Liturgia e Homilias no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor C 2022
Destaque

Irmãos caríssimos: desde o início da Quaresma que nos propusemos viver estes 40 dias como um tempo favorável para a escuta, para tomar a palavra, para caminhar juntos e por um caminho novo. Logo no início do caminho, quando se esperava uma primavera de libertação da pandemia, fomos surpreendidos pela guerra na Ucrânia e as nossas orações e gestos da Quaresma intensificaram a nossa comunhão com os irmãos ucranianos e russos. Ao longo deste caminho, mas sobretudo nesta Semana Santa, fixaremos o nosso olhar na Paz de Cristo, que na Cruz, responde à violência brutal dos homens, com a mansidão do coração Hoje estamos aqui reunidos, para darmos início, em união com toda a Igreja, à celebração do mistério pascal da Paixão, morte e ressurreição do Senhor. Foi para realizar este mistério que Jesus Cristo entrou na Sua cidade de Jerusalém, cidade da paz. Por isso, recordando com fé e devoção esta entrada triunfal na cidade santa, acompanharemos o Senhor de modo que, participando agora da Sua Cruz, mereçamos um dia ter parte na Sua ressurreição. Voltemos agora o olhar para a Cruz, que abre a procissão de entrada. Agitemos os nossos ramos e acolhamos os ministros da celebração, para que, com eles, caminhemos em paz, entoando a Cristo, nosso Rei e nosso Mestre, hinos e cânticos de louvor.

1.ª Homilia | Bênção dos Ramos C 2022

 

1. Jesus entra na cidade santa de Jerusalém, a cidade da paz, montado num jumentinho e não em cavalos de guerra. Entra sem tropas, para o ataque ou para a defesa. É a entrada do Rei, na sua grande Cidade (cf. Sl 45,5), a entrada de um Rei pacífico e pacificador, de um Messias, manso e humilde de coração, conforme o anunciara há muito o profeta Zacarias (cf. Zc 9,9). Ele vem em nome do Senhor. A multidão que O acompanha também não leva armas, apenas estende capas no caminho, como outrora o fizeram a um dos seus reis, para o reconhecerem como o Ungido do Senhor (cf. 2 Rs 9,13). A mensagem destas duas imagens é muito simples: o caminho para a paz é o caminho da não violência, da mansidão, do perdão. A Paz que Deus dá é a Paz amada e não a Paz armada.

2. Mas há um pormenor na aclamação dos discípulos. O seu grito de combate é este: “Paz no Céu e glória nas alturas” (Lc 19,38). Nós conhecíamo-lo de outra forma: “Glória a Deus e Paz na terra aos homens” (Lc 2,14). Aqui, aclama-se a “Paz no Céu”, isto é, a Paz que vem do Céu, como quem reconhece que a Paz é dom de Deus, vem do alto, é uma graça, uma qualidade celeste.

3. E, por isso, para alcançar a Paz é preciso que elevemos os olhares e os corações para o alto, para o Céu, para Deus, para o Deus da Paz. Só é possível tornarmo-nos irmãos e darmos as mãos se, ao mesmo tempo, olharmos juntos para o Céu: então descobriremos que estamos todos debaixo do mesmo teto celestial, somos todos habitantes da mesma Terra, nossa Casa comum, somos todos filhos de um Deus único, o Deus de Paz, no qual nos reconheceremos irmãos. Então, se quisermos salvaguardar esta fraternidade, que é o fundamento sólido da Paz, jamais poderemos perder de vista o Céu. E disto todos precisamos, porque não nos bastamos a nós próprios. Só por nós, não seremos capazes construir a cidade da Paz. O dom da Paz está reservado no Céu. Esta Paz é Jesus, Rei manso e humilde de coração, que no-la dá, mas não como o mundo no-la dá.

4. Que estes dias da Semana Santa de 2022 sejam dias de intensa Oração pela Paz: pela Paz na Ucrânia e pela paz no mundo, pela paz que começa no coração e se constrói com as nossas mãos, mãos erguidas ao alto em oração, e mãos dadas aos irmãos. Disse há dias Andrii Yurash, embaixador ucraniano no Vaticano: “acredito mesmo no poder da oração, e que se o mundo inteiro rezar, podemos esperar coisas inesperadas e imprevisíveis que não podem ser concebidas racionalmente. Através da oração de milhares de milhões, acredito que podemos alcançar algo histórico”. A Paz é um dom que devemos pedir com insistência.

5. Que a aclamação e a agitação dos nossos ramos de oliveira sinalizem, como o ramo no bico da pomba de Noé (Gn 8,11), que o tempo de paz só chegará se cada um se “converter do seu mau caminho e da violência, que há nas suas mãos” (Jn 3,8), se cada um fizer a mudança que quer ver no seu mundo. Que este grito de “Hossana”, seja um clamor ao Senhor, pela sua salvação. E para que venha depressa a Paz!

 

2.ª Homilia | Domingo de Ramos na Paixão do Senhor C 2022

 

1.Escutámos, como discípulos, esta longa narrativa da Paixão. E passam, por certo e pela nossa mente, em contraluz, as imagens negras da guerra na Ucrânia, que todos os dias nos ferem e revoltam. Por isso, eu destacaria desta narrativa apenas uma palavra de ordem, dita e redita por Jesus, sempre que os discípulos lhe sugerem a paz armada. A palavra de ordem de Jesus é esta: ‘Basta’. Recordemos esses dois momentos: o primeiro é quando Jesus preparava os discípulos para o combate iminente. Estes disseram a Jesus: “«Senhor, estão aqui duas espadas». Mas Jesus respondeu-lhes: «Basta»” (Lc 22,38); o segundo momento vem logo depois: ao verem que Jesus ia ser preso, “os que estavam com ele, perguntaram-lhe: «Senhor, vamos feri-los à espada?» E um deles feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta! Deixai-os»” (Lc 22,49-51).

2.‘Basta’. Esta é resposta inequívoca de Jesus a toda a violência. Aquele ‘basta’,condoído e forte de Jesus,atravessa os séculos e chega até nós. É um mandamento que não podemos esquivar: basta de espadas, de armas, de violência, de guerra. A vida e o bem não se defendem com a espada, pois“todos quantos se servirem da espada morrerão à espada” (Mt 26,52-53). Este ‘basta’ é uma palavra dirigida àqueles que acreditam na violência, a promovem ou a justificam. Gostaria, por isso, de vos recordar o que nos disse São Jerónimo: «quem diz que acredita em Cristo, comporte-se como Ele se comportou. Cristo, o Filho de Deus não veio para bater, mas para que lhe batessem; não deu bofetadas: aceitou-as; não crucificou ninguém, mas foi crucificado; não matou, mas Ele próprio padeceu. Aquele que se deixa bater, imita Cristo.  Aquele que bate, imita o Anticristo”.

3.Como poderemos ser cristãos de espada em riste? Como poderemos ser cristãos fabricando as espadas com que outros se matarão? Como poderemos ser cristãos alimentando o mesmo ódio, praticando a mesma maldade, que denunciamos nos outros? Não alimentemos, por nada, o ódio a Putim, nem o ódio aos nossos irmãos russos. Dizia Etty Hillesum, uma judia torturada num campo de concentração nazi: “Devia bastar que houvesse (entre os alemães) um só homem digno desse nome, para se acreditar na Humanidade (…). O ódio indiferenciado é a pior coisa que existe. É uma doença da alma”. E, numa carta a um amigo seu, que lhe perguntara: “mas o que é que acontece às pessoas para quererem destruir os outros?” ela respondeu: “lembra-te que tu também és uma dessas pessoas. A maldade dos outros também está dentro de nós. Não acredito que se possa melhorar alguma coisa no mundo se não começarmos por nos melhorar a nós. Essa parece-me ser a única lição desta guerra”. Da segunda guerra, da guerra na Ucrânia e de todas as guerras.

4.‘Basta’! «Nunca mais a guerra!». Esta é a súplica de todos nós, dos homens e mulheres de boa vontade. É o sonho de todos os artesãos da paz, cientes de que «toda a guerra deixa o mundo pior do que o encontrou» (FT, 261).Não nos podemos resignar a aceitar a guerra, como companheira quotidiana da Humanidade. Devemos dizer ‘basta’ à guerra, nos nossos corações, contaminados pelo vírus de Caim, que mata o seu irmão e até se descarta dele. Devemos dizer ‘basta à guerra nas nossas famílias, onde nem sempre a voz do sangue faz correr rios de paz. Devemos dizer ‘basta’ à guerra entre todos povos e nações, que disputam para si parte de um mundo que é de todos. A Paz é um bem comum da Humanidade!

5. Digamos, do mais fundo do nosso coração a todas as formas de violência: ‘Basta’. Nunca mais a guerra! E não deixemos de rezar todos os dias, a sós, em família e e, comunidade:Dai-nos, Senhor, a Vossa paz, assim na Terra como no Céu”.

 

 

 

 

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