Liturgia e Homilias no XXIII Domingo Comum B 2024
Destaque

Somos assembleia acolhida e reunida, em nome de Cristo, irmãos e irmãs, sem aceção de pessoas. Somos todos pobres, a quem Deus escolheu e enriqueceu com os seus dons. Aqui viemos, guiados e acompanhados, para o encontro pessoal com Cristo, que nos abre os ouvidos à escuta da Palavra e os lábios para o louvor. A palavra-chave do milagre da comunicação é esta: “Effathá”, Abre-te. Neste domingo, dia 8 de setembro, recordamos, de forma humilde, a Natividade (nascimento) de Maria, Aquela precisamente que abriu o Seu coração, a Sua mente e a Sua vida à Palavra do Senhor, a escutou, meditou e cumpriu fielmente. Que Ela nos conceda a graça de também nós podermos ouvir a Palavra de Deus e professarmos a fé em Jesus Cristo, para glória de Deus Pai.

Homilia no XXIII Domingo Comum B 2024 – forma mais longa

 

1. Sem telemóvel, nem iPhone, sem redes sociais, eis-nos diante de um milagre de comunicação. Diante de Jesus, naquelas terras da periferia de Israel, está um surdo que fala com dificuldade! Bloqueado na sua capacidade de comunicar, é levado a Jesus por outros e é reconduzido por Jesus a um encontro a sós com Ele. Sem o ruído e o clamor das multidões, sem o frenesim das palavras e das mensagens, das notificações a cada segundo, e usando apenas a linguagem dos gestos, a do tato e a do contacto – afinal era a única que o seu interlocutor podia entender – Jesus mete as mãos nos ouvidos e põe saliva na boca daquele pobre. Mas o homem ainda não está curado, desbloqueado. Ele só falará depois daquela fala de Jesus, daquela palavra-chave, em tom imperativo: Effathá. Abre-te. Deixa-te abrir por Mim. E o homem começa a ouvir e a falar corretamente. Somos feitos para falar, mas seríamos incapazes de pronunciar uma palavra se antes não a tivéssemos escutado!

2. Esta cena do Evangelho – que desde muito cedo fez parte da liturgia batismal – sugere-nos hoje a necessidade de uma cura no nosso modo de comunicar, sempre mais apressado em falar, do que paciente para escutar. Desenvolvemos muito a oratória, a arte de falar, mas estamos longe de uma verdadeira arte de escutar, de uma escutatória. Escutamo-nos pouco e mal. Vivemos quase todos o drama de não nos sentirmos escutados, até dentro da própria casa. Encontrar alguém que nos queira e saiba escutar é quase um «achado» arqueológico!

3.Gostaria convosco de vos propor três perguntas: o que é escutar; como escutar e a quem escutar?

3.1.O que é escutar? É mais do que recolher os sons e as palavras. É auscultar, é ouvir por dentro as palavras e o silêncio; ouvir o dito e o não dito; ouvir o que não se faz ouvir, o que não faz barulho nem ruído. Escutar é, pois, inclinar e reclinar o ouvido do coração para o outro, escutando-o com atenção, acolhendo-o na sua própria casa, abraçando-o com os ouvidos, de modo que a escuta se torne uma forma de hospitalidade, de acolhimento, de reconhecimento. Escutar o outro é, sobretudo, uma forma de o amar.

3.2.Como escutar? Eis algumas condições para uma arte da escuta:

3.2.1.Ouvir com o coração aberto, ouvir com toda a atenção e interesse. Isto implica esvaziar-se de si mesmo, inclinar-se diante do outro, como quem descalça as sandálias diante do seu mistério pessoal; deixemos do lado de fora as botas pesadas ou as armas de guerra dos nossos argumentos!

3.2.2.Ouvir e falar em pé de igualdade, como duas pessoas iguais, sem complexos de superioridade ou de inferioridade; escutar o outro não tanto como quem quer discutir, disputar e ganhar o debate, mas sobretudo como quem quer apenas conversar, isto, voltar-se para o outro, aprender dele e caminhar com ele.

3.2.3.Ouvir despojadamente, com a mente em branco, sem preconceitos, sem ideias feitas, sem desconfianças, sem filtros, desejosos apenas de compreender e amar aquele a quem escutamos.

3.2.4.Ouvir com tempo e paciência, com grande benevolência: quantas vezes ainda o outro fala e enquanto fala, não o escutamos; estamos apenas a preparar as nossas respostas. “Isto requer o esforço por não começar a falar antes do momento apropriado; em vez de começar a dar opiniões ou conselhos, é preciso assegurar-se de ter escutado tudo o que o outro tem necessidade de dizer. Isto implica fazer silêncio interior, para escutar sem ruídos no coração e na mente: despojar-se das pressas, pôr de lado as próprias necessidades e urgências, dar espaço” (AL 137).

3.2.5.Ouvir com humildade, sem a pretensão de estar na posse da verdade, sem medo de se deixar interpelar, afetar, corrigir, educar, mudar, enriquecer, por tudo aquilo que o outro me disse: é uma escuta aberta, ativa, vulnerável.

 

4.A quem escutar? Deixo apenas alguns destinatários para a nossa escuta:

4.1. Neste “Tempo da Criação”,aprendamos a escutar a voz da Natureza e os gemidos das criaturas. “A Natureza está cheia de palavras de amor; mas, como poderemos ouvi-las no meio do ruído constante, da distração permanente e ansiosa, ou do culto da notoriedade” (LS 225)? Precisamos de abrir os ouvidos aos gritos da criação, que ressoam nas alterações climáticas. Escutar e agir!

4.2. Neste regresso a casa e à vida quotidiana, importa escutar as famílias e escutar em família:escutar a inocência das crianças e a irreverência dos jovens; escutar filialmente os pais, que nos amam; escutar a experiência e a sabedoria dos mais velhos; escutar a dor silenciosa e o rosto sofredor dos doentes e frágeis. Entre marido e esposa, é preciso “reservar tempo de qualidade, para escutar, com paciência e atenção, até que o outro tenha manifestado tudo o que precisava de comunicar” (AL 137).

4.3. Em tempo de sinodalidade e de programação do ano pastoral, é preciso aprender a escutar, em comunidade, o que o Espírito Santo diz à Igreja (Ap 2,7.11.17.29;3,6.13.22): procuremos juntos, em clima de oração e a partir da experiência de vida, discernir o bem comum, escutando com humildade e falando com franqueza.

5.Irmãos e irmãs: a palavra-chave para o milagre da comunicação é simples: Effathá, abre-te!  Maria – cujo dia do nascimento celebramos a 8 de setembro – foi Aquela que se abriu totalmente ao amor do Senhor. Ela nos conceda a graça de experimentar cada dia o milagre da comunicação, da escuta do coração!

 

Homilia no XXIII Domingo Comum B 2024 – forma mais breve

 

1. Esta cena do Evangelho sugere-nos hoje a necessidade de uma cura no nosso modo de comunicar, sempre mais apressado em falar, do que paciente para escutar. Desenvolvemos muito a oratória, a arte de falar, mas estamos longe de uma verdadeira arte de escutar, de uma escutatória. Escutamo-nos pouco e mal. Vivemos quase todos o drama de não nos sentirmos escutados, até dentro da própria casa. Encontrar alguém que nos queira e saiba escutar é quase um «achado» arqueológico!

2. Gostaria convosco de vos propor três perguntas: o que é escutar; como escutar e a quem escutar?

2.1.O que é escutar? É mais do que recolher os sons e as palavras. É auscultar, é ouvir por dentro as palavras e o silêncio; ouvir o dito e o não dito; ouvir o que não se faz ouvir, o que não faz barulho nem ruído. Escutar é, pois, inclinar e reclinar o ouvido do coração para o outro, escutando-o com atenção, acolhendo-o na sua própria casa, abraçando-o com os ouvidos, de modo que a escuta se torne uma forma de hospitalidade, de acolhimento, de reconhecimento. Escutar o outro é, sobretudo, uma forma de o amar.

2.2.Como escutar? Eis algumas condições para uma arte da escuta:

2.2.1.Ouvir com o coração aberto, ouvir com toda a atenção e interesse. Isto implica esvaziar-se de si mesmo, inclinar-se diante do outro, como quem descalça as sandálias diante do seu mistério pessoal; deixemos do lado de fora as botas pesadas ou as armas de guerra dos nossos argumentos!

2.2.2.Ouvir e falar em pé de igualdade, como duas pessoas iguais, sem complexos de superioridade ou de inferioridade; escutar o outro não tanto como quem quer discutir, disputar e ganhar o debate, mas sobretudo como quem quer apenas conversar, isto, voltar-se para o outro, aprender dele e caminhar com ele.

2.2.3.Ouvir despojadamente, com a mente em branco, sem preconceitos, sem ideias feitas, sem desconfianças, sem filtros, desejosos apenas de compreender e amar aquele a quem escutamos.

2.2.4.Ouvir com tempo e paciência, com grande benevolência: quantas vezes ainda o outro fala e enquanto fala não o escutamos; estamos apenas a preparar as nossas respostas. “Isto requer o esforço por não começar a falar antes do momento apropriado; em vez de começar a dar opiniões ou conselhos, é preciso assegurar-se de ter escutado tudo o que o outro tem necessidade de dizer. Isto implica fazer silêncio interior, para escutar sem ruídos no coração e na mente: despojar-se das pressas, pôr de lado as próprias necessidades e urgências, dar espaço” (AL 137).

2.2.5.Ouvir com humildade, sem a pretensão de estar na posse da verdade, sem medo de se deixar interpelar, afetar, corrigir, educar, mudar, enriquecer, por tudo aquilo que o outro me disse: é uma escuta aberta, ativa, vulnerável.

3.A quem escutar? Deixo apenas alguns destinatários para a nossa escuta:

Neste “Tempo da Criação”, aprendamos a escutar a voz da Natureza e os gemidos das criaturas.Neste regresso a casa e à vida quotidiana, importa escutar as famílias e escutar em família. Em tempo de sinodalidade e de programação do ano pastoral, é preciso aprender a escutar, em clima orante e em comunidade, o que o Espírito Santo diz à Igreja.

Irmãos e irmãs: A palavra-chave para o milagre da comunicação é simples: Effathá, Abre-te!  Maria – cujo dia do nascimento celebramos a 8 de setembro – foi Aquela que se abriu totalmente ao amor do Senhor. Ela nos conceda a graça de experimentar cada dia o milagre da comunicação, da escuta do coração!

 

 

 

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