Homilia no XX Domingo Comum B 2024
1.Palavra d’honra que me doi a alma passar estes domingos de verão a fio, com este longo Discurso do Pão da Vida. Contém palavras, imagens e mensagens, de digestão lenta e difícil e reclamam, por isso, um gosto espiritual muito apurado, para que se possa degustar e saborear este verdadeiro Pão da Vida, até à última migalha! Ora, nesta fase de veraneio, os desejos e apetites da nossa gente parecem dever mais à insensatez do que à sabedoria, pois anda-se, por aí, mais à procura dos sabores da gastronomia… do que do Pão e Vinho da Eucaristia. E assim se esbanja o Pão da Palavra do Senhor, que nestes domingos, nos desperta o desejo para o grande dom da Eucaristia. Nela, o Senhor prepara-nos a mesa e ali Se oferece Ele mesmo como alimento, para a vida eterna! Que bom é o Senhor. Que mais poderíamos desejar?
2.Se eu pudesse, se eu mandasse, este longo Discurso do Pão da Vida não seria proclamado nestes domingos de calor e de verão. Dirão outros em sentido contrário – “mas assim é que está bem, pois é agora, mais do que nunca, que o Discurso do Pão da Vida é oportuno, radical, propondo outra comida e outra bebida, a quem se perde na embriaguez dos sentidos sem fome de Deus”. Talvez sim. Mas – volto a interrogar-me – de que nos vale distribuir, nestes domingos um Pão tão substancial, se até os habituais comensais da nossa mesa da Eucaristia andam por aí, em busca de outras iguarias, por outras mesas, por outra freguesia?! Mas, já que aqui estamos, já que aqui viemos, aproveitemos então esta mesa do Pão da Eucaristia, para saborear e ver como o Senhor é bom: Ele é o Pão vivo, que desceu do Céu e vem até nós, na pobreza e na simplicidade de um bocado de pão e de uma taça de vinho, para Se tornar nosso alimento e nos fazer participantes da Sua vida eterna. Que bom é o Senhor. Que mais poderíamos desejar?
3.Talvez fosse pedir muito, concluir esta homilia, com propostas espirituais e indigestas à volta da mesa da Eucaristia. Sugiro-vos, então, três coisas simples:
1.º Valorizemos o pão simples, a água pura e o vinho bom, na nossa refeição! Não permitais que se brinque com o pão ou que se deite o pão, como pedras, ao chão Eduquemos as crianças para preferirem o pão aos doces e a água aos refrigerantes. Os nossos jovens seriam mais saudáveis e até mais cultos, se em vez de bebidas brancas, pesadas ou enlatadas, começassem a apreciar o bom vinho que, na justa medida, alegra o coração do Homem. Aprendamos a saborear as coisas mais simples, como pregustação do sabor de Deus, que fez boas todas as coisas. Nisto do saborear, quanto menos, tanto mais!
2.º Alguma vez, pelo menos ao domingo, ou em dias de festa, por que não recitar uma breve oração de bênção sobre a mesa?! Façamos da nossa mesa, o que Jesus fez dela: um lugar de diálogo, de encontro, de comunhão, que nos una e reúna na esperança do banquete celeste!
3.º Experimentemos, em cada domingo, mais perto ou mais longe de casa, ir à procura de uma Igreja, para celebrar a Eucaristia, como quem procura o melhor restaurante para saciar a fome ou como quem anda em busca da melhor água para saciar a sede ou até para refrescar o corpo!
Irmãos: numa palavra, “quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10, 31). Em tudo e sempre, da Eucaristia à gastronomia, no pico deste verão, “saboreai e vede como o Senhor é bom” (Sl 33/34)! Que mais poderíamos desejar?