Homilia na Solenidade de Todos os Santos 2024
1.Peregrinos de esperançaé o lema do Jubileu do ano 2025. E a Liturgia da Palavra, nesta Solenidade de Todos os Santos, mostra-nos a meta gloriosa deste caminho de esperança. Um caminho estreito, difícil, em direção contrária aos ventos do mundo, mas não na direção do abismo, do nada e do vazio. É um caminho de subida, um caminho com saída para a vida verdadeira, um caminho em direção à plena comunhão de vida e de amor com o Senhor. É um caminho que percorremos juntos, com Jesus à frente, não como corredores solitários, nem às cegas. Somos peregrinos de esperança, guiados e acompanhados, por uma multidão de testemunhas, de homens santos e de santas mulheres, que souberam caminhar em contra corrente, marcar a diferença e suportar a oposição. Agora, ressuscitados, glorificados, louvam a Deus, diante do Cordeiro. E junto d’Ele, são para nós um exemplo e auxílio na fragilidade!
2. Hoje celebramos, em festa, estes ilustres filhos da Igreja, Todos os Santos, conhecidos e desconhecidos, de longe e de ao pé da porta, de ontem e de hoje. Eles são verdadeiras testemunhas da esperança, porque as suas vidas foram ancoradas, não nas pequenas e instantâneas gratificações do presente, mas na grande esperança da futura Ressurreição.Os Santos mostram-nos, com o testemunho da sua vida, oferecida sem medo e sem reservas, que tinham posta no Senhor toda a sua esperança. Eles esperavam como prémio do seu combate a bem-aventurança da vida eterna e por isso, não se deixaram comprar nem vender por nenhum presente do presente. Os que não se deixaram intimidar, no meio de tribulações e perseguições, e os que foram capazes de sofrer e de preferir a verdade à própria vida, estavam animados pela grande esperança, de que nada e ninguém os podia separar do amor de Cristo. São esses «os que lavaram as túnicas e as branquearam no Sangue do Cordeiro» (Ap 7,14).
3. Por isso, “o testemunho mais convincente da nossa esperança em Cristo é-nos oferecido pelos mártires. Firmes na fé em Cristo Ressuscitado, foram capazes de renunciar à própria vida, para não trair o seu Senhor. Temo-los em todas as épocas e são numerosos – e talvez mais do que nunca nos nossos dias – como confessores da vida que não tem fim. Precisamos de conservar o seu testemunho para tornar fecunda a nossa esperança” (Papa Francisco, Spes non confundit, 20).
4. Irmãos e irmãs: hoje, o maior testemunho de esperança é-nos dado sobretudo pelos santos mártires da última bem-aventurança: a dos perseguidos, a dos insultados, a dos ridicularizados, a dos difamados, por amor da justiça, por amor da verdade, por amor ao amor verdadeiro.Hoje sujeita-se ao martírio, como carne para canhão, quem quer que se atreva a pronunciar-se publicamente contra o aborto, como direito, negando que a vida de um ser humano, no seio materno, seja apenas uma parte do corpo feminino, de que a mulher pode dispor arbitrariamente. Hoje sujeita-se ao martírio, como bode expiatório de uma nova religião, quem quer que se pronuncie contra a ideologia de género, por considerar que o dado biológico na pessoa humana não é, de todo, indiferente ou irrelevante na construção da sua identidade (sem que isto negue o fator cultural em tal processo). Alguém que hoje testemunhe publicamente a sua fé em Cristo vivo, a sua esperança feliz na Ressurreição, a alegria de ser e de pertencer à Igreja, a fidelidade à prática dominical, a importância do sacramento do matrimónio, a necessidade de oração, o sofrimento por amor (etc…), esse é um mal-amado, ridicularizado como um pobre tolo, um crente enganado, que deve algo à inteligência!
5. Eis porque um dos mais urgentes testemunhos da santidade passa hoje pela coragem de caminhar em contracorrente, de suportar a hostilidade e de estar pronto para o martírio, até mesmo para o martírio escondido por cumprir bem e com amor os deveres de cada dia! “Abraçar diariamente o caminho do Evangelho, mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade” (GE 94). Os santos e mártires mostram-nos que é possível uma outra visão da vida, uma outra esperança numa nova terra e num outro céu, cuja felicidade se cumpre no amor. O Senhor nos dê a todos o dom da esperança e a coragem de sermos santos, com todos e para o bem de todos!