Liturgia e Homilias no XXXI Domingo Comum B 2024
Destaque

Estes primeiros dias de novembro, com a solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, fizeram-nos sentir verdadeiramente peregrinos de esperança. Ao iniciarmos hoje a Semana de Oração pelos Seminários, brota do nosso coração peregrino a pergunta do salmista: «Que posso eu esperar» (Sl 39,8)? Olhar o futuro com esperança é próprio daqueles que confiam; é uma resposta a um amor primeiro e último: o amor de Deus. Por isso, olhamos aqueles que ensaiam, diariamente, esta atitude de esperançar; aqueles que esperam pelo discernimento da sua vocação e se abrem à possibilidade de uma continua interrogação, nomeadamente à hipótese da vocação sacerdotal, ainda no seio das suas famílias, nos seminários, no mercado laboral, ou em qualquer outro ambiente ou contexto. Que, nesta celebração da partilha da palavra e da fração do pão, nos sintamos implicados pelo Seu esperar animado e ancorado na permanente questão. Pelas vezes, em que nos entregamos a Deus e ao próximo, a meias, a prazo e sob reserva e condição, peçamos perdão ao Senhor.

Homilia no XXXI Domingo Comum B 2024

1. Este doutor da lei não está longe do Reino de Deus! É um homem que pergunta e responde sabiamente! Não pergunta a Jesus sobre qual o primeiro mandamento de todos, mas sobre qual é o primeiro mandamento de tudo. Ele não quer saber qual é a ordem ou a hierarquia dos mandamentos, mas quer chegar ao coração da lei, ou seja, à relação com Deus. Onde está o coração da relação com Deus? Esta é a pergunta radical! E Jesus responde. Jesus começa pelo imperativo da escuta, «Escuta, Israel», sem a qual o amor humano não responde ao amor divino. Para Jesus, na relação com Deus nada do ser humano pode ficar de fora: começa no coração, lugar dos pensamentos e decisões, atravessa a alma, centro vital e espiritual da pessoa, passa pelo entendimento, onde se elaboram as razões da mente e concretiza-se na força dos braços, que se estendem ao próximo.  A relação com Deus compromete a pessoa toda, num amor de quatro costados, porque que se vive assim: com todo o coração, com toda alma, com todo o entendimento e com todas as forças.  Vai da cabeça aos pés, dos pés às mãos, do coração à razão. É um amor com tudo, com pack completo. Para Jesus, tudo o que não seja tudo é nada.

2. O doutor da lei quis reafirmar tudo o que escutara da boca de Jesus. Mas o diabo está nos pormenores e o homem esqueceu-se de começar pelo imperativo «Escuta, Israel». Ora, quando falha a escuta, sobra a dureza de coração. Mas há uma outra falha, não inocente: em vez de um amor de quatro costados, o doutor da lei ficou por um simples tripé: o coração, a inteligência e a força. A “alma”, princípio animador do ser humano, ficou de fora. E o “entendimento” foi substituído pela “inteligência”. Deste modo, o nosso doutor da lei valoriza muito a dimensão racional, intelectual, mas empobrece e enfraquece a relação existencial. Esquece “a alma”, infundida por Deus, pela qual cada um pode participar da própria vida divina.

3.Este homem não está longe do Reino de Deus – diz Jesus - mas, na relação com Deus, tem de ir mais longe: passar da razão ao coração, dos raciocínios abstratos à escuta obediente. Tem de aprender a viver o amor, de forma inteira, concreta, com braços e abraços, com toda a alma, até dar tudo, até dar a própria vida.

4.Fixemo-nos nestas duas gaffes do doutor da lei: ele omite o imperativo da escuta e valoriza mais a inteligência que a alma, que é o coração do coração. E relacionemos estas duas falhas, com três desafios recentes:

4.1.Sobre o imperativo da escuta, concluiu a 16.ª Assembleia Sinodal. O Documento Final insiste na escuta. É mesmo a palavra-chave, que ali se repete por 51 vezes: escuta de Deus, escuta da Palavra, escuta do Espírito, escuta dos outros, escuta dos afastados, escuta dos pobres e feridos, escuta das igrejas. Sugere-se um ministério da escuta e do acompanhamento (n.º 78), nos processos de discernimento, a nível da nossa vida pessoal e pastoral.

4.2.Sobre a desvalorização da alma, o coração do coração, vale a pena ler a recente Encíclica do Papa Francisco, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus. O Papa fala-nos de um mundo em guerra e de uma sociedade líquida que estão a perder o coração (n.º 22); de uma cultura que valorizou a razão, a vontade e a liberdade, mas desprezou o coração humano (n.º 10). É necessário falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração (n.º 11). Sem o coração, não há relação, proximidade (n.º 12), amor concreto. Na era da inteligência artificial (n.º 20), não podemos esquecer que a poesia e o amor são necessários para salvar o ser humano (n.º 20). Nenhum algoritmo conseguirá abarcar a memória de tudo o que nos tocou o coração!

4.3.Por isso, e por último, o desafio do nosso lema pastoral, “com todos e para o bem de todos”, também significa percorrer hoje com esperança o caminho do amor a Deus e ao próximo, “com tudo” o que somos e para o bem de todos! Este é o pack completo que levamos na mochila de peregrinos de esperança! Com tudo e com todos!

 

 

 

 

 

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