HOMILIA NA SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE A 2023
– forma mais breve
1.Todos nós saberemos enumerar e identificar as três pessoas da Santíssima Trindade! Mas talvez serão menos os que têm a consciência da riqueza incomensurável desta vida íntima de Deus e daquilo a que poderíamos chamar o “software” de Deus. Na verdade, uma coisa é conhecer as pessoas divinas pelos nomes (Pai, Filho e Espírito Santo), outra coisa é penetrar o mistério desta relação eterna, pessoal e divina de Amor, que é Deus e há em Deus, que é Amor. O nosso Deus não é uma omnipotência solitária, mas é uma família divina, uma comunhão total e perfeita de vida e amor, entre as diferentes pessoas divinas.
2.Poderíamos refletir estas relações divinas, entre as três pessoas da Santíssima Trindade, em três princípios fundamentais: 1.º) na Santíssima Trindade, cada Pessoa é ela própria, fazendo a Outra ser; 2.º) na Santíssima Trindade cada Pessoa precisa da Outra para ser; 3.º) cada Pessoa é ela mesma; não é a outra. Assim, o mesmo Amor que as une, também as distingue.
3.Poderíeis, talvez, retorquir: mas que interesse tem isto, para nós? Ora bem, se nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus, isto interessa-nos muito, para nos compreendermos a nós próprios, ao mundo que nos rodeia, à comunidade que somos. A Criação inteira, a pessoa humana, a sociedade civil, a família e a Igreja devem ser, na sua vida, um reflexo deste amor divino, que é Deus e que há em Deus. Não podendo refletir em todas estas realidades, que trazem a marca trinitária de Deus, vejamos, pelos menos, o reflexo da Trindade, na pessoa humana, na família e na comunidade cristã.
3.1.Cada pessoa humana é criada à imagem e semelhança de Deus que é Amor dado, recebido, partilhado. Por isso, a pessoa humana só se realiza em relação e em comunhão de amor. A pessoa humana é, pela sua natureza, um ser relacional, e não um indivíduo isolado; neste sentido, nenhum de nós pode realizar-se ou salvar-se sozinh0! Cada pessoa nasce, cresce, afirma-se, amadurece, tanto mais quanto mais se relaciona com os outros, tanto mais quanto mais se dá e se recebe dos outros, tanto mais quanto cuida e se deixa cuidar pelos outros. Uma pessoa que ama os outros pela própria alegria de amar, essa sim, é reflexo da Santíssima Trindade! Por consequência, as pessoas, as comunidades, as instituições sociais, culturais, económicas, agem, à imagem da Santíssima Trindade, na medida em que viverem umas com as outras, umas para as outras, umas nas outras e umas graças às outras, numa lógica de reciprocidade e de complementaridade, de cooperação, de solidariedade, de comunhão. E não umas contra as outras, umas por cima das outras, umas em vez das outras, numa lógica competitiva de destruição.
3.2.[Neste Dia Diocesano da Família, em que tantos casais jubilados celebram o matrimónio como um presente de Deus],contemplemos o amor dos esposos, no qual e pelo qual se reflete aquela unidade das pessoas divinas, que respeita a diversidade e valoriza as diferenças, em que cada um é no outro, com o outro e para o outro. Fundada no matrimónio, a família é uma das mais belas imagens da Santíssima Trindade, por ser uma comunidade de pessoas diferentes, que se dão e se recebem reciprocamente e, neste amor dado, acolhido e comunicado, crescem em comunhão de vida e de amor! Uma família na qual todos se amam e se ajudam uns aos outros é um reflexo vivo da Trindade!
3.3.Uma paróquia, na qual todos os fiéis se amam e animam uns aos outros, têm os mesmos sentimentos, vivem em paz, partilham os bens espirituais e materiais, é um reflexo da Santíssima Trindade, a mais santa e a mais perfeita comunidade!
Irmãos e irmãs: num tempo de tanto individualismo, de isolamento e de fuga à comunidade, de concorrências fatais, a Eucaristia Dominical seja a sarça ardente do grande mistério de Amor, em que o Pai nos oferece o Seu Filho, o Filho Se entrega ao Pai por nós e o Espírito Santo nos transforma n’Aquele que recebemos!
Homilia na Solenidade da Santíssima Trindade A 2023
– forma mais longa
1.Há uns anos, nos alvores do meu ministério, tinha diante de mim um grupo de jovens e adultos crismandos, que se opunham a mais um tempinho de formação. Já sabiam tudo e queriam despachar depressa o assunto! Disse-lhes que aceitaria a proposta se me respondessem, com acerto, a algumas perguntas básicas do Catecismo. E lembrei-me desta: “Ora, quem me sabe dizer, quantas são as pessoas da Santíssima Trindade?”. Alguém respondeu rapidamente: “30”. Retorqui: “Não serão de mais”? Alguém contestou: “São 7”. E, um que se julgava mais sabido, corrigiu: “não são 7, são 10”. Pouca sorte. Ninguém acertava no “preço certo”. Eis porque tivemos de iniciar um percurso formativo, para aprendermos que “três” é afinal a conta que Deus fez.
2.Vem isto, a propósito da Solenidade da Santíssima Trindade, que hoje celebramos. Todos nós saberemos, no mínimo, enumerar e identificar as três pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai e Criador; Jesus Cristo, Único Salvador; e o Espírito Santo, Senhor que dá a Vida! Assim o espero. E assim o professamos no Credo. Mas talvez muito poucos serão os que têm a consciência e a experiência da riqueza incomensurável desta vida íntima de Deus e daquilo a que poderíamos chamar o “software” de Deus. Na verdade, uma coisa é conhecer as pessoas divinas pelos nomes, Pai, Filho e Espírito Santo, outra é entrar no mistério da relação pessoal e divina de Amor que é Deus e há em Deus. No mistério inesgotável da Santíssima Trindade, acolhemos um Deus, que não é uma omnipotência solitária, mas é família divina, uma comunhão total e perfeita de vida e amor, entre diferentes pessoas divinas.
3.Poderíamos refletir estas relações divinas das três pessoas da Santíssima Trindade, em três princípios: 1.º) Na Santíssima Trindade, cada Pessoa é ela própria fazendo a Outra ser. O Pai dá-Se na geração permanente do Filho; o Filho é gerado na obediência e na doação permanente ao Pai; o Espírito Santo faz a união na distinção, sem fusão ou confusão, entre o Pai e o Filho. 2.º) Na Santíssima Trindade cada Pessoa precisa da outra para ser Quem é. Cada pessoa é Quem é através da outra: o Pai através do Filho, o Filho através do Pai, o Espírito Santo, através do Pai e do Filho. 3.º) Na unidade das três pessoas divinas da Santíssima Trindade, cada pessoa é ela mesma; não é a outra. Assim, o mesmo Amor que as une, também as distingue.
4.Poderíeis, talvez, retorquir: mas que interesse tem isto, para o concreto da nossa vida?! Ora, isto interessa-nos, para nos compreendermos a nós próprios, ao mundo que nos rodeia, à comunidade que somos, porque afinal fomos criados à imagem e semelhança de Deus e, por isso, a Criação inteira, a pessoa humana, a sociedade civil, a família e a Igreja devem ser, na sua vida, um reflexo deste amor divino, que é Deus e que há em Deus. Senão vejamos, pelos menos, o reflexo da Trindade, em algumas realidades da nossa vida: (escolher duas ou três):
4.1.No mundo criado por Deus, há uma série inumerável de relações, que se secretamente se entrelaçam. Tudo está interligado, por um princípio de cooperação, de relação, de comunhão, de interdependência e não de competição e destruição. Por isso, nenhuma criatura vive ou sobrevive por si ou para si mesma! A beleza da Criação proclama a grandeza, a glória de Deus! Esta consciência fará de nós guardiães e cuidadores amorosos e contemplativos da Criação e não dominadores e depredadores da mesma.
4.2.A pessoa humanaé criada à imagem e semelhança de Deus que é Amor e, por isso, só numa relação de amor se realiza. A pessoa humana é, pela sua natureza, um ser relacional, e não um indivíduo isolado; neste sentido, nenhum de nós pode realizar-se ou salvar-se sozinh0. Cada pessoa nasce, cresce, afirma-se, amadurece, tanto mais quanto mais se relaciona com os outros, tanto mais quanto mais se dá e se recebe dos outros, tanto mais quanto cuida e se deixa cuidar pelos outros. Uma pessoa que ama os outros pela própria alegria de amar, essa sim, é reflexo da Santíssima Trindade!
4.3.[Neste Dia Diocesano da Família, em que tantos casais jubiladoscelebram o matrimónio como um presente de Deus], contemplemos o amor dos esposos, no qual se reflete a unidade das pessoas divinas, porquanto homem e mulher constituem uma só carne, uma só alma um só coração, em que a unidade respeita a diversidade e valoriza as diferenças!
4.4.A família humana é, por consequência, uma das mais belas imagens da Santíssima Trindade, por ser uma comunidade de pessoas diferentes que se dão e se acolhem reciprocamente e neste amor dado, acolhido e comunicado crescem na comunhão! Uma família na qual todos se amam e se ajudam uns aos outros é um reflexo da Trindade.
4.5.As pessoas, as comunidades, as instituições sociais, culturais, económicas, agem, à imagem da Santíssima Trindade, na medida em que viverem umas com as outras, umas para as outras, umas nas outras e umas graças às outras.E não umas contra as outras, umas por cima das outras, umas em vez das outras.Na verdade, a Santíssima Trindade é a melhor e mais perfeita comunidade. À imagem e semelhança da Trindade, somos chamados a viver, na doação mútua, na comunhão fraterna, no diálogo recíproco, na solidariedade. Uma paróquia, na qual todos os fiéis se amam e animam uns aos outros, têm os mesmos sentimentos, vivem em paz, partilham os bens espirituais e materiais, é um reflexo da Santíssima Trindade, a mais santa e a mais perfeita comunidade!
5.Irmãos e irmãs: num tempo de tanto individualismo, de isolamento e de fuga à comunidade, de concorrências fatais, a Eucaristia Dominical seja a sarça ardente do grande mistério de Amor, em que o Pai nos oferece o Seu Filho, o Filho Se entrega ao Pai por nós e o Espírito Santo nos transforma n’Aquele que recebemos!
Homilia na Solenidade da Santíssima Trindade A 2023
- Festa da Eucaristia (Primeira Comunhão)
1.Nós estamos aqui, reunidos em Festa! Grande Festa! A Festa da Eucaristia. A Eucaristia é sempre uma Festa. E nada nos alegra mais do que estarmos unidos e reunidos, no mesmo lugar, para participar numa Festa que é de todos e conta com todos. Ninguém, alguma vez, festeja sozinho. Ninguém comemora nada sozinho. É sempre assim, unidos e reunidos, juntos, em assembleia, num mesmo lugar, em grupo, em família, em comunidade, que celebramos, rezamos, convivemos. É assim, que hoje e aqui, festejamos a presença de Deus, que Se faz Pão da Vida, que caminha no meio de nós, que nos dá a saborear a todos o dom da sua própria Vida.
2.Vede: é sempre juntos – e não isolados, e não “cada um virado para si” ou “cada um virado para o seu lado” – que vemos e vivemos a beleza de sermos irmãos, de sermos irmãos diferentes: nos rostos, nas idades, nas formas de ser, nas profissões, nas condições e percursos de vida. Esta diversidade não ameaça a nossa unidade. Esta comunidade, tão bela, de pessoas tão diferentes, não desfaz a singularidade de cada um. Pelo contrário: cada um permanece único, mas só se dá conta de quem é, quando olha para os outros e se une aos outros. É belo vermos que somos tantos e tão diferentes e afinal podemos ser um só, um só coração, uma só alma; podemos trabalhar juntos, para sermos melhores, podemos ter os mesmos sentimentos, animarmo-nos uns aos outros, viver em paz. Por isso, viemos aqui, para celebrar juntos, em comunidade, a alegria de sermos cristãos juntos, a alegria de crescermos juntos e de caminharmos juntos. E hoje festejamos a grande alegria de darmos mais um passo juntos em direção à mesa da mesa do Senhor. É triste ver pessoas que se afastam da comunidade, que escolhem viver para si próprias, sozinhas, indiferentes aos outros. Não se dão conta de como estão a empobrecer e a “desaparecer”, como pessoas e como cristãos!
3.E porque será que é sempre possível esta unidade na diversidade? Porque será que ninguém nasce sozinho, vive sozinho, cresce feliz sozinho? Porque será que, sendo tão diferentes, podemos ser um só coração e uma só alma? Porquê? Porque somos todos criados à imagem e semelhança de Deus. E o nosso Deus não é um Superpoder, ou um Super-Herói, ou um Super-Homem, isolado e solitário. Não. Deus é Amor. É pura relação de Amor e de comunhão entre o Pai e o Filho e o Espírito Santo. A Santíssima Trindade é uma comunhão perfeita de pessoas diferentes, que se dão, que se recebem, que saem de si mesmas. A Santíssima Trindade é uma perfeita família divina, é a mais perfeita comunidade entre pessoas diferentes. Por isso, nós, criados à imagem e semelhança de Deus, não podemos mais viver sozinhos, ou para nós mesmos, mas devemos viver sempre uns graças aos outros, uns nos outros, uns com os outros, uns para os outros. E não uns sem os outros ou uns contra os outros.
4.A alegria de sermos, crescermos e caminharmos juntos, hoje dá um passo importante. Serão mais meninos e meninas os que vão abeirar-se da mesa da Eucaristia. A mesa, lá em casa, como aqui nesta Casa, é o espaço por excelência da convivência, da festa, da familiaridade, da comunidade. Partilhando o mesmo Pão, formamos um só Corpo, uma só alma, um só coração, em Cristo Jesus. A Eucaristia é a grande celebração da família dos filhos de Deus. É aqui que se fomenta e alimenta a nossa comunhão com Cristo e entre nós. Não nos afastemos desta Casa, desta Mesa, porque sem ela não podemos viver e crescer como cristãos.
5.Irmãos e irmãs: num tempo de tanto individualismo, de isolamento e de fuga à comunidade, a Eucaristia Dominical seja a sarça ardente, a fonte inesgotável do grande mistério do Amor de Deus. Na Eucaristia, o Pai oferece o Seu Filho como alimento; aqui, na Eucaristia, o Filho entrega-Se ao Pai por nós. Que, em cada Eucaristia, o Espírito Santo nos transforme n’Aquele que recebemos!