Homilia na Solenidade da Assunção da Virgem Maria 2024
Três acontecimentos podem ajudar-nos a celebrar o mistério da Assunção da Virgem Santa Maria: o final dos jogos olímpicos, a queda de um avião e uma chuva de estrelas.
1. O final dos jogos olímpicos: lutas e coroas. Os jogos olímpicos – pese embora a polémica da cerimónia de abertura com a presumível caricatura da cena da última Ceia – não impediram que Jesus deixasse de ser o Rei e o Vencedor. Na capital francesa, muitos atletas não deixaram de exprimir a sua fé em Cristo Jesus [1]. E assim quiseram mostrar, em palavras e gestos, que “a vida cristã é uma luta permanente. Esta luta é magnífica porque nos permite cantar vitória todas as vezes que o Senhor triunfa na vida” (GE 158) e assim aniquila o último inimigo: a própria morte. Muitos atletas ajudaram-nos a entrever e a compreender a figura de Maria, essa humilde criatura, em quem Deus venceu em toda a linha! Maria, elevada aos céus, participante da vitória pascal de Cristo, é a campeã do salto em altura, porque chegou de corpo e alma aos céus. Ela é “ornada e coroada do ouro mais fino”. Não recebe nenhuma medalha, mas a coroa incorruptível da glória, dourada pelo ouro indestrutível da vitória pascal de Cristo: o ouro da vida eterna. Em Maria, todos os lutadores deste mundo encontram um sinal dourado de esperança, um estímulo para o combate, na certeza da vitória final. Maria já alcançou o prémio e a coroa de glória, por que todos lutamos ainda. Maria é, pois, um sinal de esperança, para todos os que lutam por ir e chegar sempre mais longe, como são de esperança os sinais dados por estes atletas, que fizeram de Cristo o grande vencedor destas olimpíadas e deixaram claro: só a Ele a glória, o poder, a honra e o louvor!
2. A queda do avião: aterrar no céu. Outro acontecimento marcante dos últimos dias foi o da queda de um avião, em Vinhedo, uma localidade no interior de São Paulo, Brasil. Entre as 62 vítimas mortais, estava o piloto, que, antes de partir, deixara uma mensagem à sua namorada: «Obrigado por (você) querer ficar comigo. Eu vou, mas eu volto, hein». A sua namorada reagiu à tragédia, escrevendo nas redes sociais: «Em breve estaremos juntos, meu amor». Os aviões têm o condão de nos aproximar dos céus de nos elevar para o alto. Mas só respiramos de alívio, quando nos sentimos em terra! Nesta tragédia, o piloto e a namorada vieram recordam-nos que um dia, todos seremos chamados a aterrar no céu e aí nos encontraremos, todos juntos: junto do Senhor e de Maria, Sua Mãe, que está sempre junto d’Ele. Maria, elevada aos céus, chegou assim mais longe do que o Homem quando pisou a Lua, pela primeira vez. Maria, com o seu Corpo glorificado, toca e pisa o Céu por que esperamos. Ela chega ao topo da carreira e da vida plena que nos está prometida: a Ressurreição. Maria, na sua Assunção, recorda-nos que a meta da nossa viagem, na terra, é o Céu. Maria faz este voo connosco, como companheira na Terra e hospedeira do ar; encontrá-la-emos então à porta do Céu, para nos fazer participar da beleza do amor de Deus sempre vencedor!
3. A chuva de meteoros: olhar para cima. Por último, temos, por estes dias, a graça de poder admirar o fenómeno natural de uma verdadeira chuva de meteoros. Quando os cometas passam à volta do Sol, deixam uma poeira para trás e, todos os anos, a Terra passa por estes rastos de detritos, que ao colidirem com a nossa atmosfera, se desintegram, criando estes rastos de luz no céu: as Perseidas. Maria, coroada de doze estrelas, é, sem dúvida, a Estrela de mais brilho nesses Céus. É a Estrela que nos guia, fazendo-nos olhar para cima, para as alturas, para o Céu. Ela desafia-nos a passar pela nossa Terra, deixando rastos de luz no Céu!
Neste meio de agosto, Maria seja, no meio de tantas lutas, a aurora e a imagem da Igreja triunfante, do amor sempre vencedor; seja Ela, na viagem da nossa vida, nossa Senhora da guia; seja Ela, e só Ela, a Estrela de mais brilho, assim na Terra como nos Céus!
[1]Pode fazer-se referência na homilia a alguns testemunhos: 1) Numa luta de judo, quando o combate terminou a vencedora recordou à vencida: «Levanta-te, porque toda a honra e toda a glória são só para Deus». 2) Duas ginastas norte-americanas ganharam a medalha de bronze, mas ajoelharam-se para fazer uma vénia à adversária vencedora Rebeca Andrade. A vencedora, referindo- a um tempo de grande provação e solidão, durante uma cirurgia inesperada, confessou: «Se eu precisei de passar por isso de novo é porque Deus tem algo maior para mim e Ele tinha». 3) O nadador britânico Adam Peaty, que se tornou cristão depois de lutar contra três anos de inferno, devido à depressão e ao alcoolismo, mostrou uma tatuagem no peito, onde tinha inscrito: “Into the light” (“Para a luz”).