Liturgia e Homilias no XXX Domingo Comum B 2024
Destaque

Finalmente, encontramos um discípulo no caminho de Jesus para Jerusalém. Depois do homem rico, que falhou o chamamento, temos um cego pedinte, que até a sua capa de abrigo lança fora para seguir Jesus. Depois de Tiago e João, que se queiram sentar num trono de glória, temos um cego, que se levanta e vai ter com Jesus. O Evangelho deste domingo ajuda-nos a retomar o caminho de Jesus, a voltar a ver tudo com os olhos de Jesus. Como o cego, também nós gritamos por misericórdia, por uma carícia, por um perdão, por um gesto de compaixão.

Homilia no XXX Domingo Comum B 2024

Jesus em saída, uma multidão surda e um cego mendigo! Descubramos as diferenças!

1. Comecemos pelo cego, Parte 1. Tinha um nome, Bartimeu, e era conhecido por ser filho de alguém, um fidalgo! Agora, sem nome na praça, está na rua, sentado junto ao caminho, como aquele que pede. É um excluído da sociedade, um impuro expulso da comunidade religiosa. Talvez este homem - que deseja «voltar a ver» - tenha sido já, por algum tempo, discípulo do seu Mestre Jesus. Este homem talvez se tenha cansado e desiludido e as suas lágrimas lhe tenham lavado os olhos. Ele quer voltar a ver Jesus e com os olhos de Jesus. Na verdade, o cego já vê bem, sabe bem quem é Jesus. Não vê em Jesus um Messias poderoso, mas o rosto de um Deus que salva. E por isso não pede a Jesus, em primeiro lugar, que o tire da pobreza; não lhe pede a cura; não lhe pede um lugar importante. Pede-lhe simplesmente misericórdia, carícia, perdão, compaixão.

2. Temos depois a multidão, Parte 1: são os «muitos» que acompanhavam Jesus. Têm o seu guião turístico já programado, para chegar à Cidade Santa e não estão dispostos a alterar a rota, a parar para olhar, para escutar, para ajudar. Não. É uma multidão de cegos, de surdos, de abafadores, de silenciadores, que repreendem severamente o cego e o mandam calar. Sem sucesso. Pois ele gritava cada vez mais!

3. E temos Jesus, que abre a 2.ª parte. Jesus não passa ao lado. Jesus pára, escuta o grito do pobre, olha para o cego. Mais: envolve os tais “muitos”, os incomodados, e encarrega-os de chamar o cego. E assim transforma esses “muitos” em chamadores, em mediadores, em intermediários, em facilitadores. Este é o primeiro milagre de Jesus: os abafadores e silenciadores tornam-se porta-vozes da chamada para o encontro com Cristo. Estes “muitos” aprendem do próprio Jesus as palavras que libertam, curam e salvam: Tem coragem, levanta-te, Ele chama-Te. É Jesus quem chama, por meio deles.

4. Voltemos ao cego, Parte 2. Reage à chamada em três tempos, com tal destreza, que nem parece cego: atirou para longe a sua capa, deu um salto para cima e foi ter com Jesus! Vejamos: para longe de si, ele atirou fora a sua capa de mendigo, a sua casa de abrigo, talvez a único bem que possuía, fazendo uma rutura, um corte, uma mudança radical em relação ao seu passado de pedinte. Deu um salto para cima, vencendo até os obstáculos dos que o silenciavam; na prática, deu um salto qualitativo na sua vida. E, como todo o discípulo, foi ter com Jesus. Foi para Jesus!

5. E voltemos a Jesus, neste encontro pessoal com Bartimeu. Vem a pergunta: “Que queres que Eu te faça»? O cego respondeu: «Meu Mestre, que eu volte a ver», que eu volte à Tua companhia, que Eu volte a seguir-Te, para encontrar a Luz da Vida. A resposta de Jesus é afirmativa: «Vai, a tua fé te salvou». E o cego voltou a ver. Sim. A sua fé é uma visão. Fá-lo ver Jesus e ver com os olhos de Jesus. A sua fé dá-lhe a visão inteira da vida. Não foi mais à sua vidinha, à vida de antigamente. Foi para Jesus. E seguia-O no caminho!

6. Irmãos e irmãs: este Evangelho tão curto dá-nos uma visão de grande alcance.  Podemos vestir a pele de qualquer personagem – o cego, a multidão ou Jesus – e (a)parecem-nos claramente três desafios:

1. O desafio de voltarmos, como o cego, a Jesus, de voltarmos ao encontro com Ele, de O seguirmos pelo caminho, não sentados ou aposentados, desiludidos da vida, a ver a banda passar, mas como peregrinos de esperança, povo a caminho, pessoas capazes de dar sinais concretos de um futuro melhor.

2. O desafio de sermos uma comunidade aberta, inclusiva, ativa. Não queremos uma comunidade de silenciados ou de abafadores, mas de acolhedores, de facilitadores, de encorajadores, que adotam as palavras e imitam os gestos de Jesus!

3. O desafio de guardarmos os pequenos detalhes do amor (cf. EG 145): sejamos capazes, como Jesus, de parar, de nos aproximarmos, de darmos um pouco de atenção, um sorriso, uma carícia, uma palavra de conforto. No seu ensaio sobre a cegueira, escreveu Saramago: «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara». O amor não é cego. São Tomás disse com especial beleza: «Onde está o amor, aí está o olhar» (São Tomás de Aquino)!

 

 

 

 

 

 

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