Liturgia e Homilia na Quarta-feira de Cinzas 2024
Destaque

Vamos com alegria. Subamos juntos a Jerusalém”. Este é o convite do Senhor, no início do nosso caminho quaresmal, cuja meta é a Sua Páscoa gloriosa. É um caminho árduo de liberdade e de libertação, um caminho que passa pelo deserto da oração e da conversão, um caminho que implica uma luta livre contra os muitos falsos deuses a quem servimos. É um caminho de subida para a cruz, que nos desafia a descer até ao fundo de nós mesmos, a abandonarmos os vínculos ou os laços que nos prendem, para regressarmos ao Senhor, para voltamos ao Seu primeiro amor (Os 2,16-17). É um caminho de conversão da tristeza em alegria: da tristeza pelo pecado e pela ausência do Senhor nas nossas vidas; da alegria, que brota sempre da Sua Páscoa, das suas chagas, das suas feridas, abertas por amor. Aclamemos o Senhor, que é rico em misericórdia.

Homilia na Quarta-feira de Cinzas 2024

Vamos com alegria! Subamos juntos a Jerusalém.

1. Vamos com alegria!

Talvez pareça estranho associar a alegria ao tempo penitencial e austero da Quaresma. Mas “ai de nós” – diz o Santo Padre na sua Mensagem para a Quaresma [= MPQ2024] – “se a penitência cristã fosse como aquela que deixou Jesus tão triste! Também a nós, Jesus nos diz: «Não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para mostrarem aos outros que jejuam» (Mt 6, 16). Pelo contrário, veja-se a alegria nos rostos, sinta-se o perfume da liberdade, irradie em nós aquele amor que faz novas todas as coisas” (MPQ2024). Na verdade, tomamos a alegria por companheira do nosso caminho, porque não “escolhemos viver uma Quaresma sem Páscoa” (cf. EG 6). Não. A meta da nossa Quaresma é sempre a Páscoa do Senhor. E a Páscoa enche-nos de uma alegria imensa, que nada e ninguém nos podem tirar. Neste sentido, propomo-nos, “caminhar alegremente para as próximas solenidades pascais” (cfr. Oração coleta do IV Domingo da Quaresma)e pediremos ao Senhor constantemente que nos dê “a alegria da salvação” (cf. Sl 50,14).

A alegria pascal é, pois, o fruto que desejamos alcançar neste caminho da Quaresma à Páscoa. E, por ser pascal, essa alegria cristã é paradoxal; ela tem sempre duas faces: as cinzas e o fogo, a descida e a subida, a ferida e a cura, a humilhação e a exaltação, a cruz e a glória, a morte e a ressurreição. É com esta alegria – a alegria de quem perde para ganhar, a alegria de quem sofre para reinar, a alegria de quem morre para ressuscitar – que seguiremos o caminho de Jesus, certos de que “a Primavera vem depois do Inverno; a alegria virá depois da Cruz”! A alegria virá e brotará sempre desde a própria Cruz!

2. Subamos a Jerusalém!

Para embarcar nesta subida, com Cristo, para Jerusalém (Mt 20,18; Mc 10,33; Lc18,31),é preciso deixarmos para trás comodidades e rotinas. Precisamos de nos deslindar daquilo que mais nos pesa, do que mais nos atrapalha, do que mais nos escraviza e domina. Estaremos agarrados ao dinheiro, apegados a certos projetos e ideias fixas, a uma certa tradição ou costume, a uma determinada posição, a uma relação tóxica com alguém? Pois bem? Lancemos fora todos tais apegos que nos aprisionam! Então o nosso coração atrofiado despertará e terá fôlego para chegar à Páscoa, em Jerusalém. Mais ainda, esta é uma subida, que se faz por meio de uma descida humilde, dentro de nós e rumo aos outros, imitando e seguindo a Cristo que se humilhou até à morte e morte de Cruz, num abaixamento por amor! Esta é, enfim, uma subida que implica diminuir a velocidade e parar no caminho: parar diante de Deus em oração e parar diante do irmão ferido, em ação concreta (cf. MPQ 2024).

3. Juntos!

Mas esta subida com Cristo, não se faz só de percursos ou programas pessoais. Fazemo-la também juntos, como discípulos e companheiros, em estilo sinodal, e por isso a Quaresma é também “tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções, em contracorrente, capazes de modificar a vida das pessoas” (MPQ 2024). E nós, que iniciámos este caminho de unidade pastoral entre as duas paróquias, sob orientação do mesmo pároco, precisamos de “um estremeção de criatividade”(cf. MPQ 2024), precisamos de procurar e arrriscar novos caminhos, de sairmos de nós mesmos, de programarmos, de rezarmos e celebrarmos juntos a Páscoa do Senhor. Aprendamos a lógica da cruz, que é a de perder para ganhar, de morrer para ressuscitar, na confiança de que “quanto menos, tanto mais” (LS, n.º 222).

4. Diante da Cruz!

Neste caminho, e para não perdermos o rumo, coloquemo-nos sempre diante da cruz de Jesus. A Cruz é a cátedra silenciosa de Deus. Semana a semana, à volta da Cruz, identifiquemos e tratemos de curar as nossas feridas, as chagas da nossa vida pessoal, familiar, social, cultural, paroquial. Mas façamo-lo com os olhos postos nas chagas de Cristo, morto e ressuscitado. Naquelas feridas abertas, reconheçamos o nosso vazio, as nossas faltas, as feridas do pecado, os golpes que nos fizeram sofrer! E, contudo, mesmo ali, veremos que Deus não aponta o dedo contra nós, mas abre-nos os braços. As suas chagas estão abertas para nós e, por aquelas chagas, somos curados (cf. 1 Pd 2, 24; Is 53, 5). Beijemo-las e compreenderemos que precisamente lá, nos buracos escuros, frios e dolorosos da vida, Deus ainda nos espera com a sua infinita misericórdia. Porque ali, onde somos mais vulneráveis, onde mais nos envergonhamos do que somos e fizemos, Deus vem ao nosso encontro e convida-nos a regressar a Ele, para voltarmos a encontrar a alegria de ser amados (cf. Papa Francisco, Homilia, 17.2.2021), para voltarmos à alegria do primeiro amor (Os 2.16-17).

5. Hoje damos (dêmos) o primeiro passo!

Irmãos e irmãs: de coração contrito, iniciemos juntos a subida para Jerusalém. Que as nossas chagas sejam curadas nas chagas de Cristo. Que a nossa tristeza se converta em alegria. A todos, desejo uma feliz escalada, pelo Caminho da Cruz à glória de Cristo Ressuscitado! 

Boa subida. Hoje damos (dêmos hoje) o primeiro passo!

 

 

 

 

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