Liturgia e Homilias no II Domingo da Quaresma B 2024
Destaque

Vamos com alegria. Subamos a Jerusalém.Antes, porém, a meio do caminho, rumo a Jerusalém, Jesus convida os seus mais íntimos amigos, a subir com Ele a um alto monte, a um lugar retirado, para uma pausa, para uma visão a partir do alto. E aí – diz o texto – Jesus transfigurou-Se. Na prática, Jesus mostrou-lhes, por um momento, a meta gloriosa do caminho da cruz: a Sua Ressurreição. Mas a visão dessa meta, não é uma ilusão enganadora. É um vislumbre de esperança e de confiança, para que possamos aguentar a subida a Jerusalém, suportando e superando as provações da vida. Somos chamados, nesta 2.ª semana da Quaresma a viver a alegria no meio das provações. E hoje trataremos das feridas familiares, que se contam entre as mais difíceis provações da nossa vida. 

 

 

Homilia no II Domingo da Quaresma B 2024

1. Entre a alegria e a provação, imaginamos uma relação improvável. Mas, neste 2.º domingo da Quaresma, somos desafiados a viver precisamente a alegria na provação, a alegria no contexto da dor, da perda, do sofrimento, da morte, a alegria no meio de uma situação incompreensível e absurda, a alegria até na sensação da ausência de Deus! Parece-nos uma coincidência de opostos, esta alegria no meio da provação, porque a provação, sobretudo quando nos advém do fracasso, da doença, da sensação de abandono, de uma morte precoce, mergulha-nos na tristeza, na crise e até na noite escura da fé. Ora, uma provação é sempre um teste-limite à nossa resistência, mas é, ao mesmo tempo, uma oportunidade de revelarmos o que realmente somos ou valemos!

2. O sacrifício de Abraão, chamado a oferecer o seu filho Isaac, é realmente uma provação e uma provocação até ao limite do impossível! Depois de Deus ter dado tudo a Abraão, parece pedir-lhe tudo de volta. Todavia, a fé de Abraão, posta à prova, até a um limite impensável, traduz-se numa obediência incondicional à voz de Deus e numa confiança absoluta na Sua providência. Nesta história, Abraão aprenderá que não se trata de sacrificar a carne do filho, como se fazia com a dos animais, mas de se desprender do filho da sua carne, isto é, de se libertar da tentação de ter e reter o seu filho, para si. E porque superou esta prova da paternidade de Isaac, libertando-se do desejo de posse do filho, Abraão tornou-se pai de uma multidão de crentes. Abraão saiu desta prova, ainda maior na fé, mais Pai, Pai de uma grande descendência.

3. Onde está então a alegria nesta provação? Esta alegria não veio só no fim, como fruto de uma prova vencida. Esta alegria não desapareceu, de todo, durante o tempo da provação, porque Abraão mostrava-se sereno, na confiança de que esta seria uma prova de Deus, em cujas mãos ele se entregava sem medo. Mesmo no auge das trevas, Abraão sabia que Deus não o abandonava, antes o amparava em Suas mãos. Ora “se Deus está por nós, quem estará contra nós”, pergunta São Paulo (Rm 8,32). Que diremos nós das provações da vida, perante um Deus, que nem sequer poupou o Seu Filho à morte, mas O entregou por todos nós?! Nenhuma prova, por maior que seja, é mais do que uma prova! A prova por que passamos é sempre e apenas uma prova, permitida por um Deus que nos segura firme pela mão! Esta alegria “sempre desperta, no coração do crente, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias” (cf. EG 6). Esta alegria brota, enfim, da certeza pessoal de que, não obstante todas as provações, somos infinitamente amados por Deus! Nos tempos de provação, é bom lembrar que não estamos sozinhos, que Alguém olha para nós e nos protege. Se, num momento de cegueira, não conseguirmos vislumbrar a presença do Senhor, consegui-lo-emos, subindo à montanha, vendo mais longe, vendo a partir de cima. Talvez, no final da nossa vida, olhando para trás, possamos dizer: Deus estava lá e eu não sabia (cf. Gn 28, 16); pensava que estava sozinho; mas Jesus estava comigo.

4. “Meu filho, se queres servir o Senhor, prepara-te para a prova” (Sir 2,1-3). É isso, na prática, o que significa o convite de Jesus aos seus discípulos, quando lhes diz: “Subamos a Jerusalém” (Mc 10,33). E nós vamos com Ele, acolhendo com alegria todas as provações, porque a prova produz a constância. E aquele que perseverar até ao fim, receberá a coroa da vida (cf. Tg 1,2.12).

5. Nesta segunda semana, descubramos, recordemos os nossos momentos passados ou atuais de provação, para os transformarmos em experiências de crescimento humano e espiritual. Tornemo-nos próximos de alguém em provação (doença, luto, sofrimento, desemprego, separação etc.). Com este espírito, subamos ao monte Tabor, mas desçamos daí e subamos ao Monte do Calvário. Vamos com alegria, subamos juntos a Jerusalém!

 

Homilia nas Missas com Catequese do II Domingo da Quaresma B 2024

Recordemos o lema da nossa caminhada da Quaresma à Páscoa: “Vamos com alegria, subamos juntos a Jerusalém”.

1. Jesus, na verdade, tinha feito este convite aos discípulos: “Eis que subimos a Jerusalém” (Mt 20,18; Mc 10,33; Lc18,31), mas avisou-os logo de que não se trataria de um passeio turístico, de uma caminhada pedestre, de uma escalada para subir o monte e ver o nascer ou o pôr-do-sol. Não. Em Jerusalém, Jesus havia de ser entregue, havia de ser crucificado, havia de ser morto, para ressuscitar ao terceiro dia. Subir a Jerusalém era subir com Jesus, ao monte do Calvário, era subir até à Cruz, para chegar à luz da Páscoa.

2. Os discípulos não reagiram bem a este anúncio da Páscoa. Não entendiam muito bem o que seria ressuscitar dos mortos, mas entendiam ainda menos que Jesus, o Filho de Deus, tivesse de passar pela prova humilhante da Cruz! Achavam que Jesus havia de alcançar tal meta, sem ter de percorrer esta subida para a Cruz. Parecia-lhes um absurdo. O facto é que os discípulos estavam escandalizados. O seu entusiasmo por Jesus começava a arrefecer. A sua fé entrava em crise. Sentiam-se a entrar na noite escura, sem pontos de luz.

3. Então, a meio do caminho para Jerusalém, Jesus faz uma pausa e fá-los subir a um monte muito alto. E ali Se transfigura! Naquele encontro íntimo, Jesus mostra aos discípulos a meta do caminho: a Ressurreição. A Transfiguração é, pois, uma antevisão da Ressurreição. Mas também lhes mostra o caminho para lá chegar: o caminho da cruz. Para poderem suportar esta prova, Jesus convida-os a ver com outros olhos, com os olhos de fé, com os olhos de esperança, com os olhos do amor, todas as provações, todas as dificuldades, todos os desafios que esta subida exigiria.

4. Queridos irmãos e irmãs, queridos meninos e meninas: todos nós, ou já passamos ou havemos a de passar algum momento difícil, alguma prova dura. Às vezes, temos de enfrentar testes, batalhas, dificuldades, provas, imprevistos, doenças, mortes, que nos abalam, que nos deixam às escuras! É importante, nesses momentos, sentirmos que não estamos sós no caminho da Cruz, no meio das provações. É importante acreditarmos que essa prova é passageira e, uma vez superada, há de transformar a nossa vida.

5. Foi assim com Abraão. Mesmo parecendo absurdo o que Deus lhe pedia – devolver-lhe o Filho que tanto amava – acabou por viver aquela provação, como alguém que se colocava nas mãos de Deus e, por isso, não perdia a alegria, mesmo no meio de uma grande provação. Nós sabemos que Deus nem sequer poupou o Seu Filho à morte, para nos alcançar a vida. Por que havíamos então de pensar que Deus nos abandonou no meio das nossas angústias e aflições?!

6. Nesta segunda semana da Quaresma, recordemos os nossos momentos passados ou atuais de provação, para os transformarmos em experiências de crescimento. Mas sobretudo todos conheceremos pessoas em dura provação (por causa da doença, do luto, do desemprego, de uma separação etc.). Procuremos acompanhar, fazer companhia, ser um ponto de luz, na noite escura da vida dessas pessoas.  Se fizermos caminho com elas, elas poderão viver a alegria, mesmo no meio das provações. Se as ajudarmos a pôr a sua confiança no Senhor, elas poderão sentir que esta alegria “sempre despertará, como uma secreta, mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias” (cf. EG 6). Esta alegria brotará, enfim, da certeza pessoal de que, não obstante todas as provações, somos infinitamente amados por Deus! Nos tempos de provação, é bom lembrar que não estamos sozinhos. Alguém nos protege.

7. Com este espírito, subamos ao monte Tabor, mas desçamos daí e subamos ao Monte do Calvário. Vamos com alegria. Subamos juntos a Jerusalém!

 

 

 

 

 

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