Liturgia e Homilias no XXV Domingo Comum B 2024
Destaque

E continuemos no lugar onde Jesus nos deixou. Para trás d’Ele, seguindo-O.  Começaram as aulas, e em breve começará a catequese, e não é que Jesus nos dá hoje uma lição, colocando no meio de nós uma criança, como mestre de uma sabedoria, que vem do alto, e nos ensina a servir e a escolher o último lugar. Deixemos então que a Palavra de Deus, como uma sonda que vai direta ao coração, nos ajude a encontrar a raiz de todos males, conflitos e divisões. Jesus continua a abrir-nos um caminho novo, de humildade, de serviço, de esperança e de confiança. Para desimpedir o caminho, deixemo-nos abraçar e cuidar pela sua misericórdia.

Homilia no XXV Domingo Comum B 2024

1. Jesus fala abertamente aos seus discípulos, e pela segunda vez, da meta do Seu Caminho: a Sua Paixão, morte e ressurreição em Jerusalém.  Mas isso não parece música para os ouvidos dos discípulos, movidos por outras paixões, como a inveja e a cobiça, que lutam nos seus membros. No caminho, os discípulos vão atrás de Jesus, mas sem se colocar para atrás d’Ele. Vão com Jesus, mas não estão com Ele. Vejam lá: discutiam uns com os outros sobre qual deles é o maior (Mc 9,34)! Já em casa, Jesus podia pregar-lhes um sermão à maneira. Mas prefere realizar uma ação simbólica, de sabor profético: coloca no meio deles, no centro das atenções, uma criança. As crianças, no tempo de Jesus, não eram, como hoje, os príncipes, os reizinhos, os senhores da casa, a quem se fazem todas as vontades. Não. Na antiguidade e na cultura semita, as crianças não contavam para nada, não faziam parte da estatística, eram consideradas sem importância, sem lugar, sem interesse. Curiosamente, “criança” e “criado” (ou servo) dizem-se, na língua hebraica, com a mesma palavra «talya» e justamente aparecem com estes dois sentidos no Evangelho de hoje. Ao colocar uma criança no meio deles e ao insistir no seu acolhimento, Jesus mostra aos discípulos que o lugar mais importante no Reino dos Céus pertence aos últimos, aos socialmente desconsiderados e ignorados. Na entrada do seu Reino, o critério de seleção é começar pelos últimos, pelos mais pequeninos, pelos servidores de todos.

2. Dentro de dias, as crianças regressam em cheio a nossa casa, com o início da catequese. Há mesmo, na assembleia, quem, por vezes, se contorça por lhes conceder o lugar. E isso é feio. Muito triste. Porque elas fazem-nos falta, para encher de alegria as nossas vidas, para alimentar a nossa esperança na renovação do mundo, para nos ensinarem na fé o caminho da humildade e da confiança, para nos surpreenderem com as suas perguntas e respostas, para romperem a linha do previsível. Infelizmente são cada vez menos as crianças, neste país de berços vazios. E os números de inscrições na catequese da infância, em poucos anos, vão-se reduzindo drasticamente! Precisamos de colocar as crianças no meio da roda da nossa vida, para aprendermos delas e com elas a seguir Jesus e a nascer de novo, a cuidarmos uns dos outros e a deixarmo-nos cuidar uns pelos outros. Alguns adultos pensarão: mas a nós compete-nos instruir, ensinar e corrigir as crianças. Ora, Jesus, no Evangelho de hoje, diz-nos que o caminho é outro: em cada criança que se quer educar há um mestre de sabedoria, que é preciso escutar, com quem é preciso aprender e caminhar juntos. Trata-se aqui da sabedoria que vem do alto: pura, pacífica, compreensiva, sem hipocrisia (Tg 3,17).

3. Há quinze dias refletíamos sobre a importância da escuta. Hoje queria insistir: é preciso aprender a escutar as crianças. Só poderemos captar os seus medos e sonhos, os seus complexos e inseguranças, os seus receios e fantasmas, a sua alegria e novidade, se as escutarmos atentamente. Uma lição sem escuta prévia acabará por cair em saco roto. Um corretivo sem uma atenta escuta será ineficaz. Escutá-las não quer dizer obedecer-lhes, nem tão pouco ceder a todos os seus desejos, senão transformamos as crianças em ditadores e imperadores, que se julgam o centro do mundo. Não. Devemos aprender a escutá-las, para que elas aprendam também a escutar os adultos. Precisamos de escutar as crianças, sobretudo porque nelas subsiste uma dose imaculada de inocência. Por vezes, são incómodas, fazem-nos corar, quebram tabus, e nós - bem lá no fundo - pensamos que seria melhor que elas se calassem. Mas, precisamente por isso, há que escutá-las: são apóstolos da inocência. Escutá-las é reencontrarmo-nos com a criança que fomos e que definitivamente já não somos. Escutá-las é, de certo modo, renascer, sendo velhos (Jo 3,4), para podermos entrar na lógica do Reino de Deus, em que gozam do primeiro lugar os mais pequeninos e servidores de todos!  

Sim. Na nossa casa, precisamos tanto de crianças como de servidores! Quem quer ser o primeiro? Ou melhor, quem quer ser último?! Que venha o primeiro!

 

 

 

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