Breve Homilia na Bênção dos Ramos B 2024
Vamos com alegria!
1.Jesus entra em Jerusalém. A multidão dos discípulos acompanha-O em festa, os mantos são estendidos diante d’Ele, ergue-se um grito de louvor: «Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o Reino que vem, o Reino de nosso Pai David» (Mc 11,10). Multidão, festa, louvor, bênção, paz: respira-se um clima de alegria. Jesus despertou tantas esperanças no coração, especialmente das pessoas humildes, simples, pobres, abandonadas, pessoas que não contam aos olhos do mundo. Soube compreender as misérias humanas, mostrou o rosto misericordioso de Deus e inclinou-Se para curar as feridas.
2. Grande é o amor de Jesus! Ele entra agora em Jerusalém, assim com este amor, que nos vê a todos, por dentro, que carrega sobre Si as nossas alegrias e sofrimentos, angústias e esperanças. É um espetáculo lindo: cheio de luz– a luz do amor de Jesus, do amor do seu coração–, de alegria, de festa.
3. Esta é então a primeira palavra que vos queria dizer neste domingo: vamos com alegria! Nunca sejais pessoas tristes: um cristão não o pode ser jamais! Nunca vos deixeis invadir pelo desânimo! A nossa alegria não nasce do facto de termos muitas coisas, de termos saúde e dinheiro, mas de termos encontrado uma Pessoa, um tesouro, um amigo para sempre: Jesus Cristo, que está no meio de nós! A nossa alegria nasce do facto de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos, mesmo nos momentos mais difíceis, mesmo quando o caminho da vida é confrontado com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis… e há tantos! Nada de desânimo. Não escutemos nenhuma das vozes que nos tentam a desistir.
4.Vamos com alegria. Sigamos Jesus, subamos juntos e com Ele a Jerusalém! Sigamos os Seus passos. Façamos-Lhe companhia. Mas sobretudo saibamos que é Ele mesmo que nos acompanha e nos carrega aos ombros. Esta é a nossa alegria, que ninguém nos poderá tirar: a certeza da Sua companhia, do Seu infinito amor por nós. Então vamos. Vamos com alegria. Vamos com Ele. Subamos juntos a Jerusalém.
Homilia no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor B 2024
Subamos juntos a Jerusalém!
1.Estranha alegria que tão rapidamente se converte em tristeza de morte! É, na verdade, uma alegria paradoxal a alegria da Cruz, feita de humilhação e exaltação, de sofrimento e d glória, de morte e de ressurreição. O Evangelho da Paixão está, aliás, cheio de paradoxos, de contradições: Simão nega Aquele Jesus que confessou como Messias. Pilatos abdica da sua liberdade e lava as mãos de sangue inocente. Judas, que tinha deixado a cobrança dos impostos, entrega Jesus por dinheiro. Os discípulos que prometeram seguir até ao fim, abandonam o Mestre na Hora mais difícil. Por fim, é um pagão que confessa que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus!
2.Nós, que pomos os olhos na Cruz do Senhor, vemo-nos e revemo-nos ali, com as nossas feridas, com as nossas chagas pessoais, familiares, sociais, culturais e paroquiais, isto é, com as nossas contradições, lutas de poder, guerras, sede de dinheiro, corrupção, divisões e indiferenças e com os nossos ódios, violências, conflitos e abusos! E vemos ali, na Crucificado, as feridas dos nossos pecados mais escondidos, das nossas mágoas mais profundas, das dores mais silenciosas da nossa alma. Quantas vezes trocamos Jesus e O abandonamos, em nome de coisas tão mesquinhas? Quantas vezes?!
3.Mas quem viu a alegria da entrada triunfal converter-se em tristeza mortal, também há de ver esta tristeza converter-se em alegria pascal, que é sempre – insisto – uma alegria paradoxal. Porquê? Porque é uma alegria que vem da Cruz; porque na Cruz o amor de Deus sai vencedor; porque na Cruz o amor é mais forte do que a morte; porque na Cruz o amor não Se nega a quem o renega; porque na Cruz o desespero não esmaga a esperança.
O próprio grito de Jesus na Cruz «Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste» (Mc 15,34; Mt 27,46)não é o grito de quem vai ao encontro da morte, com o desespero de um abandonado. Jesus assume nesse grito, as dores do seu Povo, as dores da humanidade inteira, as dores de quem sofre pela sensação aparente da ausência de Deus. Este grito de tormento extremo de Jesus, transforma-se em hino de confiança absoluta, de certeza da resposta divina, de certeza da salvação, mesmo quando Deus parece ausente, mesmo quando o seu silêncio nos desconcerta e desilude. Ao rezar todo o Salmo 22, sabemos que o grito inicial de Jesus se transforma, por fim, num hino de confiança e anúncio de salvação: «esta é a obra do Senhor» (Sl 22, 32).
4.Na cruz, Jesus suporta o peso do mal e carrega sobre Si as nossas feridas. Mas com a força do Amor de Deus, vence o pecado e a morte, cura as nossas chagas, na luz nova da Sua Ressurreição. Por isso, abraçada com amor, a Cruz de Cristo nunca leva à tristeza, mas à alegria: à alegria de sermos salvos, à alegria de sermos amados, à alegria de sermos redimidos, pelo Seu amor excessivo e invencível.
5.Irmãos e irmãs: não voltemos a negar, a esquecer, a abandonar, a trocar a companhia de Jesus por coisas que não prestam. Subamos juntos e com Jesus a Jerusalém. Não transformemos a Semana Santa numa semana pagã, de folia e de euforia, alheios à Paixão de quem mais nos ama e de quem tanto sofreu por nós. Façamos desta Semana um tempo santo, vivamo-lo juntos, em comunidade, na companhia do Senhor e de quem mais sofre com(o) Ele. Então, sim, subamos juntos a Jerusalém. “Troquemos o instante pelo eterno. Sigamos o caminho de Jesus. A Primavera vem depois do Inverno. A alegria virá depois da Cruz” (Hino da Liturgia das Horas)!
Nota: Nas Missas com Catequese pode omitir-se o ponto 3 e, se for necessário, o ponto 4.