Liturgia e Homilias no V Domingo Comum C 2022
Destaque

Três grandes pecadores, à cabeça da missão: Isaías, o homem de lábios impuros, a quem Deus chama e envia; Paulo, o menor dos apóstolos por ter sido perseguidor de cristãos, que a graça de Deus transforma em arauto do Evangelho; e Pedro, o pecador convertido por Jesus em pescador de homens. “Jesus faz milagres também com o nosso pecado, com aquilo que somos, com o nosso nada, com a nossa miséria” (Papa Francisco, O nome de Deus é misericórdia, 89-90). Diante do Senhor, reconheçamos humildemente, como Isaías, como Paulo, como Pedro, a nossa pequenez e o nosso pecado, para que o Senhor nos tome, transforme e envie em missão.

Homilia no V Domingo do Tempo Comum C 2022

 

1. Barcos estacionados e redes vazias! Os pescadores do mar da Galileia estavam a lavar as redes do seu desconcerto. E Jesus, apesar da multidão aglomerada à sua volta, dá-se conta do fracasso e do desânimo entre os pobres pescadores. Então, Jesus sobe para o barco de Simão e pede-lhe distanciamento. Às vezes vê-se melhor ao longe e é preciso afastar-se um pouco da terra e das coisas para ver mais além-mar, mais além do tumulto do mar. Terminada a pregação, Jesus provoca Simão e os seus companheiros: “Faz-te ao largo e lançai as redes”. Simão deve ter pensado, por uns momentos: “Este «tipo» vem da carpintaria e não percebe nada da pesca. Se não pescámos nada durante a noite, muito menos pescaremos durante o dia?! E, se eu me lançar ao mar e não pescarmos nada, correrei o risco de ficarem todos a rir-se de mim, por ter ido na conversa deste Jesus, que entusiasma multidões”. Mas, num outro movimento da alma, num outro impulso do coração, com uma intuição de fé, Simão sabe que não tem nada a perder. Deixa ressoar o apelo de Jesus, resolve fiar-se e confiar-Se à Sua Palavra. Deixa para trás cálculos e medos e arrisca tudo, arrastando com ele os mais incrédulos numa nova pesca. E, a verdade, é que, contra todas as expectativas, dito e feito: “apanharam tão grande quantidade de peixes, que as redes começavam a romper-se”.

 

2. Diante de tudo isto, agora é Simão Pedro que pede ao Senhor: «afasta-te de mim que sou um homem pecador». Mas Jesus dissipa todos os temores: “Não temas, daqui adiante serás pescador de homens”. Como quem diz, ontem, hoje e sempre: “não, Isaías, não é a tua impureza que me impede de falar por meio de Ti. Não, Paulo, não é a tua fraqueza, que me impede de precisar de ti. Não, Pedro, não é o teu pecado que me afasta de ti. O que Te poderia afastar de Mim – dirá Jesus a Isaías, a Paulo, a Pedro, a Tiago e a João e a titambém – seria a tua presunção, a tua teimosia em seguires as tuas próprias ideias, em contares apenas com as tuas poucas forças. Mas, uma vez, que tu – Rita, Manuel, António, Maria – pões em Mim a tua confiança, uma vez que tu te deixaste pescar por Mim, também tu mesmo te tornarás pescador de outros”. Assim o compreendemos: o maior milagre feito por Jesus para Simão e os demais pescadores desiludidos e cansados, não foi tanto a rede cheia de peixes quanto o facto de os ter ajudado a não ser vítimas da desilusão e do desencorajamento, diante das derrotas. Jesus restaurou a sua confiança, para que se tornassem anunciadores e testemunhas da sua Palavra e do reino de Deus. E a resposta dos discípulos foi imediata e total: «Depois de terem reconduzido os barcos para terra, deixaram tudo e seguiram-n’O».

 

3. Irmãos e irmãs: as nossas vidas, ou as nossas igrejas vazias, quase vazias ou mais ou menos vazias, sacudidas pela tempestade desta pandemia, deixam-nos, muitas vezes, a sensação de fracasso e assim a tentação de encostar os barcos e lavar as redes nas lágrimas carpidas dos nossos lamentos. Mas é precisamente aí, nesse vazio, nesse fracasso, que o Senhor nos dá a oportunidade de encher e preencher de graça a nossa vida. Podemos ficar surpreendidos e hesitantes diante da chamada que o Mestre divino nos dirige, e sentirmo-nos tentados a rejeitá-la, por causa da nossa inaptidão. Jesus pede-nos apenas que o recebamos no barco da nossa vida, para voltar a partir com Ele e sulcar um novo mar, cheio de surpresas.

 

4. Para todos nós, que temos de recomeçar, de reinventar, de retomar a vida, o trabalho, o negócio, a missão, peçamos ao Senhor a confiança humilde de Isaías, de Paulo, de Pedro, Tiago e João, para fazermos frente a situações novas, que podem até expor-nos ao ridículo ou à crítica. Peçamos ao Senhor a graça de escolher o impossível, de arriscar fazer algo que, a não correr bem, pode queimar-nos à vista dos outros.A Palavra de Deus reavive em todos nós a coragem, a confiança e o impulso, para lançar de novo as redes, no anúncio e no testemunho do Evangelho. Os insucessos e as dificuldades não nos induzam ao desânimo: nós temos o dever de lançar as redes com fé. E o Senhor fará o resto!

 

 

 

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