Homilia no XIX Domingo Comum B 2024
Pároco ausente – homilia atualizada a partir da que foi feita em 2021
“Levanta-te e come! Tens ainda um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,5.7)!
1. Caminhar está na moda. Seja às voltas do quarteirão do prédio ou do bairro, seja pelos caminhos da aldeia ou pelas ruas da cidade, seja pelos passadiços da montanha ou pelas calçadas à beira-mar. Seja ainda, noutros ritmos, a palmilhar pelas várias rotas do caminho de Santiago ou de outros lugares de peregrinação. Uns caminham para manter a forma física, outros para restabelecer a sanidade mental, outros para rezar com os pés, como peregrinos do Absoluto, em busca da beleza, da verdade. Uns caminharão por devoção, outros por obrigação, em busca de um teto, de uma terra, de um trabalho. E são tantos e tantas.
2. A questão mais importante, para quem faz o caminho, é a de ter um rumo, é a de conhecer a direção justa, para não correr em vão, sem direção nem sentido. Há, de facto, quem caminhe em volta de si mesmo, no circuito fechado dos seus interesses. Há quem caminhe para fugir de si, do seu passado, do seu presente ou mesmo do seu futuro. É o caso de Elias, o profeta refugiado na gruta, que foge à perseguição e procura apenas um lugar para morrer. Mas há, graças a Deus, quem caminhe na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós. São todos aqueles que se levantam do sofá da sua comodidade e saem pelas estradas do mundo, em direção às periferias existenciais, dos sós, dos frágeis, dos excluídos. Estes cuidam de quem está ferido e procuram quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem aproveitamento político ou religioso, prontos a ampliar a sua tenda para acolher a todos.
3. Neste início da 52.ª Semana Nacional das Migrações, o Papa Francisco deixa-nos o desafio a caminhar, não como corredores solitários, mas como peregrinos solidários, na certeza de que Deus caminha com o seu povo e caminha no seu Povo, pois é um Deus que Se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados. Os migrantes são, para nós, uma imagem viva do povo de Deus que somos, em caminho, rumo à Pátria eterna. As suas viagens de esperança lembram-nos que «a cidade a que pertencemos está nos céus, de onde certamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo» (Fl 3, 20). Muitos migrantes fazem a experiência de Deus companheiro de viagem, guia e âncora de salvação. Confiam-se-Lhe antes de partir, e recorrem a Ele em situações de necessidade. N’Ele procuram consolação nos momentos de desânimo. Graças a Ele, há bons samaritanos ao longo da estrada, que vêm em seu auxílio.
4. Sejamos também nós esses bons samaritanos, desde já, para com os portugueses emigrantes no estrangeiro e que regressam a Portugal. Saibamos acolhê-los entre nós, para que se sintam em sua própria casa. Isto devemo-lo fazer em relação aos imigrantes que procuram o nosso país para viver em paz, para estudar, para trabalhar e melhorar a sua vida. Estes imigrantes são uma bênção, pelos dons que nos oferecem da sua diversidade cultural e religiosa e pelo seu admirável testemunho de resiliência. São eles que nos prestam os serviços mais humildes. Deles precisaremos cada vez mais, até pelo défice demográfico que temos. Acolhendo-os, protegendo-os, promovendo-os, integrando-os, acolheremos o próprio Jesus, que nos dirá no juízo final: «era peregrino e recolhestes-Me» (Mt 25, 35).
5. É possível realizar este sonho de fazer sínodo, de caminharmos juntos, como Igreja sinodal e peregrina? Sim. Se o Pai nos atrair para o Filho, no laço do Espírito Santo. Aí sim, no Pai Comum, descobrir-nos-emos a todos filhos e filhas muito amados. No Filho Único, reconhecer-nos-emos irmãos e irmãs muito queridos! No Espírito Santo, encontrar-nos-emos como única família, companheiros da mesma viagem, rumo ao encontro final com o Senhor.