Liturgia e Homilias no XVIII Domingo Comum C 2022
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No último domingo de julho, vêm a contragosto as advertências do sábio Coelet, do apóstolo Paulo e do único Mestre, que é Jesus Cristo. Um alerta vermelho contra o risco da avareza, irmã gémea da cobiça e da soberba. Talvez estivéssemos à espera, em tempo de férias, de uma Palavra mais suave, mais deslizante, menos exigente e menos acutilante. Mas não. A Liturgia da Palavra não nos vende ilusões de verão e enche de sabedoria o nosso coração, para nos tornar ricos aos olhos de Deus. Comecemos por reconhecer o que há no nosso coração de terreno, de mundano, de mortal.

 

Homilia no XVIII Domingo Comum C 2022

1. A avareza é um dos sete pecados capitais! “É a raiz de todos os males” (1 Tm 6,10). Ela manifesta-se no apego do coração ao dinheiro, no desejo ávido de possuir e adquirir sempre novos bens (a cobiça) e na incapacidade de dar e de se dar aos outros. Mas onde está a raiz do pecado capital da avareza? Nas riquezas? Não. Elas são dons de Deus; são bens.  O problema está sobretudo na relação que cada um estabelece com as coisas que tem e com as que não tem e deseja ter: quero ter as coisas por si mesmas e só para mim mesmo? Ou desejo ter as coisas necessárias para viver e tê-las para as poder partilhar com os outros? Numa perspetiva cristã, os bens são apenas um meio para viver honestamente e para partilhar com os mais necessitados. Nada mais. O mal está quando se desejam os bens não como meios, mas como fins, a tal ponto que os que só desejam possuir… acabam por ser possuídos pelos bens que têm e pelos que ainda não têm. O mal está quando me torno dono dos bens que recebi de outrem como dom e não em posse.

2. Por ser um pecado capital, a avareza está na raiz de muitos males. Se a ideia fixa do avarento, com a acumulação dos bens, é encontrar mais segurança e mais tranquilidade para si, a verdade é que, ao aumentar os seus bens, aumenta ainda mais a sua ansiedade e a sua insegurança. Quanto mais tem, maior é o seu medo de perder o que tem. O avarento enterra a sua paz ao guardar e acumular para si o seu tesouro! Mais ainda: a avareza é um vício insaciável: “aquele que ama o dinheiro nunca se saciará do dinheiro” (Ecl 5,9). Por isso, a avareza nunca sossega: aumenta com a acumulação. É uma espécie de bulimia da alma. Quanto mais alimentos devora, mais os deseja. Quanto mais tem, mais quer. Recordo a tristeza de uma certa pessoa, já com mais de 80 anos, que, para justificar o seu apego ao dinheiro, me dizia: “eu preciso de acumular para quando for velho”.

3. A avareza é também uma doença do espírito, porque cria a ilusão de que são as coisas que dão sentido à vida! Ora «a vida de uma pessoa não depende da abundância dos bens» (Lc 12,15). Mais, a avareza gera no indivíduo o delírio da omnipotência, a ilusão de se bastar a si mesmo e, por isso, ela é irmã da soberba: possuindo os bens – pensa o a avarento – “não preciso mais de Deus, nem dos outros”! A avareza é, por isso, uma idolatria (Cl 3,5), porque o amor a Deus, autor de todos os bens, é substituído pelo amor às coisas dadas e criadas por Deus. Com os seus bens, pelos quais julga encontrar um futuro garantido, o avarento não percebe sequer que a sua vida e o seu futuro estão nas mãos de Deus: “Insensato, esta noite terás de entregar a tua alma”! 

4. Irmãos e irmãs: neste tempo de verão, que remédios tomar para curarmos esta doença da avareza? Vou prescrever apenas cinco:

 

4.1. Põe a tua confiança no Senhor, que te dá todas as coisas, e não nas coisas que o Senhor te dá. Ama a Deus em todas as coisas e ama-O acima de todas as coisas!

4.2.Contempla a lei da Criação: o sol dá luz, o fogo dá calor, as árvores dão frutos, as nuvens dão chuva, o poço dá água. É dando que se vive. Aquilo que se retém perde-se, estraga-se, corrompe-se.

4.3.Usa aquilo que recebes para que outros desfrutem do mesmo. Cada um é o que dá. Cada um só tem o que dá. Dá com alegria, sem esperares nada em troca.

4.4.Reserva, na tua vida, um espaço de lazer e de repouso. Valoriza ao tempo livre, em que não fazes nada de produtivo ou de rentável, para dizeres a ti mesmo que o tempo, tal como a vida, não te pertencem e valem mais que todo o dinheiro.

4.5.Nunca tomes conta das coisas nem desfrutes delas, sem primeiro agradeceres o que recebeste, sem primeiro fazeres uma oração de bênção, como por exemplo, à refeição. Bendiz, não as coisas em si, mas o Senhor que tas deu!

Reza para agradeceres e isso te fará usar as coisas como um dom que recebeste, para partilhares com os outros e não como posse para mero usufruto individual.

 

Numa palavra, não procures os bens para estares bem na vida. Procura o maior bem, para estares de bem com a vida. E, para isso, não há dinheiro que o pague!

 

 

 


 

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