Liturgia e Homilias no IV Domingo Comum B 2024
Destaque

Jesus entra na sinagoga a um sábado. E ali ensina com a autoridade que lhe vem da Sua proximidade, da Sua unidade, da Sua coerência de vida! A Sua Palavra é eficaz e os Seus gestos são eloquentes. Jesus é o que diz. Ele faz ao dizer. Ele fala ao fazer. Ele enfrenta e afronta o mal pela sua raiz. Jesus liberta-nos do pecado que nos divide. No fulgor da luz deste Deus Santo, reconheçamos a nossa face negra, as sombrias regiões dos nossos pecados, sobretudo os de incoerência e de desobediência à Palavra de Deus.

HOMILIA NO IV DOMINGO COMUM B 2024

1. Do princípio ao fim do Evangelho, o que espanta em Jesus é a frescura das suas palavras, uma nova doutrina, e com tal autoridade! E de onde lhe vem esta autoridade? Não lhe vem dos livros ou de um doutoramento bíblico, como nos escribas. Não lhe vem da sua ascendência sacerdotal, como nos sumo-sacerdotes do Templo. Não lhe vem do poder político, como em Herodes. A autoridade de Jesus vem-lhe da unidade e da coerência plena entre o que é, o que diz e o que faz. Ele é o Filho de Deus, o Enviado do Pai. A sua Palavra é Boa Nova, é Palavra que Se faz ver, antes mesmo de Se fazer ouvir; a Sua Palavra não faz ruído, mas surte efeito, realiza o que diz. As suas ações falam por Ele. Em Jesus, há uma harmonia perfeita e uma coerência total entre a imagem e a mensagem, entre a palavra e as obras. N’Ele não há sombra de pecado, de divisão, de separação entre a fé e a vida.

2. No lado oposto, está aquele outro homem, com um espírito impuro. Está dentro de um espaço religioso, na sinagoga, mas sob domínio do Inimigo. É um homem dividido, esfrangalhado, despedaçado. Vede: ele reconhece em Jesus o Filho de Deus, mas não quer nada com Ele. Ele sabe que Jesus vem para destruir o mal, mas prefere deixar-se destruir pelo pecado. Ele sabe que Jesus é Deus, mas desconfia que venha para lhe tirar alguma coisa! O homem com espírito impuro é, ao invés de Cristo, o rosto desfigurado da incoerência entre o que parece e o que é, entre a sua fé professada com os lábios e as escolhas concretas da sua vida. N’Ele, a letra não diz nada com a careta!

3. De que sofre afinal este homem? Que nome daríamos hoje a esta doença do homem de espírito impuro? Vamos usar um palavrão do Papa Francisco: é a doença da esquizofrenia existencial.Esquizofrenia significa divisão da mente.A esquizofrenia existencial denota, numa pessoa, uma divisão permanente entre o pensamento e a ação, entre as convicções e o estilo de vida. A fé em Deus, parece fervorosa, mas Deus não conta para nada, quando chega a hora de agir, de escolher, de decidir, de O testemunhar. É a doença daqueles que vivem uma vida dupla, uma vida mundana, obcecada pela aparência, uma vida de fachada! É a vida de muitas pessoas centradas e fechadas sobre si mesmas, escondidas numa aparência religiosa, mas vazia de Deus” (Papa Francisco, Discurso à Cúria, 22.12.2014; cf. EG 95). Por consequência, estas pessoas perdem a paz interior e vivem da culpa e do remorso.

4. Esta doença tem um efeito terrível sobre os outros, porque ninguém dá crédito às palavras de Frei Tomás: «olha para o que ele e não para o que ele faz». A falta de autoridade dos políticos, dos sacerdotes, dos pais, dos educadores, vem sempre daqui: da incoerência, do desfasamento, do desencontro entre ser e parecer, entre dizer e fazer, entre o que se impõe aos outros e o que se vive para si mesmo. A autoridade do político, do educador, do pai e da mãe, do evangelizador, pelo contrário, vem da coerência, do esforço de unidade e de sintonia entre o ser, o dizer e o fazer. “Sem coerência não é possível educar! Não há delegações nesse campo” (Papa Francisco, Respostas, 07.06.2013). “A coerência é um fator indispensável na educação. Coerência! Não se consegue fazer crescer, não se pode educar, sem coerência. Coerência e testemunho” (Papa Francisco, Discurso, 13.02.2014). Recordo o desafio, há oito dias, na Entrega da Bíblia aos ministros da Palavra: “Crê no que lês, ensina o que crês, vive o que ensinas”?

5. Caríssimos irmãos e irmãs: bem sabemos que esta coerência plena pertence somente a Cristo. Mas, unidos a Ele, peçamos-lhe a graça de nos convertermos Àquele que anunciamos, àquilo que pregamos, às ordens que damos, às propostas que fazemos aos outros. Que o Senhor faça surgir, do meio de nós, profetas, pais, catequistas, educadores e testemunhas que sejam, ao mesmo tempo, imagem e mensagem, palavra eficaz e obra eloquente, palavra que realiza e obra que fala por si. Ámen.

 

 

 

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