Homilia no XXXI Domingo Comum A 2023
1.Voltamos às duas faces da mesma moeda! Primeiro, Deus e o ser humano; depois, o amor a Deus e o amor ao próximo. E hoje, pela terceira vez, a Liturgia oferece-nos as duas faces do rosto de Deus, com o título de Pai e a imagem da Mãe. Pai e Mãe, na sua união fecunda, são as duas faces da mesma moeda, porque neles Deus inscreveu os traços característicos do Seu amor.
2.Fixemos, em primeiro lugar, o título de Pai,atribuído a Deus. Na 1.ª leitura, escutávamo-lo sobre a forma de pergunta: “Não temos todos nós um só Pai?”. Com esta pergunta, o Profeta recordava-nos o dever de tratar a todos sem exceções, como pessoas iguais em dignidade, como filhos de um mesmo Pai e por isso, como irmãos uns dos outros. A resposta à pergunta do Profeta veio-nos depois da boca de Jesus, quando falava aos fariseus: “Um só é o vosso Pai: o Pai celeste”. A mensagem é clara: ninguém se julgue acima dos outros, dono da vida dos outros. Se “um só é o Vosso Pai”, então “vós sois todos irmãos”. A paternidade de Deus é a verdadeira raiz da nossa fraternidade.
3. Em segundo lugar, contemplemos a imagem da mãe, em dois textos. Na oração do Salmista, nós rezávamos com ele: Senhor, não se eleva soberbo o meu coração; antes fico sossegado e tranquilo, como uma criança ao colo da mãe. E, na 2.ª leitura, Paulo, Silvano e Timóteo, falavam do seu cuidado pastoral, comparável ao de uma mãe que acalenta os filhos que anda a criar. Na verdade, a Palavra da Escritura fala-nos de Deus, também a partir do cuidado de uma mãe e do seu amor entranhável ao filho que gera no seu ventre.
4.Diríamos, então, que a Palavra de Deus, a Palavra e a Oração de Jesus, nos ensinam a tratar Deus como Pai, o Pai querido, o Pai Celeste, com a mesma ternura com que uma criança diz papá ou mamã. Damo-nos conta disto: quer o título de Pai, quer a imagem da Mãe, são atribuídos a Deus, a partir da experiência humana de ter um pai e uma mãe e do seu cuidado amoroso. É uma experiência bela, mesmo se imperfeita. Esta experiência humana do amor do pai e da mãe torna-se decisiva para conhecermos e intuirmos o que seja a grandeza do amor de Deus por nós. Na verdade, ambos, pai e mãe, são cooperadores do amor de Deus Criador. O pai e a mãe mostram aos seus filhos as duas faces do rosto paterno e materno de Deus.Se esta missão vier a falhar, compreendamos isto: só Deus é o Pai perfeito, a origem e a medida de toda a paternidade e de toda a maternidade. Nenhum pai neste mundo é tão pai como Ele; e ainda que uma mãe viesse a rejeitar o fruto das suas entranhas, Deus jamais o faria (cf. Is 49,15).Se, por alguma razão inevitável, faltar um dos dois, procuremos forma de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento dos filhos. Não são, em primeiro lugar e a qualquer preço, o homem ou a mulher que têm direito a ter um filho; são os filhos que, para nascer e viver dignamente, têm direito a um pai e uma mãe!
5.À luz do que acabámos de refletir, deixamos duas indicações fundamentais:
5.1.Aos filhos e filhas, pedimos que honrem sempre os pais. Que lhes sejam gratos. Que lhes deem muita alegria. E se os pais não estiverem (ou não estiveram) à altura da sua missão, perdoem-lhes de todo o coração; deixem-se amar por aqueles que se tornaram verdadeiros pais, pelo afeto, pelo cuidado, pela proteção, pela educação, pelo dom e pela transmissão da fé e do sentido da vida.
5.2.Aos pais e mães – aos avôs e às avós, aos educadores e aos professores, aos ministros da Igreja, aos que têm nas mãos o governo dos povos – pedimos que sejamos sempre pais e não patrões, cuidadores e não dominadores, servidores e não senhores. Que a [nossa] autoridade seja sustentada sempre por estes dois braços fortes: pelo vínculo do amor até ao fim e pelo exemplo de vida.
Então, sim, os filhos e filhas conhecerão nos pais e os pais reconhecerão em si mesmos a imagem bela de um Deus Pai, que nos ama com um coração de Mãe!