Liturgia e Homilias no XII Domingo Comum B 2024
Destaque

Há oito dias, a primeira parábola do Evangelho sugeria-nos a estranha confiança do semeador, que via a semente germinar e crescer, «enquanto ele dormia e se levantava». E hoje, o mesmo Semeador, agora na imagem do comandante da barca, resolve deitar-Se a dormir, à popa, sobre uma almofada. A imagem é sugestiva: Jesus permanece no comando da nossa barca, da nossa vida, ainda que muitas vezes nem nos apercebamos da serenidade da sua condução! Não é a nossa agitação que conta. É o seu sono tranquilo. É neste clima poético de silêncio e de espanto, que nos abeiramos do mistério humilde da presença escondida de Deus, que de novo nos desafia a confiar na Sua presença. Reconheçamos a nossa pouca fé.

 

HOMILIA NO XII DOMINGO COMUM B 2024

1.Dorme o semeador, enquanto a semente germina e cresce sem ele saber como! Dorme agora o Senhor, enquanto a barca se agita, no meio da tempestade, sem os discípulos perceberem por que carga de água! Pensam eles que conseguirão salvar-se, com a força dos seus braços, com os recursos da sua experiência, mas o barco começa a encher-se de água e entram em pânico. Não se dão conta de que têm a solução diante dos olhos: Jesus está ali com eles no barco, no meio da tempestade. E Jesus dorme, para os desafiar à confiança, à entrega, ao abandono às mãos de Deus. Quando acordam Jesus, assustados e zangados, porque julgavam que os deixaria morrer, Jesus repreende-os: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?»(Mc 4, 40).

2.Eis, portanto, o grande inimigo da fé: o medo. O inimigo da fé não é a inteligência, não é a razão, não é a ciência. Não. O grande inimigo da fé é o medo (cf. Papa Francisco, Audiência, 1.05.2024). O medo de Se entregar a Deus, o medo de pôr a vida nas Suas mãos, o medo de se deixar mover e guiar por Ele, o medo de que Deus, entrando na nossa vida, nos tire alguma coisa de belo ou de bom. Este medo paralisa-nos, afunda-nos e afoga-nos, não deixa a vida da fé fluir e avançar. Este medo é o contrário da fé, precisamente porque a fé é um ato de abandono, de confiança no Senhor. Abandonar-se significa entregar-se, fiar-se, confiar-se, colocar-se nas mãos de Deus, pôr n’Ele toda a confiança, adormecer e repousar n’Ele, como uma criança se entrega e abandona ao colo do pai e da mãe.  Pela fé, a pessoa humana entrega-se total e livremente a Deus (CIC 1814). São Paulo disse um dia: “Sei em quem pus a minha confiança” (2 Tm 1,12).  Acreditar é isto mesmo: fiar-se, confiar-se e entregar-se Aquele que sabemos que nos ama! E deixar que a barca da vida seja impelida por esse amor.

3.Por isso, a fé é o primeiro dom a pedir e a receber na vida cristã: um dom que deve ser acolhido e pedido diariamente, para que se renove em nós. Aparentemente, é um dom pequeno, mas é essencial. Quando os mais pequeninos são levados à pia batismal, os pais são interrogados: «O que pedis à Igreja de Deus?». E então respondem: «A fé», ou «O Batismo». Os pais sabem que não dão verdadeiramente a vida aos filhos se, com a vida, não lhes derem um sentido para ela, uma luz, uma esperança, um futuro. Com a fé, os pais sabem que, mesmo no meio das provações e dificuldades da vida, os seus filhos não se afogarão no medo. Sabem que, graças à fé, quando os filhos deixarem de ter, nesta terra, um pai, uma mãe, continuarão a ter no Céu um Deus Pai e Mãe, uma esperança de ressurreição. Com a fé, os pais sabem que dão aos filhos uma nova família, onde nunca se sentirão sós, porque quem crê nunca está só. Por isso a fé é uma luz para o caminho da vida. Quem não tem fé, vive às escuras! Quem tem fé é iluminado por uma Luz, que não dissipa todas as trevas do caminho, mas guia os passos na noite, e isto basta, para avançar sem medo(cf. LF 57), ir mais longe.

4.Por isso, cultivemos a virtude da fé. Rezemos mais, para que a nossa fé possa respirar. Alimentemos a fé nos sacramentos, fontes de energias renováveis. Frequentemos a Catequese, mesmo em idade adulta; inscrevamos (inscrevamo-nos) nas aulas de EMRC, para aprofundarmos as razões da nossa fé e da nossa esperança. Sejamos membros ativos da comunidade, para contagiarmos e nos deixarmos contagiar pela fé dos outros.

5.Irmãos e irmãs: A fé é uma luz para o caminho da vida, uma força de coragem. Por isso, invoquemos sempre o dom da fé! No meio das tempestades e das crises, é ainda mais necessário pedir sem cessar: «Senhor, aumenta a nossa fé»(cf. Lc 17, 5). E caminharemos sobre as águas!

 

 

 

 

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