, Jesus quer elevar os seus corações até às alturas da Pátria celeste. Jesus não quer poupar os discípulos à dureza da Cruz, mas quer ajudá-los a ver mais longe, a alcançar avisão completa do mistério pascal, da sua paixão, morte e ressurreição. Sobe com eles ao alto monte, porque “só do alto da esperança vemos nós a vida toda”, como escreveu Fernando Pessoa, com tanta graça: “Do alto da torre da igreja / Vê-se o campo todo em roda. / Só do alto da esperança / Vemos nós a vida toda”.

4. Mas os discípulos não podem ficar ali e para sempre ancorados, extasiados, paralisados. Têm de recolher a âncora e desmontar a tenda, para prosseguir o caminho, como peregrinos de esperança, que não têm aqui morada permanente. Eles que viram Jesus transfigurar-se enquanto orava, precisam agora de guardar silêncio, de escutar a voz do Eleito, de rezar, de meditar, de recolher tudo o que lhes foi dado ver. Agora devem despertar do sono e do sonho, vencer as sombras e o medo e ter a coragem de seguir Jesus, pelo caminho da Cruz, em silêncio, calados, sem perguntas, como que balbuciando a cada passo, em direção à Páscoa:  no caminho eu confio em Ti!

5. Por isso, o desafio que vos deixamos nesta 2.ª semana é o de subir às alturas de Deus, é o de rezar, rezar mais, rezar melhor, rezar mais intensamente, para que o nosso olhar, a nossa vida, o nosso corpo, a nossa alma, se transfigurem à imagem do corpo glorioso do Senhor. O caminho é duro. A meta é a Páscoa gloriosa. Ancoraja-te e reza!

 

 

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk