Homilia no Domingo II do Advento B 2023
“Consolai, consolai o meu Povo” (Is 40,1)! Eu não queria senão fixar-me neste único imperativo, quando a palavra de ordem desta 2.ª semana do Advento é vivermos juntos a alegria de dar alegria. trata-se, no fundo, da alegria de cuidar, de servir, de estar próximo de quem está mais só. Como podemos nós viver a alegria de dar alegria, num tempo em que o gozo se tornou o nosso primeiro dever? Que significa, para nós este ofício, esta arte de consolar? Permitam-me uma espécie de Decálogo (ou apenas alguns pontos na MCC: 1, 2, 3, 4, 10) para um ministério da consolação e da alegria:
1. Consola, fazendo-te presente, aproximando-te de quem está na desolação ou no isolamento. A consolação é, sobretudo, uma presença compassiva, capaz de transmitir ao outro proximidade, compreensão, alento, acolhimento, encorajamento, novo impulso para a vida. Em muitos casos, estar presente é luz bastante para romper o escuro curto-circuito da solidão.
2. Consola, escutando, sem pressas, sem palavras banais ou falsamente tranquilizantes; trata-se de uma escuta atenciosa, empática, para conheceres o outro, na sua singularidade, nos seus problemas, no seu sofrimento indizível. Sobretudo quando a dor do outro é grande, é preferível um longo silêncio (Jb 2,23) a um discurso piedoso, para não te tornares “consolador inoportuno” (Jb 16,2). Escuta sobretudo as palavras que se balbuciam em gemidos, em gritos de dor, que vêm lá do abismo mais profundo do coração.
3. Consola, falando ao coração. Que gesto belo é apoiares a cabeça sobre o peito da pessoa amada, dirigindo-lhe palavras que vão diretas ao coração. É assim que Deus nos fala. Nestas poucas palavras, importa fazeres sentir ao outro que ele é preciso e precioso, é amado e querido aos olhos de Deus, é digno de estima, de alegria, de confiança. Faz o outro sentir-se pessoa atraída, procurada, abraçada, levada aos ombros de Deus, o Bom Pastor.
4. Consola com ternura, como uma mãe acaricia e tranquiliza o filho, quando ele chora. Não tenhas medo da carícia, do beijo, do abraço, da ternura! A consolação é uma proximidade, que pode chegar à intimidade!
5.Consola com gestos concretos de amor, com obras de misericórdia, e não com declarações balofas, emoções ou sentimentos à flor da pele. Trata-se de consolares na alegria de cuidar, de servires à mesa, de servires em casa, de te fazeres voluntário de um serviço. Fá-lo sempre com um sorriso!
6. Consola com a mesma consolação que recebeste de Deus. Deus consola-te, nas tuas tribulações, para seres capazes de consolar os outros (2 Cor 1,3-5). Quantas vezes não há quem console, com medo do contágio da aflição ou com receio de não saber transmitir o contágio da consolação. Sê consolador.
7. Consola com o perdão que devolve a paz ao coração. Ajuda o outro a fazer as pazes com o passado, com a vida, estendendo a mão para dar e receber o perdão. Propõe-lhe o Sacramento da Reconciliação, para acolher a graça da absolvição, que faz chegar ao coração o perdão e a paz. Mostra aos outros a alegria de quem se deixa abraçar, perdoar, consolar, por este Deus Pastor que nos leva aos ombros, por este Deus Pai que nos cobre de beijos, no regresso a casa. A consolação do perdão dá-nos a paz e faz-nos voltar a sorrir!
8. Consola Deus com a tua oração. Deus, ferido por amor, também espera ser consolado, pela tua companhia silenciosa. Sê consolador de Deus, dedicando tempo à oração, visitando o sacrário, rezando em casa, diante do Presépio.
9. Consola com o contágio da tua alegria, ainda que esta se comunique apenas pelo esboço de um sorriso. Olha que da consolação nasce a alegria: a alegria do bem que se difunde, a alegria de dar alegria aos outros.
10. Irmãos, irmãs: se não for mais, pelo menos e para já, “consolai-vos uns aos outros, com estas palavras” (1 Ts. 4,18), até ao dia, em que Deus enxugará todas as nossas lágrimas (Ap 7,14) e já não haverá mais morte, nem luto, nem gritos, nem dor (Ap 21,4), mas alegria eterna e paz sem fim. Ámen.