Liturgia e Homilias no XXIV Domingo Comum B 2024
Destaque

Estamos a retomar o caminho da nossa vida quotidiana, com o início de mais um novo ano laborar, escolar, pastoral. Jesus atravessa-se e desafia-nos a segui-l’O, não por atalhos de fácil acesso, mas pelo caminho da Cruz, da doação da vida toda e não de parte dela. É altura de retomarmos o lugar de discípulos, percorrendo o caminho da vida atrás de Jesus, para O conhecermos e O seguirmos e O servirmos no caminho da Cruz. Examinemos, desde já, as nossas obras de amor,  para medir a verdadeira temperatura da nossa fé em Cristo, pois a fé cristã atua sempre por meio da caridade (Gl 5,6). E deixemos que Jesus vá à nossa frente e adiante de nós, para que vamos atrás d’Ele  e O sigamos com a vida toda e para toda a vida.

Homilia no XXIV Domingo Comum B 2024

1.“Vade retro, Satanás” é uma expressão popular, de raiz bíblica, com meio-sabor a latim. Mas – como diz o provérbio – o diabo está nos pormenores e algumas traduções pecam por omissão e comem um pronome que muda tudo. Em rigor, a expressão que escutávamos no Evangelho não é simplesmente “Vade retro, Satanás”, como quem diria “Afasta-te, Adversário”. Não. A expressão correta é mesmo esta: “Vai para trás de Mim, Satanás”. Este “de Mim”, referido a Jesus, faz toda a diferença. Trata-se de ir… não para os quintos do inferno, mas de ir para trás de Jesus, isto é, de seguir Jesus!

2.Vai para trás de Mim, Satanás! Com esta ordem, Jesus repreende severamente a Pedro, na sua tentativa diabólica de O demover da Cruz. As palavras de Pedro não passavam afinal de uma insinuação, de uma sedução enganadora do Diabo. Ele é um metediço, que sempre se atravessa no caminho de Jesus, para O convencer a contornar o caminho da Cruz e a seguir os critérios mundanos, em vez dos desígnios de Deus. Ora, com esta reação violenta, Jesus põe Pedro no seu lugar, ordenando-lhe: “Vai para trás de Mim” (Mc 8,33). Se repararmos são as mesmas palavras que Jesus lhe dissera, quando um dia, o chamou a ele e a seu irmão André, junto ao mar da Galileia: “Vinde atrás de Mim e farei de vós pescadores de homens” (Mc 1,17.20). O lugar de Pedro, como o lugar dos discípulos, é sempre o mesmo: é “atrás de Jesus”, para O seguirem. Não para seguirem ideias, normas ou costumes. Mas para O seguirem a Ele, a Jesus, à Sua Pessoa. Para isso, é preciso colocar-se atrás de Jesus, isto é, percorrer o Seu caminho, aprender com Ele, fazer como Ele faz. Colocar-se atrás de Jesus implica renegar-se a si mesmo, não se pôr à frente d’Ele, não se impor a Ele, mas abraçar a Sua Cruz, de mãos dadas, dar a Vida toda por toda a vida.

3.Devemos escutar e obedecer corajosamente a esta ordem de Jesus “vai para trás de Mim”, quando nos vem a tentação de nos pormos à frente d’Ele, para O enfrentar ou afrontar, para O substituir ou usar. Na nossa vida pessoal e na vida das nossas comunidades, das nossas instituições e empresas, lutamos demasiado pelo pelotão da frente, e tão pouco pela toalha do serviço, impondo os nossos critérios, gostos e ideias pessoais. Às vezes, com tanta missão e tanto trabalho diante de nós, não deixamos que Jesus passe à nossa frente, que Ele vá adiante de nós, para nos abrir caminhos, porque achamos que tudo depende apenas de nós, da nossa capacidade, da nossa habilidade, das nossas obras. Quantas vezes, diante das dificuldades e ansiedades da vida, deixamos de ter fé, de confiar no comando de Jesus, que guia a barca da nossa vida! E então não largamos mão nem o pé de um lugar à frente. Ora, a experiência da fé ensina-nos, porém, que nas decisões e desafios mais difíceis da nossa vida é preciso recuar, preferir o lugar atrás, para dar espaço a Jesus, para que seja Ele, pelo seu Espírito Santo, a abrir caminhos, a iluminar, a converter,  a fazer  por nós o que realmente não depende de nós!

4.Irmãos e irmãs: estamos no início de mais um ano laboral, escolar, pastoral. Esta ordem de Jesus é um excelente indicador para o caminho, que se abre agora diante de nós, como peregrinos de esperança. Fixemos bem o que Jesus nos diz hoje com toda a clareza: “Vai para trás de Mim”:“para trás de Mim” e não “atrás de Mim”, à espera de uma promoção, de um lugar de destaque, de uma benesse; “para trás de Mim” e não “por trás de Mim”, numa vida cristã falsa, aparente, de jogos de bastidores, de fachada; “para trás de Mim” e não de “marcha atrás”, num retorno a um passado que não existe; “para trás de Mim” e não de pé atrás ou de mãos atrás.  

 

5.Deixemos então que Jesus vá à nossa frente. Ele, no comando, com Maria, a Seu lado. Olhai: o nosso lugar mais seguro é sempre no banco de trás: vamos atrás d’Ele, o Senhor, que sempre nos chama e envia para o lugar certo: “Vinde atrás de mim” (Mc 1,17; cf. Mc 8,33).

 

Homilia na celebração das bodas de ouro e de prata matrimoniais

Joaquim e Maria Evelina (50); António José e Maria Cândida (50); Jorge e Dália (25)

 

1.No caminho que O leva a Jerusalém, cidade da cruz e da luz da Ressurreição, Jesus não ilude nem se ilude com facilidades! Ele sabe que a Cruz se aproxima e será consequência da sua fidelidade, do seu amor por nós e até ao fim. Ele sabe que serão muitos, como Pedro, a querer desviá-lo dessa rota, por atalhos de sucesso aparente. Mas Jesus, ao mesmo tempo que impõe silêncio sobre a sua condição de Messias e de Servo Sofredor, fala abertamente a Pedro e aos discípulos, sobre o Caminho da Cruz, como o caminho do amor, que dá a vida toda e por toda a vida.

2.Hoje, na nossa celebração, por feliz coincidência, temos três casais, que celebram o seu aniversário matrimonial. Certamente, não chegaram aqui por uma autoestrada larga, mas por caminhos árduos, exigentes,  renegando-se a si mesmo, aprendendo a perder para ganhar, a dar a própria vida para a encontrar. Por isso, eles são testemunhas daquela Cruz, que são chamados, todos o dias,  a beijar, a abraçar com amor; da Cruz, cujo peso e glória carregam juntos e cujos frutos agradecem hoje.

3.Neste sentido, gostaria de vos recordar uma tradição vivida numa cidade, Siroki-Brijeg, na Bósnia e Herzegovina. Quando os noivos vão à igreja casar, levam com eles um Crucifixo. O padre abençoa o Crucifixo e diz-lhes isto: “Vós encontraste a vossa Cruz! É uma Cruz para ser amada, para ser carregada por vós. Uma Cruz que não é para ser descartada, mas para ser guardada no coração”. Quando o casal presta o seu consentimento matrimonial, a noiva coloca a sua mão direita sobre o Crucifixo, e o noivo coloca a sua mão direita por cima da dela. Eles estão unidos entre si e unidos à Cruz. O padre cobre as suas mãos com a estola, enquanto eles fazem as suas promessas de se amarem um ao outro, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias das suas vidas. Depois, os dois beijam primeiro a Cruz, e não um ao outro. Se um abandonar o outro, ele abandona Cristo na Cruz. Eles perdem Jesus! Após a celebração, os recém-casados atravessam a porta de casa, para entronizar aquele mesmo Crucifixo num lugar de honra. Ele torna-se o ponto de referência das suas vidas e o local de oração da família. O jovem casal crê firmemente que a família nasce da Cruz. Por isso, nos tempos de dificuldade e de desentendimento, que sempre surgem, não é ao astrólogo, ao advogado ou ao terapeuta de casal a quem eles imediatamente recorrem. Eles voltam-se para a Cruz. Eles ajoelham-se, choram e abrem os seus corações, implorando a ajuda do Senhor. Aqueles que estão a passar, ou que já passaram por essa situação, reconhecem a necessidade da graça, da força da Cruz de Cristo, para perseverar durante a tempestade ou o silêncio.

4.Essas práticas piedosas são aprendidas desde a infância. As crianças são ensinadas a beijar reverentemente o Crucifixo todos os dias e a agradecer ao Senhor pelo seu dia antes de irem para a cama. Essas crianças adormecem, sabendo que Jesus as segura em Seus braços e que não há nada a temer. Os seus medos e diferenças, às vezes tão comuns entre irmãos, desaparecem quando beijam Jesus na Cruz. Hoje, infelizmente, vemos pais e padrinhos, na celebração do Batismo, ou fiéis nas nossas celebrações, incapazes de fazer bem o sinal da Cruz.  Hoje há casas onde não há sequer uma Cruz, mas apenas figuras do desporto, da música, do espetáculo...

5.Que ensina então a Cruz aos esposos? Ensina-lhe que o amor deve permanecer. O amor não é um sentimento que vem e vai, mas um poder de doação e uma experiência de entrega, que sobrevive até mesmo quanto tal sentimento se desvanece! No casamento, os esposos não podem depender apenas das suas forças humanas. Se acharem que poderão sozinhos, fracassarão. No dia do casamento, mal sabem os noivos que estão a embarcar numa aventura que atingirá os picos mais elevados e os vales mais profundos. E é justamente nos momentos passados nestes vales, que um esforço heroico será exigido ao casal, para se manterem no rumo.  E é nesses tempos, de sérias dificuldades, que os esposos podem praticar o sentido real daquelas palavras proféticas no dia do casamento: “Pode beijar a Cruz”.

 

 

 

 

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