Liturgia e Homilias no III Domingo Comum C 2022 | Domingo da Palavra de Deus
Destaque

Celebramos hoje, de modo festivo, o Domingo da Palavra. No dia 30 de setembro de 2019, memória litúrgica de São Jerónimo, o Papa Francisco fixou esta data para o Domingo da Palavra: precisamente o dia em que a Igreja celebra o III Domingo do Tempo Comum (Motu proprio Aperuit illis, n.º 3).  O Papa já tinha esclarecido o objetivo deste Domingo da Palavra: “Seria conveniente que cada comunidade pudesse, num domingo do Ano Litúrgico, renovar o compromisso em prol da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura: um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu povo” (Papa Francisco, Bula Misericordia et Misera, n.º 7). Vamos, por isso, nesta celebração, comprometer a nossa vida com esta Palavra e, à luz desta Palavra, rever toda a nossa vida.

Homilia | em jeito de lectio divina

 

A Homilia pode ser feita em jeito de lectio divina, seguindo, de modo simples, pelo menos, os 4 passos: leitura, meditação, oração, ação.

Para tal, devem convidar-se os presentes a abrir a Bíblia, na passagem do Evangelho que acabaram de ouvir.

É interessante manter uma conversação familiar com a assembleia, fazendo perguntas, de forma orientada,

para ajudar os fiéis a descobrir as riquezas desta Palavra.

Ficam aqui alguns tópicos, para os 4 passos.

 

1.        Leitura: Convido-vos, irmãos e irmãs, a abrirdes a vossa Bíblia. Vamos ao Novo Testamento. Procuremos o terceiro livro do Novo Testamento, o Evangelho segundo São Lucas. Vamos ao capítulo 1.º. Mas digo-vos já que o Evangelho deste Domingo é uma combinação de dois excertos do 1.º e 4.º capítulos.

1.1. No início, temos os primeiros quatro versículos do 1.º capítulo (Lc 1,1-4), com que São Lucas introduz o seu Evangelho. Ele mostra-nos como foi rigoroso na busca das suas fontes, para nos dar um conhecimento seguro sobre Jesus. Não temos melhor retrato de Jesus do que aquele que nos dão os 4 Evangelhos. São Lucas é o evangelista que nos acompanhará, aos domingos, durante todos este ano litúrgico. De alguma maneira, o rosto de Jesus, evidenciado no seu Evangelho, é já delineado nas palavras que hoje o ouvimos proclamar: o rosto de Cristo misericordioso, amigo dos pobres e pecadores.

1.2. Depois, damos um salto, para o capítulo 4.º do Evangelho, versículos 14 a 21. São Lucas situa-nos no espaço e no tempo: uma vez batizado, e passados os 40 dias no deserto, Jesus é impelido pelo Espírito Santo e volta a Nazaré, onde se tinha criado. Jesus entra na sinagoga, reúne-se em comunidade, como era seu costume. Isto acontece a um sábado, o dia do Senhor, para os judeus. Jesus levanta-se, abre o livro…lê um texto do Profeta Isaías, no contexto de uma Liturgia da Palavra. Vede: Jesus lê um texto de Isaías (Is 61,1-2), mas curiosamente acrescenta-lhe um versículo de um capítulo anterior (Is 58,6: para incluir o tema da libertação) e omite um versículo (Is 61,2, para excluir a palavra “dia da vingança”). O texto final é toda uma Palavra de alegria e de libertação, uma Palavra que ilumina e cura, uma Palavra que encoraja e consola.

2. Meditação: Jesus faz o que nós devemos fazer depois da leitura. Fecha o livro e senta-se, para meditar, para relacionar aquela Palavra escutada com Ele, com a Sua vida, com a Sua missão, no Seu «hoje» e no Seu «aqui». E Jesus sabe que essa Palavra tem tudo a ver com Ele. Ele próprio é aquela Palavra que anuncia. Ele é a Palavra em carne viva, que se pode ouvir e ver. A Palavra em Jesus não é apenas uma Palavra que se ouve, mas é Palavra que se vê («estavam fixos em Jesus os olhos»). Jesus é o Verbo feito Carne. Ainda hoje as pessoas precisam mais de ler ao ver estampada a Palavra na nossa Vida do que ouvir da nossa boca o anúncio dessa Palavra. Jesus, ao citar Isaías e ao afirmar «cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura» ajuda-nos a perceber duas coisas importantes: «o Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo está patente no Novo» (Santo Agostinho). E mais importante ainda: “desconhecer as Escrituras é ignorar Cristo” (São Jerónimo).

3. Oração: As palavras de Jesus ressoam hoje aos nossos ouvidos quase como uma oração, um hino; parecem as palavras do Magnificat de Maria. As pessoas que as escutavam reagiam dando testemunho a favor de Jesus e admiravam-se com as suas palavras cheias de graça que saíam da sua boca. Esta admiração, esta reação à Palavra, é oração, é louvor, é resposta à Palavra escutada.

4. Ação: Mas a Palavra é para ser vivida. Jesus faz desta Palavra o seu «Manifesto». Também nós somos chamados a ser evangelizadores com espírito e vida, que anunciam não apenas com palavras belas, mas com obras de amor, de libertação, de cura, de serviço aos mais pobres.

5. À luz desta Palavra, perguntemo-nos hoje:

5.1. Valorizamos o nosso encontro, na igreja paroquial, em cada domingo, dia do Senhor, para escutarmos juntos a Palavra de Deus? Procuramos, ao menos, gravar no coração uma imagem, uma mensagem, um sentimento, um propósito, para o viver durante a semana?

5.2. Temos verdadeiro afeto pela Palavra de Deus? Será que alguma vez nos emocionamos, choramos ou alegramo-nos, ao escutar a Palavra de Deus? Temos o ouvido afinado para a escuta desta Palavra? Passamos «bola» à Palavra de Deus ou passamos ao lado d’Ela?

5.3. A escuta da Palavra, na Eucaristia, na Catequese, em família, «entra por um ouvido e sai pelo outro» ou tem consequências práticas na transformação da nossa vida, da nossa família e do mundo à nossa volta?

6. Convite à contemplação: Fiquemos agora em silêncio. Repassemos os olhos, os ouvidos, a memória, o coração, por esta Palavra. Do princípio ao fim, deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, como Jesus, para que esta Palavra nos toque, transforme e alegre a nossa vida. Poderemos sempre começar, retomar e concluir a leitura orante da Bíblia com oração de invocação do Espírito Santo, que nos acompanha neste tempo do Sínodo, porque o objetivo é mesmo este de nos pôr todos à escuta: “quem tem ouvidos, oiça o que o Espírito Santo diz à Igreja” (Ap 2,7.11.17.29;3,6.13.22), a todos e a cada um de nós.

 

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