Liturgia e Homilias na Solenidade do Natal do Senhor 2021
Destaque

Pés ao caminho. Juntos pelo Natal. Eis o lema da nossa dinâmica pastoral, que nos ensina a celebrar e viver hoje, de modo sinodal, este grande acontecimento humano/divino do Natal. A quem aqui chegou hoje, porventura por caminhos diversos, é preciso dizer com toda a clareza o que é o Natal em modo sinodal. O Natal, o grande mistério do amor descendente e condescendente, pelo qual Deus Se fez Homem e Se aproximou de nós, dá-nos as coordenadas da nossa vida: se Ele veio para viver no meio de nós e caminhar connosco, é para que nós aprendamos a caminhar juntos, entre nós e com Ele. Desde o Natal do Senhor, é juntos que caminhamos, na certeza de que Ele é Deus connosco e nos faz irmãos. Este é realmente o mistério e a graça desta noite e deste dia: em Cristo, Deus e o Homem caminham, encontram-se e manifestam-se juntos pelo Natal. Nós, que pusemos pés ao caminho, juntos pelo Natal, tenhamos agora a coragem de descalçar os sapatos, aos pés do Presépio, como sinal de espanto e de maravilhamento, de humildade e de reconhecimento do rosto de Deus no pobrezinho Menino de Belém.

Homilia na Missa da Solenidade do Natal do Senhor 2021

1. Pés ao caminho. Juntos pelo Natal.E o que é o Natal de Jesus senão a notícia inaudita do inesperado acontecimento pelo qual Deus Se fez Homem, para Se tornar irmão e companheiro desta nossa humanidade peregrina? Eis-nos agora e sempre juntos, diante do Presépio: o Homem diante de Deus e Deus diante do Homem. Eis-nos diante de José, que vemos com bolhas nos pés, apoiado no cajado, cansado da caminhada silenciosa, sem palavras para narrar o sonho divino que se cumpre. Eis-nos diante de Maria, a Mãe do divino infante, ainda a aprender a embalar o seu Menino, envolto em panos e deitado na manjedoura. E imaginemos ainda os pastores, com os seus pés fustigados pelo mato, a chegarem ao Presépio e a descalçarem as sandálias à porta de entrada do curral, porque doravante – eles sentem-no e pressentem-no – entram em terra sagrada!

2. Imaginemos, nesta noite, neste dia de Natal, sobretudo, os pés descalços dos pastores no Presépio e, nesse gesto humilde, vem-nos à memória a tradição antiga de colocar junto do Presépio os sapat0s, na ansiosa expectativa de receber o que o Menino Jesus tinha para nos oferecer. Os sapatos tornavam-se uma espécie de cofre aberto para o tesouro dos nossos sonhos. Mas perguntemo-nos, sinceramente: para guardar os presentes do Menino Jesus não seria mais prático um saco ou uma caixa, em vez de um pequeno par de sapatos? Talvez o segredo seja mesmo este: para receber o maior presente de Natal, esse mistério imenso de Deus feito Homem, é preciso descalçar os sapatos, como Moisés descalçara as sandálias diante do mistério imenso de Deus, simbolizado naquela sarça que ardia e não se consumia (Ex 3,5). Neste mesmo fogo, havia de ser lançado, no dizer do profeta Isaías, “todo o calçado ruidoso da guerra, toda a veste manchada de sangue” (Is 9,4), para que, sem botas de guerra, sem chancas nem trancas à porta, possamos compreender “como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a Boa nova, que proclama a salvação e nos diz: O teu Deus é Rei” (Is 52,7)!

3. Irmãos e irmãs: o desafio destes dias, para um Natal em modo sinodal, é este de descalçar os sapatos, para entrarmos humildes e despojados no Presépio, como quem se aproxima delicadamente e em pezinhos de lã, como quem sabe que, neste Deus feito Menino, Se oferece o rosto de um mistério inefável, indizível, inesgotável, inexcedível na sua beleza, riqueza e compreensão. Deixa então que agora te pergunte: O Presépio em tua casa é uma peça de decoração ou um espaço de oração? Já paraste e rezaste alguma vez diante do Presépio? Hoje é o dia: descalça os teus sapatos, ora e adora-O!

4. Mas, ao mesmo tempo, neste Deus feito Menino, aprendemos que cada pessoa, que vem a este mundo, mesmo na sua maior indigência, fragilidade e dependência, é sempre a explicação e a replicação deste mistério do Natal. Por isso, diante do outro, do teu filho ou filha, do teu pai ou mãe, do teu avô ou avó, do teu amigo ou amiga, do teu conhecido ou desconhecido, do teu aluno ou do teu paciente, descalça os sapatos, porque estás a entrar em terra sagrada. “Descalça os sapatos” quer dizer: Abeira-te com delicadeza e respeito, detém os teus passos, inclina-te e reclina-te, deixa-te maravilhar, surpreender e interpelar, interrogar e comover diante daquele rosto único, daquela história singular de vida, que deves ler e iluminar à luz do Natal que hoje celebras. Descalçar os sapatos quer dizer ainda: aprende a estar face a face, a parar e a reparar, a dar as mãos e a acompanhar, sempre com um olhar respeitoso e cheio de compaixão, com um ritmo de proximidade e de ternura, que cure, liberte e facilite o encontro entre ti e o outro e o encontro de ambos com o Senhor Jesus(cf. EG 169).

5. Querido irmão, querida irmã: olha que descalço também se caminha (Pe. João Aguiar Campos), seja por dentro do imenso mistério do Natal, seja pela terra sagrada desta humanidade, cujo rosto concreto Deus coloca diante de ti em cada pessoa que te dá como presente! Este é realmente o mistério e a graça desta noite e deste dia: Deus e o Homem caminham, encontram-se e manifestam-se juntos pelo Natal! Por isso, ninguém mais fique para trás ou sozinho. Feliz Natal e pés ao caminho!

 

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