Homilia no XII Domingo Comum C 2022
1. Há uma pergunta fundamental de Jesus. E os seus interlocutores são variados: a multidão, os discípulos e, dentro destes, os doze apóstolos, de que se faz porta-voz o apóstolo Pedro, na sua palavra firme e sólida. A pergunta é sobre Jesus: Que dizem d’Ele as multidões? Que dizem d’Ele os seus discípulos mais próximos, os Apóstolos? E certamente a pergunta estende-se a cada discípulo, que pretenda seguir Jesus: Que dizes de tu de Jesus? Quem é Jesus para Ti? Um líder espiritual interessante? Um pensador genial? Um homem formidável? Um exemplo de vida? Ou o Messias, o Filho de Deus feito Homem, o Único Salvador do Mundo? A resposta não está num livro ou catecismo, nem à distância de um clique no Google.
2. Como será possível chegar à resposta da fé verdadeira? Vejamos, a partir do Evangelho, cinco regras. São as mesmas que devemos pôr em prática para saber o que o Espírito Santo diz hoje à Igreja, neste esforço de caminharmos juntos:
2.1. Em primeiro lugar, é no contexto da oração e da adoração, que Jesus nos faz a pergunta. E, por isso, nenhuma resposta pode dispensar a escuta da Palavra de Deus, o clima de oração. Não nos reunimos, em Igreja, em grupo sinodal, para firmar opiniões, para impor o pensamento de uma maioria ou de uma minoria, para dizer qualquer palavra de simpatia. Se queremos alcançar a verdadeira fé, temos de nos pôr à escuta de Deus, da Sua Palavra. Eis a primeira regra: rezar.
2.2. Em segundo lugar, esta escuta de Deus há de predispor-nos para a escuta da voz da multidão, da voz dos irmãos, da voz de todos os batizados. O que diz respeito a todos deve ser tratado por todos. Não posso sozinho conhecer Cristo, nem descobrir o caminho da Igreja. Ninguém chega à fé plena pelo seu próprio pé, mas a pé juntos, escutando, acolhendo e recolhendo dentro de si o conhecimento e a experiência partilhada de todos os companheiros na fé. Nenhum de nós, por si só, tem a totalidade da fé. Temos apenas a fé, como um fragmento do Símbolo. Só unindo o nosso fragmento ao dos outros, é que podemos professar toda a fé da Igreja. Graças ao Espírito Santo, a totalidade dos fiéis não pode enganar-se na fé.
2.3. Em terceiro lugar, Jesus volta-se para o núcleo mais estrito dos seus discípulos, para o Grupo dos Doze Apóstolos. “Graças ao dom do Espírito do Senhor ressuscitado, eles devem salvaguardar o lugar de Jesus, sem o substituir: não para colocar filtros à sua presença, mas para facilitar o seu encontro” (Doc. Preparatório do Sínodo). E por isso, os Doze são sujeitos a um exame pessoal: “E vós quem dizeis que Eu sou?”. Este «vós» dirigido aos Doze é a ‘voz’ do Colégio Apostólico, a voz de alguns. Hoje os seus sucessores são os bispos que formam, com o Papa, o Colégio Episcopal. Devem ser eles os guardiães, não os donos do tesouro da fé da Igreja. Sem esta comunhão com a Igreja Apostólica não podemos caminhar juntos na fé.
2.4. Em quarto lugar, é Pedro, é a voz de um só, que toma a palavra, que diz a fé de todos, de toda a Igreja assistida pelo Espírito Santo. Cabe a Pedro, este ministério da síntese da fé e da unidade do Povo de Deus. Hoje o sucessor de Pedro é Francisco. Não tenhamos medo do processo sinodal. O Papa é o porta-voz da fé da multidão, dos discípulos, dos Doze, da Igreja de Cristo.
2.5.Por último, há uma regra para fazermos o discernimento do caminho à luz do Senhor, para termos sempre a certeza de estarmos a caminhar na verdade: é a escola e a escolha da cruz: “Se alguém quiser seguir-Me, tome a sua Cruz” (Lc 9,23). Dizia São Gregório Magno, na sua Regra Pastoral: “Para chegar à verdade, escolher o mais difícil” (Pro veritate adversa diligere). Respostas rápidas e fáceis, na moda, e tipo «pronto-a-vestir», sem dor, nem suor e lágrimas, são apenas atalhos. Não serão certamente o Caminho do Senhor.
3. Nestes tempos, que são mais de perguntas do que de respostas, deixemo-nos interrogar, de mãos postas, sobre aquilo que Deus nos quer dizer e sobre a direção para onde Ele nos quer levar. Em Paz com todos, prossigamos juntos por um Caminho novo!