Homilia no XVI Domingo Comum B 2024
“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” (Mc 6,31)!
1.Cuidar de quem cuida era o tema que me tinha proposto desenvolver, na homilia do passado fim de semana. Mas as surpresas do 33.º aniversário sacerdotal e outras circunstâncias obrigaram-me a deixar na gaveta a homilia que tinha preparado e a seguir outra linha de pensamento. Entretanto o Evangelho de hoje mostra-nos Jesus, como um verdadeiro Cuidador dos cuidadores: “Vinde e descansai um pouco”, diz Ele aos Apóstolos, que regressam da sua primeira missão. Jesus convida a repousarmos n’Ele, porque estecansaço pode apoderar-se dos padres, dos servidores pastorais das nossas comunidades ou daqueles que fazem da ajuda e do cuidado dos outros a sua principal ocupação de vida.
2.O cuidador é, também ele, um curador-ferido, que experimenta na fragilidade do outro a sua própria fragilidade e impotência. Por isso, o cuidador precisa de se cuidar para poder cuidar. Precisa de cultivar também ele uma certa forma de autocompaixão, sabendo que há uma relação essencial entre o amor ao próximo e o amor a si mesmo. Esta autocompaixão é fundamental quando se fala tanto hoje de burnout, que literalmente, significa, “queimar-se”, sentir-se em curto-circuito, como uma espécie de terra queimada, sem mais nada para dar. Em muitos casos, a ânsia de chegar a resultados imediatos faz com que padres e agentes pastorais, cuidadores e voluntários, não tolerem facilmente uma contradição, um fracasso, uma crítica, uma cruz e assim se afundam neste esgotamento emocional, nesta síndrome do bom-samaritano desiludido, frustrado pelos seus fracassos.
3.A referida síndrome de bournot acontece muito na medida em que a pessoa, que se dá e cuida dos outros, põe o acento tónico no sucesso e no reconhecimento, mas descuida o mais importante: o sentido, o valor e o amor da sua entrega. Ora “quem anda no amor não cansa nem se cansa” (Santa Teresa de Ávila)e por isso “só o amor dá repouso. Aquilo que não se ama, cansa de forma má; e, com o passar do tempo, cansa de forma pior” (Papa Francisco, Homilia na Missa Crismal 2015).“O problema não está tanto no excesso de atividades, mas sobretudo nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que preencha a ação e a torne desejável. Daí que as obrigações cansem mais do que é razoável, e às vezes façam adoecer” (EG 82).
4.Eis porque – a pensar no cuidar dos cuidadores – me atrevo a retomar a proposta da semana passada: “Substituir algum cuidador, esgotado, e sem férias, sem pausas na sua árdua missão, por uma hora, por um dia, por alguns dias, para ele que possa descansar, arejar e sair um pouco. Não poderíamos oferecer uma «boleia», um passeio, a algum doente ou idoso, para sair de sua casa, para poder vir à Missa, para matar saudades da sua comunidade? Que ninguém se sinta ou fique sozinho, que cada um possa receber esta unção da escuta, da proximidade, da ternura e do cuidado dos outros”. E agora fico a pensar que esta é mesmo uma boa proposta para o próximo domingo, 4.º Dia Mundial dos Avós e Idosos!
5.Irmãos e irmãs: muitos de nós, por certo, nos sentimos agradados pelo convite de Jesus a descansar um pouco. Quem não descansa, não avança! O segredo da fecundidade do nosso serviço e da nossa entrega é também o modo como sabemos repousar no Senhor, passar-lhe a bata-quente, rendermo-nos nos nossos limites, pormo-nos nas Suas mãos e ficarmos sossegados no Seu colo, dando tempo ao Senhor para que faça a sua parte. Desse modo, tanto padres como outros servidores pastorais ou cuidadores ou voluntários sociais, manifestamos a consciência de que afinal todos somos ovelhas e todos temos necessidade de um Bom Pastor que cuide de nós. Ele está de coração aberto à nossa espera, para nos conduzir às fontes da vida. Repousemos n’Ele! Ainda por cima a entrada no seu repouso é grátis!