HOMILIA NO V DOMINGO DA PÁSCOA C | DIA INTERNACIONAL DA FAMÍLIA 2022
1. “Como Eu vos amei, amai-vos uns aos outros” (Jo 13,35). Neste Dia Internacional da Família (15 de maio) fixemo-nos sobretudo neste testamento vital de Jesus e vital para a família, expresso no mandamento novo do amor. E perguntemo-nos, desde já: O que é realmente novo neste amor? Não se trata aqui de amar ao nosso jeito, mas de amar como Jesus nos ama. Não se trata de amar quando e como e a quem nos apetece, mas de amar, em Jesus, todos aqueles que Jesus ama e como ele os ama. Não se trata de amar, em parte e por um certo tempo, mas de amar, de corpo e alma, tal como Jesus, e até ao fim. Jesus desafia os seus discípulos a amar como Ele nos amou. Já não se trata sequer de amar o próximo como a si mesmo. Porque então a medida do amor seria a do nosso eu. Não. Aqui a medida do amor é Jesus. Aqui a medida do amor é o amor sem medida. Aqui o amor é puro, radical, incondicional, assimétrico, sem retorno. Aqui o amor vai até ao fim. Trata-se, pois, de um amor concreto, atento, próximo, um amor capaz de se dar e de perdoar, um amor capaz de suportar as tribulações, de superar as dificuldades, o tédio e o cansaço. Trata-se de um amor, que não é instantâneo nem momentâneo. É um amor que dura e perdura, que permanece firme e não desaparece na trova do vento que passa. Este amor, obviamente, não é um mero sentimento. Este amor é vontade, é um mandamento. É uma ordem com que o rosto indigente do outro me interpela, a partir de dentro e a que devo responder e corresponder.
2. Este amor é mesmo possível? Será, então, que não nos devemos resignar a um amor seletivo, a prazo, a meio gás, em part-time? As carências afetivas ou as desilusões sentimentais podem levar-nos ao extremo de pensar que amar assim é um sonho irrealizável! Voltemos à segunda pergunta: este amor é possível? Eu diria sim e não. Não, este amor não é possível, se contarmos apenas com as nossas próprias forças e recursos, com a nossa boa vontade e os nossos sentimentos voláteis. Sem Jesus, não é possível viver o que Jesus nos propõe. Sem Ele, nada poderemos fazer (Jo 15,5). Mas, eu diria, também e com confiança: sim, este amor é possível, se nos deixarmos amar por Jesus; se deixarmos que este amor de Jesus nos alcance; se deixarmos que este amor de Jesus atravesse e renove o nosso coração, dilatando-o, para um amor sem mãos a medir; este amor é possível se deixarmos que Jesus entre no nosso coração e o torne capaz deste amor desmedido, desinteressado. Por isso, precisamos de invocar constantemente o Espírito Santo, que nos dá um coração novo. É esse amor divino, derramado em nossos corações, que nos habilita e capacita para amar como Jesus nos ama, para amar os que Jesus ama, para amar sempre e eternamente.
3. A meio de maio, olhemos para a figura de Maria, a Mãe de Jesus. Também Ela se interrogava como será isto possível (Lc 1,34). E Maria mostrou-nos que a Deus nada é impossível (Lc 1,37), ou dito de outro modo, que, pela graça do amor de Deus em nós e por nós, é possível alcançar o Seu amor. Maria é, por isso, a Mãe do amor formoso. Ela deixou-Se envolver de tal modo pelo amor de Deus, que Jesus encheu e preencheu todo o seu coração e toda a Sua vida. Ela tornou-Se assim a morada de Deus com os homens (Ap 21,3).
Ela que intercedeu pelos esposos recém-casados, nas bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11), inspire e interceda por todos os pais e casais, pelos irmãos e irmãs, pelos filhos e netos, para que rebrilhe sempre com renovado ardor a alegria do amor nas nossas famílias. A alegria do amor em família é o júbilo da Igreja (AL 1) e a esperança já visível de um mundo novo: um novo céu e uma nova terra, em que o amor de Deus impera e nos alcança.