Homilia na Festa em honra de Nossa Senhora da Hora 2023
A cena da visitação é um belo encontro entre duas mulheres grávidas de esperança, que esperam pela sua hora. Esta cena evangélica, como sabeis, inspira a próxima Jornada Mundial da Juventude. No troço de estrada que ainda nos falta para chegar a Lisboa, gostaríamos, por isso, de meditar convosco este mistério da visitação.
1. Maria levantou-se!
Perante a novidade da situação, e depois do seu «sim» à grande surpresa de Deus, Maria não se refugia nos seus esquemas, seguranças e planos do passado. Apesar do inquietante anúncio do Anjo ter provocado um verdadeiro «terramoto» nos seus planos, a jovem de Nazaré não se deixa paralisar, porque dentro d’Ela está Jesus Cristo vivo. Num momento em que seria mais natural cuidar da sua gravidez, da segurança da sua casa, preparando o enxoval… ou esconder-se, assustada com a crise que sobre Ela se abatia, movida pelo Amor que a habita, Maria levanta-se, põe pés ao caminho; põe-se em movimento, porque tem a certeza de que os planos de Deus, são o melhor projeto possível para a sua vida. Maria, de facto, não se deixa confinar nos seus problemas.Escuta, pondera, decide e atua, levantando-se com enorme prontidão. A viagem da Galileia à Judeia constitui uma forma clara e comprometida de resposta do seu amor ao amor de Deus. Vemos aqui a figura jovem de Maria completamente projetada para fora de si mesma e não ensimesmada ou fechada sobre as suas próprias coisas e interesses. Maria torna-se assim imagem de uma Igreja jovem, de uma Igreja peregrina, em caminho, de uma Igreja em saída, para levar a Boa Nova e servir os irmãos.
2. Maria partiu apressadamente!
Maria acelera o passo e parte apressadamente, porque a graça do Espírito Santo não admite demoras! A pressa de Maria é a pressa dos pastores na noite de Natal, é a pressa de Zaqueu a descer a árvore para receber Jesus em sua casa, é a pressa do pai que sai de casa e corre ao encontro do filho pródigo, é a pressa das mulheres, de Pedro e de João na manhã de Páscoa. É enfim a pressa da salvação, de quem sente no coração a urgência do anúncio e da salvação. A pressa da jovem mulher de Nazaré é a pressa típica daqueles que receberam dons extraordinários do Senhor e não podem deixar de os partilhar, de fazer transbordar a graça imensa que experimentaram. É a boa pressa do caminho de saída de si mesmo ao encontro de Cristo, a boa pressa da salvação a abraçar, a boa pressa do Amado, que o Amor faz correr sem se cansar (cf. Ct 2,8). É a boa pressa de quem sabe colocar as necessidades do outro acima das suas. Quando os nossos passos são habitados por Deus, como os de Maria, eles conduzem-nos diretamente ao coração de cada um dos nossos irmãos e irmãs. Uma boa pressa impele-nos sempre para o Alto e para o outro! Com Maria, aprendemos a caminhar em direção às margens da vida, para vermos a realidade com os próprios olhos, para tocarmos e nos deixarmos tocar por essa realidade e arregaçarmos as mãos, prontos a fazer o que é preciso e a fazê-lo sem demora, o mais depressa possível, porque os pobres não podem esperar.
3. Há pressa no ar!
Há pressa no ar!Assim cantamos no belo Hino da Jornada Mundial da Juventude. Mas há também uma pressa má e perigosa. Pode acontecer nas relações interpessoais: na família, quando nunca ouvimos verdadeiramente os outros até ao fim nem lhes dedicamos o tempo necessário. E a mesma atitude, podemos tê-la na escola, no trabalho e noutras áreas da vida quotidiana. Ora, todas estas coisas vividas com pressa dificilmente darão fruto; há o risco de permanecerem estéreis. «Os projetos do homem diligente têm êxito, mas quem se precipita [a pressa má] cai certamente na ruína» (Prov 21, 5). Evitemos aquela agitação paralisante, que nos leva a viver superficialmente, a tomar tudo levianamente, sem empenho nem atenção, sem nos envolvermos nem concentrarmos verdadeiramente no que fazemos; fujamos daquela má pressa, quando vivemos, estudamos, trabalhamos e convivemos com os outros, sem colocarmos nisso a cabeça e menos ainda o coração.
4. Abracemos o presente
Por fim, quando Maria chega à casa de Zacarias e Isabel, sucede um encontro maravilhoso, um abraço ao presente. Só acontecem estas surpresas de Deus na nossa vida, quando vivemos uma verdadeira hospitalidade, quando colocamos no centro o hóspede, e não a nós próprios. Isso mesmo nos ensinam as mulheres grávidas que deixam gravitar toda a sua vida em função daquele presente que acolheram no seu seio. Aprendamos com elas a abraçar o presente. Este é, pois, o tempo de voltarmos a partir apressadamente para encontros concretos e não meramente virtuais, para um real acolhimento de quem é diferente de nós, como acontece entre a jovem Maria e a idosa Isabel.
5. Todos juntos em Lisboa!
Irmãos e irmãs: peço-vos que confieis à intercessão de Nossa Senhora da Hora, o bom êxito da JMJ, para que os nossos jovens se levantem por um mundo melhor e vivam a alegria do abraço fraterno, entre povos e entre gerações, o abraço da reconciliação e da paz, o abraço de uma nova fraternidade missionária! Olhai que o tempo de nos levantarmos é agora. Levantemo-nos, pois, apressadamente! E, como Maria, levemos Jesus dentro de nós, para O comunicarmos a todos.
Há pressa no ar. Vai chegar a Hora. E já chegou! Na pressa desta saída, que o amor faz urgente, Nossa Senhora da Hora nos guie e abençoe todos os nossos passos neste caminho ao encontro de quem mais precisa de conhecer a verdadeira alegria, que é Cristo vivo! Maria, eis-nos no regaço do teu abraço!